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Mito de Sísifo

O mito de Sísifo narra a história de um rei astuto que desafiou a ordem cósmica, o que resultou em uma condenação eterna a empurrar uma pedra até o topo de uma colina.

Representação do mito de Sísifo
Sísifo foi condenado a empurrar uma pedra eternamente.
Crédito da Imagem: Shutterstock.com
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Tempo de leitura estimado : 12 minutos

O mito de Sísifo narra a história de um rei astuto que desafiou a ordem cósmica ao enganar a Morte e Hades, resultando em sua condenação eterna a empurrar uma pedra até o topo de uma colina, apenas para vê-la rolar de volta. Esse castigo simboliza a futilidade das ações humanas quando confrontadas com forças superiores.

Na vida moderna, o mito critica a repetitividade do trabalho, o vazio existencial e a busca incessante por sucesso, expondo a falta de significado em muitos aspectos da existência. Albert Camus reinterpretou a narrativa como uma metáfora do absurdo da vida, sugerindo que a verdadeira liberdade reside em aceitar a luta e encontrar realização no esforço constante, imaginando Sísifo feliz em sua tarefa sem fim.

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Tópicos deste artigo

Resumo sobre o mito de Sísifo

  • O mito de Sísifo narra a história do astuto rei de Corinto que, ao desafiar as regras divinas e enganar tanto Tânato quanto Hades, foi condenado pelos deuses a empurrar eternamente uma pedra até o topo de uma colina, apenas para vê-la rolar de volta, simbolizando a luta incessante e sem propósito contra forças maiores.
  • Sísifo foi castigado pelos deuses por desafiar a ordem cósmica ao enganar a Morte e Hades, rompendo o equilíbrio entre vida e morte.
  • Sua punição eterna no Tártaro reflete a lição moral da mitologia grega sobre a inevitabilidade das consequências de transgressões divinas.
  • O mito de Sísifo critica a vida moderna ao simbolizar o trabalho repetitivo e sem propósito, o vazio existencial e o ciclo incessante de busca por sucesso, enquanto questiona os valores sociais baseados no consumismo e na produtividade, que frequentemente ignoram o significado e a realização pessoal.
  • Albert Camus reinterpretou o mito de Sísifo como uma metáfora do absurdo da vida, defendendo que, mesmo diante da falta de sentido universal, é possível encontrar realização e liberdade ao aceitar e resistir conscientemente às adversidades, imaginando Sísifo feliz em sua luta interminável.

Qual é a história do mito de Sísifo?

O mito de Sísifo é uma das narrativas mais intrigantes da mitologia grega, envolvendo um personagem conhecido tanto por sua astúcia quanto por seu castigo eterno. Sísifo era o rei de Corinto, uma cidade próspera na Grécia Antiga. Filho de Éolo, o deus dos ventos, Sísifo foi um mortal que ousou desafiar os deuses e as regras estabelecidas do cosmos, utilizando sua inteligência e esperteza para enganar até mesmo entidades divinas.

Sísifo é frequentemente retratado como um personagem ambicioso e arrogante, disposto a fazer qualquer coisa para alcançar seus objetivos. Uma de suas façanhas mais notáveis foi enganar a própria Morte (Tânato). De acordo com o mito, quando chegou sua hora de morrer, Sísifo armou um plano engenhoso e conseguiu acorrentar Tânato, impedindo-a de cumprir seu papel. Como consequência, ninguém no mundo poderia morrer, resultando em caos e desequilíbrio na ordem natural. Zeus, o rei dos deuses, interveio e libertou Tânato, restaurando a ordem.

Além disso, Sísifo também enganou Hades, o deus do submundo, ao escapar do reino dos mortos sob o pretexto de resolver assuntos pendentes no mundo dos vivos. Sua astúcia e desrespeito pelas leis divinas levaram a um confronto inevitável com os deuses, que decidiram puni-lo de maneira exemplar.

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Por que Sísifo foi castigado?

O castigo de Sísifo foi diretamente proporcional às suas transgressões contra os deuses e a ordem cósmica. Sua maior falha foi desafiar as divindades e subverter as regras que governavam a vida e a morte, elementos fundamentais da mitologia grega. O maior pecado de Sísifo, no entanto, foi sua hubris, ou seja, a arrogância desmedida de acreditar que poderia enganar os deuses sem sofrer consequências.

