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Lobisomem é uma criatura folclórica que está presente no folclore brasileiro, embora seu surgimento remeta à Europa. É conhecido por ser um homem que se transforma em lobo em noites de lua cheia e sai em busca de vítimas para poder alimentar-se do sangue delas, ou simplesmente matá-las. Essa lenda é conhecida mundialmente, e aqui no Brasil existem inúmeras variações regionais dela.
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Tópicos deste artigo
- 1 - A lenda do lobisomem
- 2 - De onde surgiu o lobisomem
- 3 - Influência portuguesa na lenda do lobisomem
- 4 - Lobisomem no Brasil
A lenda do lobisomem
A lenda do lobisomem é conhecida praticamente no mundo todo. Ela o define como um ser, parte homem, parte lobo, que foi amaldiçoado com a licantropia (ato de transformar-se em lobo). Aquele que é amaldiçoado, transforma-se no lobisomem nas noites de lua cheia. Algumas variações da lenda falam que a licantropia foi resultado de um pacto de um homem com o diabo.
Uma vez transformado em lobisomem, a pessoa parte freneticamente à procura de vítimas para matá-las. A cultura popular moderna alastrou a ideia de que o lobisomem é vulnerável somente à bala de prata ou a objetos cortantes feitos também de prata. Assim, a única forma de matá-lo seria por meio de objetos feitos desse metal.
A cultura popular moderna também espalhou que a maldição do lobisomem pode ser transmitida hereditariamente, isto é, de pai para filho, e que aqueles que são mordidos por ele, e sobrevivem, transformam-se também em lobisomens pouco tempo depois.
De onde surgiu o lobisomem
A lenda do lobisomem surgiu na Europa, e os relatos mais antigos existentes sobre esse ser levaram os estudiosos a concluirem que sua origem está na Grécia Antiga. Existem diferentes versões na tradição grega, mas um dos relatos fala de um rei chamado Licaon, que reinou em uma região chamada Arcádia e foi punido por Zeus, após tentar matá-lo.
Isso aconteceu porque Licaon era conhecido por realizar o sacrifício de humanos viajantes que visitavam seus domínios. Zeus, então, disfarçou-se de viajante, dirigiu-se à Arcádia e foi recebido por Licaon em um jantar (esse planejava matá-lo em seguida). O rei da Arcádia ofereceu carne humana para Zeus, que, enfurecido, puniu-o transformando-o em lobo para sempre.
A origem grega do lobisomem inclusive deu nome à lenda, pois esse ser também é conhecido como licantropo, tendo lykos o significando lobo, e anthropos, de homem (em tradução livre). Por fim, existem alguns estudos que apontam que o lobo era um animal que recebia culto na Antiguidade, e esse culto (e a lenda) acabou sendo transmitido para Roma.
Em Roma, além de ter existido um culto ao lobo por meio de uma festa chamada lupercália, a festa dos lobos, existia também a história de um homem que se transformava em lobo, e lá esse era chamado de versipélio. Como os romanos conquistaram uma quantidade vasta de territórios, a crença no homem que se transforma em lobo espalhou-se, principalmente pela Europa.
A expansão da lenda fez com que ela tomasse novas características, e em cada local acabou ficando conhecida por nomes diferentes. Em locais cristianizados, esse ser tornou-se um pecador amaldiçoado, que tinha na maldição do lobisomem uma espécie de penitência, até ser perdoado dos seus pecados.
Se na Grécia ficou conhecido como licantropo, e em Roma, como versipélio, em outros locais da Europa, recebeu os seguintes nomes: loup-garou, na França; werwolf, entre os saxões, oboroten, para os russos; lobisomem, na Península Ibérica etc. Até mesmo na África e na Ásia, a lenda do lobisomem ficou conhecida, embora possua características diferentes nesses continentes.
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Influência portuguesa na lenda do lobisomem
Naturalmente, a lenda do lobisomem chegou ao Brasil por meio dos portugueses, durante o período em que esses colonizavam o Brasil. Em nosso país, a lenda chegou e assumiu diferentes características em cada região.
Em Portugal, acreditava-se que o lobisomem era um homem muito magro, com orelhas compridas e nariz avantajado. Falava-se que ele poderia ser um homem amaldiçoado por ser predestinado à maldição, bem como esta poderia ser uma penitência de pecados cometidos.
Havia também uma relação da lenda com o aspecto moral, pois acreditava-se que o filho nascido de um incesto seria um lobisomem. No caso da predestinação, acreditava-se que o primeiro filho homem nascido depois do nascimento de sete filhas seria um lobisomem. Uma vez transformado nisso, o ser partiria à procura de cemitérios e de pessoas para alimentar-se.
Em Portugal, o lobisomem também poderia ser conhecido como corredor ou tardo, e lá chegavam a acreditar que mulheres também poderiam transformar-se nesse ser, sendo chamadas de peeira ou lobeiras, conforme levantou o folclorista Luís da Câmara Cascudo.|1|
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Lobisomem no Brasil
Aqui no Brasil, como mencionamos, a lenda do lobisomem chegou por meio dos portugueses, e alguns estudos realizados concluíram que não existia uma lenda desse tipo entre os povos indígenas. O mais próximo disso eram lendas que acreditavam que homens ou mulheres poderiam transformar-se em alguns animais da floresta.
Essa lenda no folclore brasileiro acabou adquirindo elementos presentes na sua versão portuguesa. Assim, era comum acreditar que o lobisomem era o homem nascido depois que a mãe tivesse sete filhas, embora versões da lenda falem que se nascessem sete filhos homens, o oitavo filho também seria um lobisomem.
No Norte do Brasil, a lobisomem era o homem que tinha a saúde debilitada, e aquele que fosse anêmico acabaria transformando-se nele. Uma vez transformado, alimenta-se do sangue de outros humanos para compensar a pobre dieta como um deles. A transformação acontecia nas noites de quinta-feira para sexta-feira.
No Sul, por sua vez, o fato que transformava o homem em lobisomem era o incesto. No Brasil, não houve registro no folclore da crença na transformação de mulheres em lobisomens. Em nosso folclore, somente os homens tornam-se lobisomens.
Outra crença relacionada ao lobisomem no Brasil é que, no interior do São Paulo, acreditava-se que esse ser tentava invadir as casas para comer as crianças. Muitos acreditavam que o lobisomem ia atrás, especialmente, de crianças não batizadas.
O que as lendas falavam sobre a cura do lobisomem? Em geral, acreditava-se que esse ser poderia ser curado se fosse ferido gravemente com determinados objetos. Um desses objetos era uma bala banhada com cera de vela de um altar, em que tivesse sido celebrado três missas do galo ou três missas de domingo.
Notas
|1| CÂMARA CASCUDO, Luís da. Geografia dos mitos brasileiros. São Paulo: Global, 2012, p. 157.