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As correntes marítimas são movimentações das águas dos mares e oceanos com características comuns em termos de composição e temperatura. A existência delas, além de ser fundamental para a existência de inúmeras espécies e, consequentemente, para os ecossistemas, também é importante para a determinação dos climas e a distribuição do calor pelo planeta.
Em razão da existência do efeito coriólis – uma pseudoforça causada pela inércia sobre corpos que se encontram em rotação, como a Terra –, a movimentação das correntes marítimas ocorre em formato circular. No entanto, por causa desse mesmo efeito, a direção acontece em sentidos diferentes conforme o hemisfério: no norte, elas movimentam-se no sentido horário e, no sul, no sentido anti-horário.
Para se ter uma ideia geral de como se deslocam as correntes marítimas, podemos observar o mapa esquemático a seguir:
Mapa esquemático com as principais correntes marítimas de larga escala no planeta
Essa configuração apresentada pelo mapa é importante para definir uma parte do equilíbrio climático do planeta. As condições naturais dessas correntes contribuem para definir a composição das massas de ar em ambientes próximos, bem como as condições meteorológicas das regiões de destino dessas massas.
Sabemos que o clima do planeta é basicamente regulado pela atividade solar, de modo que a influência das correntes marítimas sobre o clima é apenas uma derivação dessa configuração. Nesse sentido, os oceanos recebem o calor da radiação solar – o que ocorre em intensidades diferentes conforme as latitudes – e distribuem esse calor à medida que suas águas se movimentam. Contudo, é errôneo pensar que essa distribuição é total e compensa as diferenças térmicas entre as diferentes partes do globo.
A temperatura das correntes marítimas é relevante a ponto de ser utilizada para classificá-las. Assim sendo, esse fator divide as correntes em frias e quentes. Para entender essa divisão, é preciso ter em mente que, em termos de radiação e temperatura, as zonas equatoriais (baixas latitudes) são sempre mais quentes do que as áreas polares e extratropicais (elevadas latitudes).
As correntes frias são aquelas que surgem das áreas polares, onde a radiação solar incide de forma menos intensa ao longo do ano e, portanto, gera temperaturas menores. Por serem mais frias, essas correntes são mais densas e circulam em profundidades maiores, além de movimentarem-se mais lentamente em direção ao Equador.
As baixas temperaturas das correntes frias fazem com que suas águas evaporem-se em menor quantidade e, com isso, gerem menos umidade para o ambiente ao seu redor. Por conta dessa configuração, as áreas continentais que se encontram próximas a essas correntes não recebem massas de ar úmidas, o que proporciona a existência de climas mais áridos. Um exemplo é a ação da Corrente de Humboldt no Oceano Pacífico sobre a porção oeste da América do Sul que é a responsável pela existência do deserto do Atacama, no Chile.
As correntes quentes, por outro lado, surgem nas áreas equatoriais, onde a radiação solar incide de forma mais intensa durante todo o ano, o que faz com que suas temperaturas sejam mais elevadas. Consequentemente, a densidade dessas águas é menor, o seu deslocamento é menos profundo e rápido e seu índice de evaporação é elevado, o que gera massas de ar quentes e úmidas para diversas áreas do planeta.
Um exemplo de corrente quente encontra-se no Atlântico, a chamada Corrente do Brasil, que é responsável pela umidade que gera boa parte das chuvas na porção leste do nosso país. Segundo alguns estudos, foi esse clima quente e úmido ocasionado por essa corrente marítima que forneceu as condições naturais ideais para a constituição e manutenção da Mata Atlântica. Outro caso é o da Corrente de Golfo, que provoca interferências nos climas da América do Norte e da Europa.
Portanto, como podemos notar, a compreensão das correntes marítimas e seus efeitos é de fundamental importância, pois, além de determinarem o deslocamento de espécies marinhas e favorecer a atividade pesqueira em muitos países (como o Peru e o Japão), elas também são importantes fatores climáticos. Até mesmo o El Niño possui relações com essas correntes oceânicas, uma vez que a sua formação está no aquecimento das águas do Pacífico em função da contenção da Corrente de Humbolt pelos ventos alísios. Essa e outras dinâmicas naturais nos fazem perceber o quanto o nosso planeta é dinâmico e interessante!
Por Me. Rodolfo Alves Pena