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Lilith

Lilith é uma deusa-demônio da mitologia da antiga Mesopotâmia que esteve presente na cultura de diversos povos. Ainda hoje ela faz parte do imaginário popular.

Pintura de 1887 representando Lilith.
Pintura de 1887 representando Lilith.
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Lilith foi uma deusa associada ao vento e que provocava doenças e morte entre os seres humanos, principalmente entre crianças. Sua lenda surgiu na antiga Mesopotâmia, entre os acádios. Sumérios, assírios e babilônicos também a tinham como uma de suas deusas.

No início da Idade Média, Lilith foi apropriada por algumas aldeias judaicas e cristãs, que deixaram alguns registros sobre ela. Na versão judaico-cristã, ela aparece como a primeira esposa de Adão, antes de Eva. Por desagradar a Deus, ela foi expulsa do paraíso e, no seu lugar, Deus criou Eva.

Atualmente Lilith é considerada um ícone do feminismo e constantemente presente em filmes, jogos, séries e outras produções artísticas.

Leia também: Medusa — a história dessa górgona da mitologia grega

Tópicos deste artigo

Resumo sobre Lilith

  • Lilith foi uma deusa originária da mitologia mesopotâmica associada a doenças e mortes.
  • Diversos povos mesopotâmicos acreditavam nela.
  • Sua lenda influenciou a cultura judaico-cristão, principalmente no início da Idade Média.
  • Nas versões judaicas e cristãs da Alta Idade Média, ela foi a primeira mulher criada por Deus.
  • A partir de 2010, Lilith passou a estar presente em diversas produções artísticas, principalmente em séries de streaming.

História de Lilith

Lilith começou a ser cultuada entre os antigos acádios, que viveram na Mesopotâmia no segundo milênio antes da nossa era. Na mitologia acadiana, ela foi uma deusa-demônio associada aos ventos e que provocava malefícios nos seres humanos, como doenças e a morte. Dizia-se geralmente que ela atacava mulheres durante o parto ou crianças pequenas, e algumas vezes amamentava-as com seu leite venenoso.

Para os sumérios, que formaram um império na Baixa Mesopotâmia, Lilith vivia na Árvore do Mundo e foi expulsa por Inana, deusa do amor, passando a vagar pelo mundo. Ela ocupava geralmente lugares abandonados ou em ruínas. Nessa época ela foi representada como uma mulher com duas asas que também provocava doenças e morte.

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Lilith era um dos demônios Lil, classe de demônios associados ao vento e que podiam trazer enfermidades, provocar acidentes ou conflitos.

A partir do século V d.C., foi produzida a maior parte das fontes encontradas sobre Lilith. Principalmente as chamadas tigelas mágicas, que passaram a ser utilizadas por povos da região do Levante e da Mesopotâmia. Nesse período as pessoas acreditavam que tigelas, geralmente as cerâmicas, com encantamentos e magias registradas nelas afastariam demônios e outros seres que prejudicavam os humanos.

Tigela mágica do século V d.C. com escrita hebraica.[1]
Tigela mágica do século V d.C. com escrita hebraica.[1]

Em diversas tigelas mágicas do período, o nome de Lilith estava presente. Essas tigelas eram geralmente enterradas debaixo da porta de entrada da residência e com suas bocas viradas para baixo. A função delas era não permitir que os demônios entrassem na casa. Em alguns lugares, quatro tigelas mágicas eram enterradas, uma em cada canto da casa. Entre os séculos V e VIII, Lilith foi uma figura comum nesse tipo de artefato.

Mito de Lilith no judaísmo

No Gênesis, em que o mito de criação do ser humano e da Terra está presente, duas passagens geraram interpretações diferentes no início da Idade Média sobre a criação de uma ou duas mulheres por Deus.

Em Gênesis 1:27, está escrito:

E Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou, e disse: frutificai e multiplicai-vos.

em Gênesis, de 2.20 até 2.22, está escrito:

As­sim o homem deu nomes a todos os rebanhos domésticos, às aves do céu e a todos os animais selvagens. Todavia não se encontrou para o homem alguém que o auxiliasse e lhe correspondesse. Então o Senhor Deus fez o homem cair em profundo sono e, enquanto este dormia, tirou-lhe uma das costelas, fechando o lugar com carne. Com a costela que havia tirado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher e a levou até ele. Disse então o homem: “Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada mulher, porque do homem foi tirada”.

