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A Iara é uma sereia que faz parte do folclore brasileiro, sendo conhecida por sua grande beleza, voz encantadora e riquezas. Ela é parte mulher e parte peixe e é conhecida por seduzir homens que estão nas margens dos rios, levando-os para debaixo d’água.
Um dos principais folcloristas brasileiros afirma que, apesar de a lenda da Iara apresentar características que remetem ao folclore indígena, os principais elementos dessa lenda são europeus e foram introduzidos na cultura popular brasileira pelos portugueses. A consolidação da lenda em sua forma atual ocorreu no século XIX.
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Quem era a Iara?
A Iara, também conhecida como “mãe d’água”, é uma entidade que faz parte do folclore brasileiro, sendo muito conhecida, principalmente na região Norte do Brasil. Na lenda, diz-se que a Iara é uma sereia, sendo parte mulher e parte peixe. Ela mora dentro de um rio e possui grande beleza física, uma bela voz e muitas riquezas.
A lenda conta que Iara usa esses atributos (a beleza, a voz e a riqueza) para seduzir homens que estão navegando no rio ou que estão às margens dele. Os homens, encantados, vão para junto de Iara, que os leva para sua residência debaixo d’água. Aqueles que são seduzidos não são vistos novamente.
De acordo com a narrativa, ela era filha de um pajé e possuía grandes habilidades como guerreira. Essas habilidades eram motivo de inveja para os irmãos dela, que decidiram se reunir para matá-la em certa ocasião, mas ela resistiu, lutou e matou todos eles.
Temerosa da reação do seu pai, ela fugiu, mas foi encontrada, e seu pai decidiu lançá-la entre os rios Negro e Solimões. Ela teria sido salva pelos peixes e se transformado em Iara durante uma noite de lua cheia. O termo “Iara” tem origem no idioma tupi, sendo a mistura de duas palavras: ig, que significa “água”, e iara, que significa “senhor”. Iara, portanto, seria a senhora das águas.
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Origem da lenda da Iara
A lenda da Iara possui muitos elementos que remetem à cultura indígena, portanto a origem dela é indígena, certo? Errado! A Iara é uma lenda que surgiu a partir do folclore europeu e que foi adaptada ao folclore brasileiro. Essa afirmação foi realizada por um dos maiores folcloristas que o Brasil já teve, o potiguar Luís da Câmara Cascudo|1|.
Câmara Cascudo fala que, até o século XVII, não existia nenhuma lenda entre os indígenas que tivesse os elementos que marcam a história de Iara: uma mulher, parte humana, parte peixe, bela e que seduzia os homens com o seu canto. Ele aponta que todos esses elementos foram introduzidos pelos portugueses, uma vez que na cultura europeia existiam entidades folclóricas com essas características.
Um dos primeiros traços são as sereias gregas, seres que possuíam uma bela voz e que seduziam homens. No entanto, para os gregos, as sereias eram parte mulher, parte pássaro. A forma de peixe que a sereia assumiu teria surgido em Portugal por volta do século XV|1|. Em Portugal também existia a Moura Encantada, um ser mítico em forma de mulher que seduzia homens cantando e oferecendo riquezas para eles. A Moura Encantada, assim como Iara, tinha grande beleza e um grande cabelo.
Aqui no Brasil, esses elementos folclóricos que faziam parte do imaginário dos portugueses teriam sido introduzidos e relacionados com algumas lendas indígenas. A primeira delas teria sido o Ipupiara, uma lenda indígena que falava de um monstro que habitava os rios, mas que saía deles para perseguir e matar os índios. O Ipupiara não assumia forma humana e era exclusivamente um monstro. Não seduzia, não era belo e não oferecia riquezas, apenas matava os índios.
Outro ser mítico do folclore indígena era o ser chamado de Cobra Grande ou Boiúna ou Mboiaçu. Era uma cobra negra gigantesca que habitava os rios e mangues, perseguindo todos os que atravessavam as suas terras.
Por fim, Câmara Cascudo também associa Iara como uma adaptação portuguesa a uma visão de mundo indígena que via todas as coisas da Terra como tendo uma mãe. A origem das coisas para a teogonia indígena seria a mulher na forma de mãe. Assim, ele teoriza que os portugueses podem ter associado o Ipupiara como uma mãe d’água. Com o tempo, essa Mãe d’água converteu-se na Iara.
Existe, por fim, uma associação com a cultura africana. Nesse caso, uma das associações seria a de Iemanjá, um orixá do candomblé que é considerado como a “rainha das águas”. A imagem da Iara na forma como conhecemos se consolidou a partir do século XIX, sendo uma figura muito comum entre eruditos brasileiros daquele século.
Notas
|1| CÂMARA CASCUDO, Luís da. Geografia dos mitos brasileiros. São Paulo: Global, 2012.