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Patrística

A Filosofia Patrística foi desenvolvida no início do período de transição da Antiguidade para o Medievo e desenvolveu os primeiros passos da doutrina cristã.

 A fé e a razão encontraram-se unidas na segunda parte do período patrístico da Filosofia. [1]
A fé e a razão encontraram-se unidas na segunda parte do período patrístico da Filosofia. [1]
Crédito da Imagem: shutterstock
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A Filosofia Patrística foi um período que se iniciou com a transição entre a Antiguidade e o Medievo. Marilena Chaui destaca que a Filosofia Patrística "inicia-se com as Epístolas de São Paulo e o Evangelho de São João e termina no século VIIIi".

É importante ressaltar que o período patrístico foi um período de mudança e transição de pensamento. Ele situava-se, cronologicamente, entre a Antiguidade e a Idade Média e, filosoficamente, pode ter distintas classificações. Chaui classifica a Patrística como um período distinto da Filosofia, que não se encontra nem na Filosofia Antiga, como também não se encontra na Filosofia Medieval.

Porém, há um consenso de classificar a Filosofia Patrística como parte da Filosofia Medieval, junto à Filosofia Escolástica, pois os temas e o modo de operar dos pensadores patrísticos aproximavam-se totalmente da teologia cristã e do conhecimento religioso.

A Patrística recebeu esse nome por abrigar os primeiros padres, "pais", da Igreja Católica e, em seu início, essa Filosofia serviu ao pensamento cristão por meio das apologias do cristianismo, pois o pensamento cristão, ainda no século III d.C., não era bem difundido na Europa.

Saiba mais: O que é Filosofia?

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Tópicos deste artigo

Características e significado da Patrística

A Filosofia Patrística surgiu em uma época difícil para o cristianismo. Em virtude da promulgação do cristianismo como religião oficialmente aceita pelo Império Romano, os cristãos ainda sofriam perseguições e retaliações, além de não terem muitos adeptos em várias localidades europeias.

O primeiro movimento da patrística era composto pelos primeiros professadores da fé cristã e pelos padres apologistas, que tinham a missão de fazer uma defesa do pensamento cristão. Entre os apologistas, alguns escolheram o caminho de união da Filosofia grega pagã com o cristianismo, como Justino, e outros defenderam a total exclusão e repressão da Filosofia pagã grega, como Tertuliano.

Durante muito tempo, a visão apologista defendida por Justino prevaleceu, inclusive no período filosófico posterior, a Escolástica. A Filosofia serviu, nesse caso, de alicerce para a formulação de uma teologia cristã. Porém, em outros momentos da Filosofia, o conflito entre razão e fé acirrou-se de maneira a gerar uma visão binária, em que somente era possível crer ou pensar racionalmente. Em outros períodos, os domínios da fé e da razão foram drasticamente separados, sendo cada um cultivado por sua distinta importância.

Outra característica do período patrístico é a influência de Platão, pensador grego amplamente estudado, traduzido e difundido entre aqueles que recorriam à Filosofia grega. O pensamento platônico difundido para os patrísticos adveio do chamado neoplatonismo, corrente filosófica que estudou, classificou e formulou teorias filosóficas próprias a partir dos escritos deixados por Platão.

Os principais expoentes do neoplatonismo são Plotino (século III d.C.) e Porfírio (discípulo de Plotino, que reformulou partes do pensamento neoplatonista e introduziu novas questões, como a questão dos universais, baseadas na Filosofia aristotélica). O neoplatonismo tomou certo destaque em relação ao aristotelismo durante a Patrística, principalmente por conta da maior proximidade das obras de Platão com o pensamento cristão.

Apesar dos esforços de Boécio pela tradução de Aristóteles não a partir do original em grego, mas a partir de traduções árabes, o aristotelismo somente ganhou força dentro da Filosofia Medieval com início no pensamento de Tomás de Aquino, já no período Escolástico.

