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O maracatu é uma manifestação cultural composta por música, dança e outros elementos culturais trazidos por escravizados do continente africano. Seu surgimento ocorreu no período colonial brasileiro, no estado de Pernambuco.
A realização do maracatu se diferencia em dois tipos: o maracatu nação ou de baque virado e o maracatu rural ou de baque solto.
A palavra maracatu possui origem nos termos maracá, que significa instrumento de percussão indígena, e catu, que quer dizer “bom/bonito” em tupi.
Em 1º de agosto é comemorado o Dia Nacional do Maracatu. A data possui o objetivo de fortalecer a tradição cultural e é uma homenagem ao nascimento do mestre Luiz França, que foi responsável por comandar o Maracatu Leão Dourado por 40 anos.
Leia também: Carimbó — uma dança de roda tradicional do estado do Pará
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre maracatu
- 2 - Origem e história do maracatu
- 3 - Tipos de maracatu
- 4 - Instrumentos do maracatu
Resumo sobre maracatu
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O maracatu surgiu no século XVIII no estado de Pernambuco, durante o Brasil Colônia.
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A manifestação está relacionada a aspectos culturais trazidos por escravizados do continente africano, sendo uma reformulação da coroação de reis e rainhas congoleses.
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Surgiu como forma de resistência dos povos escravizados em relação aos colonizadores portugueses.
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Há dois tipos de manifestação do maracatu: o nação ou de baque virado e o rural ou de baque solto.
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O maracatu nação é o mais antigo e representa a coroação de rainhas e reis africanos.
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Já o maracatu rural começou a ser praticado por trabalhadores rurais nos engenhos de cana-de-açúcar.
Origem e história do maracatu
O maracatu é uma manifestação cultural que surgiu no estado de Pernambuco no século XVIII durante o período colonial brasileiro.
Os negros escravizados que vieram do continente africano trouxeram diferentes tradições culturais das mais diversas etnias. Os elementos culturais do Congo são uma delas. A tradição do Congo evidencia a coroação dos reis e rainhas e se expressa por meio das danças e em referência a práticas religiosas, guerras e festas da coletividade.
Com o passar do tempo, desenvolveu-se um processo de afastamento dos aspectos originários das coroações do Congo e uma formulação de elementos culturais por meio de uma miscigenação.
Nesse contexto, nasceu o maracatu. O maracatu reinterpreta a coroação de rainhas e reis africanos. Os primeiros registros da prática são de 1711.
Essa expressão é reconhecida como um mecanismo de resistência dos escravizados em relação à opressão dos colonizadores portugueses.
Após o fim da escravidão no Brasil no final do século XIX, o maracatu começou a ser inserido de forma gradual como parte das comemorações carnavalescas da cidade de Recife.
A popularização do maracatu em outras regiões brasileiras ocorreu nos anos 1990. Esse processo foi intensificado a partir da ação de alguns grupos tais como o Movimento Negro Unificado e a Nação Leão Coroado (uma das mais tradicionais de Recife).
Veja também: Congada — a forma folclórica mais tradicional de coroação de rainhas e reis africanos que se desenvolveu no Brasil
Tipos de maracatu
O maracatu é formado pela música folclórica brasileira, movimentos dançantes e elementos de referência a cultos religiosos. Os figurinos utilizados pelos praticantes remetem às culturas africana, indígena e portuguesa.
A manifestação se diferencia em dois tipos de celebração, sendo eles o maracatu nação ou de baque virado e o maracatu rural ou de baque solto. Veja sobre eles a seguir.
→ Maracatu nação ou de baque virado
O maracatu nação ou de baque virado é o tipo mais antigo e se caracteriza pela representação de um cortejo real junto a um grupo percussivo. Elementos mágicos e religiosos da cultura pernambucana compõem esse tipo de maracatu. Religiões de terreiro, como candomblé (ou xangô), jurema e umbanda, estão relacionadas a essa expressão.
O sentido das nações se refere à forma como os escravizados se organizavam ou eram organizados pelas autoridades coloniais. O nome da nação possui relação com a procedência de seus membros — por exemplo, a nação cabinda e angola.
Os grupos do maracatu nação possuem origem nas comunidades periféricas da região metropolitana de Recife.
Em 1955, César Guerra Peixe sistematizou a prática do maracatu nação na obra Maracatus do Recife. Desde então, a publicação tornou-se uma referência sobre a manifestação. O maestro César foi o primeiro pesquisador a falar sobre a distinção dos dois tipos principais do maracatu.
◦ Personagens e elementos do maracatu nação
A apresentação do maracatu nação é composta por diferentes personagens e elementos. Desse modo, o início do cortejo é marcado pelo carro abre-alas que conduz o símbolo do grupo.
Em seguida, um porta-estandarte (trajado como Luís XV) conduz um estandarte, que possui o nome da agremiação e sua data de fundação.
As damas do paço vêm em seguida empunhando as calungas, que são bonecas que representam os antigos ancestrais (os orixás). As damas do paço devem cumprir determinadas tarefas religiosas para poder carregar esse objeto. Tanto essas mulheres quanto as bonecas simbolizam o axé do grupo.