Zeus condenou Sísifo a um castigo eterno no Tártaro, a região mais profunda do submundo. Lá, ele foi forçado a empurrar uma enorme pedra até o topo de uma colina, apenas para vê-la rolar de volta para a base sempre que estava prestes a alcançar o cume. Essa tarefa interminável simboliza a futilidade de suas ações e a inutilidade de tentar desafiar as leis divinas. O castigo foi projetado para ser não apenas físico, mas também psicológico, representando a essência do tormento perpétuo e sem propósito.

Crítica do mito de Sísifo sobre a vida moderna

A história de Sísifo oferece uma poderosa metáfora para a condição humana na vida moderna. Muitos estudiosos e filósofos veem o mito como uma representação da luta diária do indivíduo diante das responsabilidades repetitivas, das metas inalcançáveis e do sentimento de vazio existencial. A imagem de Sísifo empurrando sua pedra eternamente ilustra as batalhas intermináveis da vida cotidiana, nas quais muitas vezes parece não haver um propósito claro ou uma recompensa tangível.

Na sociedade contemporânea, o mito se torna especialmente relevante ao abordar questões como o trabalho alienado, o consumismo e a busca incessante por sucesso. Assim como Sísifo, muitos se encontram presos em ciclos aparentemente sem fim de atividades que, embora necessárias para a sobrevivência, não oferecem satisfação ou realização. O castigo de Sísifo pode ser interpretado como uma crítica ao excesso de valor atribuído à produtividade e ao progresso material, em detrimento da busca por significado e felicidade genuínos.

Além disso, o mito de Sísifo levanta reflexões sobre o papel do ser humano em um Universo indiferente. Na era moderna, marcada pelo avanço da ciência e pela secularização, muitas pessoas se veem confrontadas com a falta de um propósito maior imposto por uma divindade ou ordem cósmica. A tarefa de Sísifo é, portanto, uma representação da condição humana no enfrentamento do absurdo da existência, uma questão central para filósofos existencialistas como Albert Camus.

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Albert Camus e o Mito de Sísifo

Albert Camus, filósofo que revisitou o mito de Sísifo.
Albert Camus, filósofo que revisitou o mito de Sísifo.

Albert Camus, filósofo e escritor franco-argelino, revisitou o mito de Sísifo em sua obra O mito de Sísifo (1942), transformando-o em um símbolo da filosofia do absurdo. Para Camus, o absurdo é a tensão entre o desejo humano de encontrar significado e a ausência de respostas no Universo. O mito de Sísifo se torna uma metáfora perfeita para essa luta, representando a condição humana em sua essência.

Camus rejeita a ideia de que o castigo de Sísifo seja puramente trágico. Em vez disso, ele vê Sísifo como uma figura heroica, que enfrenta sua punição com dignidade e resistência. A frase final de Camus na obra — “É preciso imaginar Sísifo feliz” — sugere que, mesmo diante da falta de sentido, é possível encontrar uma forma de realização ao abraçar a própria luta e viver plenamente o momento presente.

O pensamento de Camus reflete uma abordagem otimista do absurdo, propondo que, embora a vida possa ser desprovida de um propósito maior, isso não significa que seja desprovida de valor. A resistência de Sísifo à desesperança, seu contínuo esforço para cumprir sua tarefa, é uma expressão de liberdade e afirmação da vida. Para Camus, a rebeldia contra o absurdo não é uma forma de derrotá-lo, mas de coexistir com ele de maneira consciente e ativa.

Assim, o mito de Sísifo reinterpretado por Camus oferece uma perspectiva profunda sobre como enfrentar as adversidades e encontrar significado na própria luta, mesmo em meio à aparente futilidade. Ele inspira uma postura de aceitação e resiliência, demonstrando que a essência da vida não reside em suas recompensas finais, mas no esforço constante e na experiência vivida.

Fontes:

CAMUS, Albert. O mito de Sísifo. Tradução de Ari Roitman e Paulina Wacht. 4. ed. Rio de Janeiro: Record, 2005.

KIRK, Geoffrey S.; RAVEN, John E.; SCHOFIELD, Malcolm. Os filósofos pré-socráticos. Tradução de Eduardo Brandão. 3. ed. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2010.

REIS, José Carlos. Mitologia grega e a reflexão filosófica. São Paulo: Editora Contexto, 2014.

Escritor do artigo
Escrito por: Tiago Soares Campos Bacharel, licenciado e doutorando em História pela USP. Bacharel em Direito e pós-graduado em Direito pela PUC. É professor de História e autor de materiais didáticos há mais de 15 anos.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

CAMPOS, Tiago Soares. "Mito de Sísifo"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/o-mito-sisifo-sua-conotacao-contemporanea.htm. Acesso em 17 de fevereiro de 2025.

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