Posteriormente, passado o período das apologias, alguns nomes sobressaem-se, como Boécio (século V a VI d.C.), reconhecido tradutor e comentador de Aristóteles e da obra Isagoge, de Porfírio e Agostinho de Hipona (século IV a V d.C.), um pagão convertido aos 32 anos de idade, que despontou-se como o principal teólogo patrístico, sendo posteriormente canonizado pela Igreja Católica, tornando-se o Santo Agostinho.

Leia também: Valores morais e sua importância para a sociedade

Importância da Patrística

A importância do período patrístico da Filosofia reside, principalmente, no fato de que ela produziu grande parte do pensamento que daria origem a todo um sistema teológico cristão. Ao tecer uma análise criteriosa das bases do pensamento cristão, dos dogmas cristãos e de uma certa concepção teológica, podemos encontrar traços platônicos e elementos da Filosofia Grega.

Foi no período patrístico que surgiu a maior parte doutrinária do pensamento cristão, pois os padres que foram "pais" da Igreja católica tiveram a missão de formular o princípio de todo o pensamento cristão que daria origem ao que conhecemos hoje como Igreja Católica Apostólica Romana.

Santo Agostinho

Santo Agostinho, o Bispo de Hipona.
Santo Agostinho, o Bispo de Hipona.

Agostinho que se tornou Bispo de Hipona e foi, mais tarde, canonizado pela Igreja Católica, foi um padre patrístico, considerado como o maior difusor do pensamento patrístico e o maior polemista da Filosofia Patrística. A história de Agostinho é complexa, pois até os 32 anos de idade, o filósofo era resistente ao pensamento cristão.

Agostinho buscou diversas correntes teóricas e escolas filosóficas na tentativa de encontrar um sentido para a sua vida. Teve contato com o pitagorismo, com o maniqueísmo e com parte da Filosofia Helênica. Sua mãe esforçou-se para a criação cristã do filho, que na juventude não se interessou pelo Evangelho, pois “as escrituras sagradas pareciam-lhe vulgares e indignas de um homem cultoii”.

Dada a sua conversão, aliada à erudita educação fornecida graças aos esforços do pai, Agostinho converteu-se, ordenou-se e passou a estudar a Teologia baseada na Filosofia e a combater as heresias.

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Livros da Patrística

A Patrística, junto à Escolástica, produziu diversos livros importantes para a compreensão do pensamento religioso cristão ocidental e para a formulação de um pensamento racional medieval.

As obras patrísticas que merecem destaque são:

  • Enéadas: escritos por Plotino, Enéadas totaliza 54 tratados diferentes sobre diversos assuntos que vão de ética e convívio em sociedade a problemas de ordem psicológica individuais, apresentando uma visão cristã sustentada pela Filosofia Platônica.

  • Isagoge: o clássico de Porfírio retoma a Filosofia Grega de origem aristotélica para reintroduzir aspectos do método de procedência de Aristóteles, formando comentários sobre a Filosofia Grega. O principal elemento trazido por Porfírio por meio de Isagoge é a chamada “questão dos universais”.

  • Confissões: obra que mescla Literatura e elementos filosóficos, Confissões apresenta a biografia de Agostinho, contando seus momentos em que ele encontrava-se, como ele mesmo diz, "perdido", antes da conversão, até os momentos que viveu, segundo ele mesmo, momentos de glória, após a conversão ao cristianismo.

  • Cidade de Deus: obra que trata das heresias, do Reino de Deus e do comportamento esperado de um cristão para chegar à plenitude da vida, no sentido cristão.

Crédito das imagens:

[1] Renata Sedmakova / Shutterstock

i CHAUI, M. Convite à Filosofia. São paulo: Ática, 2005, p. 46.

iiPessanha, J. A. M. Agostinho - vida e obra. In: AGOSTINHO. Os Pensadores. Tradução de J. Oliveira Santos e A. Ambrósio de Pina. Introdução de José Américo Motta Pessanha. São Paulo: Nova Cultural, 2004, p. 6.

 

Por Francisco Porfírio
Professor de  Filosofia

Escritor do artigo
Escrito por: Francisco Porfírio Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

PORFíRIO, Francisco. "Patrística"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/patristica.htm. Acesso em 21 de dezembro de 2024.

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