O caboclo arreaiamar também participa da abertura do cortejo. Ele é um personagem indígena que carrega arco e flecha, denominados preaca, e utiliza um grande cocar com penas. Seus passos misturam movimentos da dança do caboclinho com o frevo.
Além desses, outros personagens que participam da apresentação de maracatu são os seguintes:
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Damas de frente: carregam consigo flores ou troféus de concursos anteriores de maracatu. Suas vestimentas possuem características de origem europeia.
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Ala de orixás: realizam performances durante a apresentação.
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Baianas ricas: usam amplas saias rodadas, algumas com fantasias que remetem aos axós, utilizados em terreiros.
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Baianas de cordão ou catirinas: elas acompanham o cortejo nas laterais e utilizam fantasias feitas com chitão florido.
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Lanceiros: guardas que simbolicamente protegem a rainha e o rei.
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Casal real: usam fantasias muito bem elaboradas e adornadas com bordas de lantejoulas, aplicações em pedras e aljofre. O rei e a rainha são protegidos pelo pálio (símbolo da realeza) e por pajens, porta-leque, porta-abajur e a guarda real.
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Ala dos escravizados: carregam consigo ferramentas de trabalho, tais como foices, enxadas e pás.
É importante destacar também a existência do batuque. O batuque é o conjunto de instrumentos percussivos que produz o efeito musical do maracatu. Ele é tocado durante todo o cortejo.
A prática do maracatu nação, ao envolver aspectos étnico-raciais e culturais, tem contribuído para o desenvolvimento de políticas públicas de promoção da igualdade racial.
A tradição do maracatu envolve, para além da apresentação do cortejo em si, todo o processo de produção e preparação para a prática. Os grupos formam comunidades que compartilham entre si os modos de fazer e os saberes sobre as tarefas de confecção das fantasias e dos instrumentos musicais.
A linguagem musical do maracatu nação se expandiu não só para outros estados brasileiros como também para outros países, tais como a Alemanha, o Canadá e os Estados Unidos.
Nesse processo de expansão, a prática passou a ser reconhecida como grupo percussivo. Esses grupos são formados por pessoas majoritariamente brancas e começaram a surgir no final dos anos 1990.
→ Maracatu rural ou de baque solto
O maracatu rural ou de baque solto, também conhecido como de orquestra, é tradicional da Zona da Mata, situada no norte do estado de Pernambuco.
A origem desse tipo de maracatu está associada aos engenhos de cana-de-açúcar. A manifestação começou a ser praticada pelos trabalhadores rurais que trabalhavam no plantio e no corte da cana.
Diante do contexto de violência vivenciada por esses camponeses, o maracatu rural surgiu como uma forma de expressar a liberdade e contestar o autoritarismo dos senhores de engenho.
No que se refere aos personagens e elementos desse tipo de maracatu, o protagonista do maracatu rural é o caboclo de lança. A fantasia chama a atenção, e ele realiza movimentos com lanças em diferentes direções. Além dos caboclos de pena, há as baianas e as damas de buquê.
Os personagens formam dois círculos. Os caboclos de lança formam um círculo maior e externo. Em um círculo menor, ficam as baianas e as damas de buquê.
Ao centro, ficam a corte, os caboclos de pena e o estandarte. O caboclo de pena, conhecido também como arreia-má (que quer dizer “o que tira o mal”), é um elemento figurativo do catimbó.
Importante: As sambadas são conhecidas como o encontro de dois grupos de maracatu. Nelas, os mestres fazem duelos de trechos poéticos improvisados. A disputa é marcada por um momento de descontração e leveza entre os presentes.
Acesse também: Frevo — outra manifestação cultural que se originou no estado de Pernambuco
Instrumentos do maracatu
Confira quais são os instrumentos do maracatu:
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Alfaias: tambores grandes que são revestidos de peles dos dois lados. Eles são formados por um sistema de amarração de cordas que conduz sua afinação. São diversos em tamanho, função, efeito sonoro e materiais de confecção. Exemplos são o compensado e a macaíba.
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Gonguê: instrumento de percussão feito de ferro que mede de 20 a 30 cm. A estrutura é formada por uma espécie de sino com uma boca achatada e uma haste.
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Caixa de guerra: tambor revestido de peles nos dois lados que produz um som rufado.
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Ganzá: é formado por um tubo feito de metal ou de plástico que forma um chocalho. Seu som é produzido por grãos de cereais ou areia colocados no compartimento interno.
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Xequerê ou agbê: é uma cabaça envolvida por miçangas. Possui uma função complementar ao batuque e semelhante ao ganzá.
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Atabaque: é um tambor cilíndrico baixo de origem africana muito comum no candomblé.
Créditos de imagem
[1] Erica Catarina Pontes / Shutterstock
[2] Tetraktys / Wikimedia Commons (reprodução)
[3] Laila Santana / Prefeitura de Olinda / Wikimedia Commons (reprodução)
[4] Passarinho / Prefeitura de Olinda / Wikimedia Commons (reprodução)
[5] Elysangela Freitas / Shutterstock
Por Lucas Afonso
Jornalista