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Mula sem cabeça

Mula sem cabeça é uma lenda presente no folclore brasileiro e que foi trazida pelos portugueses. Havia uma forte moral religiosa que a sustentava.

Ilustração da mula sem cabeça.
A mula sem cabeça é uma das principais lendas presentes no folclore brasileiro.
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A mula sem cabeça é uma das lendas mais populares do folclore brasileiro e fala de mulheres que foram amaldiçoadas com a capacidade de converter-se em uma mula que possui labaredas no lugar da cabeça. Era uma lenda que reforçava os valores morais de séculos passados para evitar que mulheres mantivessem relações sexuais antes do casamento, sobretudo com padres.

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Quem é a mula sem cabeça?

A mula sem cabeça é uma lenda presente no folclore brasileiro, sendo conhecida por outros nomes também: burrinha de padre e burrinha. Essa lenda não está presente só no Brasil, mas em diversos países da América Latina. Na versão brasileira, narra-se da história de uma mulher que se transforma em uma mula com labaredas no lugar da cabeça.

Considera-se que a mulher que se transforma na mula sem cabeça está amaldiçoada. Essa maldição é parte de uma punição pelo pecado de manter relações íntimas com sacerdotes da Igreja, isto é, com padres. Entretanto, na lenda não aparece nenhuma punição dada aos padres que quebram seus votos e mantêm relações íntimas com mulheres. O antropólogo Luís da Câmara Cascudo fala que, no entendimento popular, o padre, por sua posição sacerdotal, somente seria punido depois de sua morte|1|.

A mulher amaldiçoada com essa condição torna-se mula sem cabeça em uma virada de quinta-feira para sexta-feira e permanece nessa condição até o cantar do galo (existem versões que dizem sobre até o terceiro cantar do galo). Assim, a mulher assume a forma assustadora de uma mula que pode ser toda negra, com labaredas no lugar da cabeça, fogo na cauda e um relinchar assustador que pode ser confundido com um lamento de dor.

A lenda ainda conta que, durante a madrugada, a mula sem cabeça ataca todos aqueles que passam por seu caminho, e seu coice é forte o suficiente para ferir gravemente uma pessoa. Existem versões de que ela ataca suas vítimas até que estejam mortas, enquanto outras afirmam que ela percorre sete cidades durante a madrugada.

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A lenda fala que uma das formas de evitar que uma mulher seja transformada em mula é sendo amaldiçoada por um padre sete vezes antes do início de uma missa. Outras versões afirmam ser necessário retirar o freio que está na boca da mula ou então feri-la com qualquer objeto pontiagudo. Depois que a mulher amaldiçoada retorna a sua forma humana, ela pode ser encontrada toda ferida.

A lenda da mula sem cabeça, como pode ser percebida, foi utilizada para reforçar os padrões morais, no sentido de amedrontar as mulheres para que elas não tivessem relações sexuais antes de casarem-se, principalmente com sacerdotes religiosos.

Origem da lenda da mula sem cabeça

Ilustração da mula sem cabeça
A lenda da mula sem cabeça foi trazida ao Brasil por influência dos portugueses.

A mula sem cabeça é uma lenda que se originou na Península Ibérica e existia tanto em Portugal quanto na Espanha. Essa lenda foi trazida ao Brasil pelos portugueses, mas também foi levada para outros locais da América Latina pelos colonizadores espanhóis. Assim, a mula sem cabeça não é uma lenda presente só aqui.

Essa lenda existe em países como Argentina e México. Os argentinos conhecem-na como mula anima, enquanto os mexicanos chamam-na de malora. Outros nomes como mula sin cabeza e mujer mula também são usados. Luís da Câmara Cascudo conta que as características da lenda nesses locais são praticamente idênticas às do Brasil.

Acesse também: Saci-pererê, uma das principais lendas do folclore brasileiro

Origem do nome mula sem cabeça

Luís da Câmara Cascudo acredita que a mula foi o animal adotado na lenda pelo costume dos padres utilizarem-se de mulas para sua locomoção. Assim, a proximidade do padre com a mula justificaria essa associação da mulher com a mula sem cabeça. A origem dessa proximidade pode ter sido por uma lei portuguesa do século XIII que determinava que tais animais seriam o meio de transporte dos membros da Igreja Católica.

Isso popularizou o uso da mula entre os religiosos, tornando-se um símbolo para eles e, logo, um símbolo de punição para as mulheres acusadas de manterem uma “má conduta”.

Nota

|1| CÂMARA CASCUDO, Luís da. Geografia dos mitos brasileiros. São Paulo: Global, 2012.

Escritor do artigo
Escrito por: Daniel Neves Silva Formado em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e especialista em História e Narrativas Audiovisuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atua como professor de História desde 2010.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SILVA, Daniel Neves. "Mula sem cabeça"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/folclore/mula-sem-cabeca.htm. Acesso em 21 de dezembro de 2024.

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