Esses dois trechos criaram uma versão, presente em alguns grupos judaicos e cristãos do início da Idade Média, de que Lilith seria a mulher primordial, criada por Deus no mesmo instante em que Adão foi criado, antes de Eva. Lilith teria sido expulsa do paraíso por não aceitar as ordens dadas por Adão, que fez com que Deus a mandasse embora.

Lilith em representação produzida em 1867.
Lilith em representação produzida em 1867.

O nome de Lilith apareceu em um canto dos Pergaminhos do Mar Morto, considerados os registros judaicos mais antigos. Também apareceu na Septuaginta, uma versão da Bíblia judaica do século III.

No chamado Talmude da Babilônia, escrito por volta do século VI, Lilith também é citada, assim como no Zohar, documento produzido por volta de 1300 d.C. Seu nome ainda aparece em uma versão da Bíblia cristã, do início da Idade Média, em Isaias 34:14.

Leia também: Ísis — religiosidade egípcia considerada a mãe de todos os faraós

Significado de Lilith na Contemporaneidade

Lilith foi criada junto de Adão, não foi feita, como Eva, da costela dele. Ela era igual a Adão, não uma parte dele. Em uma das versões da Alta Idade Média, Lilith teria se recusado a servir Adão, desagradando a Deus e sendo expulsa do paraíso, passando a viver de forma autônoma, sem depender de Adão ou mesmo de Deus.

Lilith é vista, assim, como uma primeira feminista por ter lutado contra o machismo primordial. Algumas feministas a usam como um símbolo de luta por ela ser forte, independente e empoderada.

Atualmente Lilith também está muito presente na cultura popular, em filmes, séries, jogos, entre outros. Ela apareceu em séries famosas, como Supernatural, Lúcifer e Sabrina. Também é personagem do jogo de RPG Vampire: The Masquerade, assim como é tema de músicas, peças teatrais e diversas outras manifestações culturais contemporâneas.

Diferenças entre Lilith e Eva

Lilith representa a mulher independente, que não aceita a superioridade de Adão sobre ela. Essa igualdade se inicia na criação de Lilith, no mesmo momento em que Adão foi criado. Em algumas versões, Deus criou um ser andrógino que teria sido separado por ele e resultado em Adão e Lilith.

Já Eva simboliza uma visão da mulher submissa, criada de uma parte de Adão e feita para servi-lo. Após terem cometido o pecado de comer o fruto proibido, Adão, a serpente e Eva foram punidos.

Curiosidades sobre Lilith

  • Lilith, a Lua hipotética. No final do século XIX e início do XX, alguns astrônomos passaram a defender a existência de uma Lua terrestre que, por causa da sua cor escura, não poderia ser observada. Walter Gornold nomeou-a Lilith, no começo do século passado.
  • Segundo o IBGE, entre 1990 e 2010, foram registradas 183 pessoas no Brasil com o nome Lilith. Nos Estados Unidos, em 2021, Lilith ficou entre os 100 principais nomes com os quais as meninas foram registradas naquele ano no país.
  • Na internet, é vendido por diversos sites o perfume da deusa Lilith. Segundo os anúncios, o perfume faz com que a pessoa desejada se apaixone por quem o usa, além de afastar as coisas ruins do usuário. Alguns vendedores afirmam que o perfume foi produzido na Lua cheia, o que potencializa seu poder. Não existe qualquer comprovação da eficácia dessas substâncias, além de muitas delas não serem registradas na Anvisa.
  • A Marvel Comics criou sua primeira personagem chamada Lilith em 1974. Ela era uma vampira, filha de Drácula. Apareceu em diversas produções da Marvel, a última, em 2007, em um HQ chamado Legion of Monster, Morbius the Living Vampire. A segunda Lilith da Marvel surgiu em 1992, sendo uma maléfica feiticeira e considerada a mãe de todos os demônios.

Créditos da imagem

[1] Wikimedia Commons

Fontes

GUARINELLO, Norberto Luiz. História antiga. Editora Contexto, São Paulo, 2013.

LÉVÊQUE, Pierre. As primeiras civilizações: da idade da pedra aos povos semitas. Edições 70, São Paulo, 2013.

PIRES, Valéria Fabrizi. Lilith e Eva: imagens arquetípicas da mulher na atualidade. Summus Editorial, São Paulo, 2008.

Escritor do artigo
Escrito por: Jair Messias Ferreira Junior Pós-graduado em História pela Unicamp e professor da Educação Básica há mais de 20 anos. Também é formador de professores e produtor de materiais didáticos há mais de 10 anos.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

JUNIOR, Jair Messias Ferreira. "Lilith"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/curiosidades/lilith.htm. Acesso em 06 de novembro de 2024.

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