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A piracema é um fenômeno que ocorre com diversas espécies de peixes ao redor do mundo, sendo uma importante estratégia reprodutiva. A palavra piracema vem do tupi e significa “subida do peixe”. O processo recebe esse nome, porque, todos os anos, algumas espécies de peixes nadam rio acima em busca de locais adequados para reprodução e alimentação.
A piracema garante que o peixe complete seu ciclo de vida e dê continuidade à sua espécie. Quando o fenômeno é interrompido de alguma forma, a reprodução é prejudicada, pois a interrupção interfere no desenvolvimento das gônadas, na maturação dos gametas e na desova.
A piracema ocorre em períodos chuvosos e, como o Brasil é um país de grandes proporções, não ocorre no mesmo período em todo o seu território. No período da piracema, a pesca deve obedecer normativas de cada região. São exemplos de peixes de piracema:
- piapara,
- salmão,
- piramutaba,
- dourado.
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Tópicos deste artigo
- 1 - O que é a piracema?
- 2 - Quando ocorre a piracema?
- 3 - A influência das barragens na piracema
- 4 - Restrição da pesca durante a piracema
O que é a piracema?
A piracema é o período em que determinadas espécies de peixes enfrentam grandes jornadas rio acima a fim de garantir um local adequado para sua desova e alimentação. Durante a piracema, os peixes nadam contra a correnteza em cardumes, vencendo obstáculos naturais, como as cachoeiras, e também aqueles criados pelo homem, como barragens hidrelétricas. Algumas espécies nadam mais de dois mil quilômetros até alcançarem as nascentes, sendo uma viagem exaustiva, mas essencial para a reprodução.
A migração dos peixes é extremamente importante para o sucesso reprodutivo, uma vez que ela estimula o desenvolvimento dos ovários e testículos, maturação dos gametas e a desova. Durante o percurso rio acima, uma série de alterações hormonais são desencadeadas, preparando o animal para a reprodução. Fatores ambientais, como chuva e temperatura, estão relacionados com a produção de hormônios.
No momento da fecundação, que ocorre externamente em peixes migratórios, a fêmea lança óvulos na água para que os machos os fertilizem. Após a fecundação, a correnteza leva os ovos, os quais podem atingir águas mais calmas, que garantem o desenvolvimento do alevino. Vale destacar que os ovos podem sofrer com predadores e condições ambientais desfavoráveis, fazendo com que muitos deles não atinjam a fase adulta.
Quando ocorre a piracema?
A piracema ocorre nos períodos de chuva, épocas em que se observa uma maior abundância de alimentos, o que é fundamental para os peixes em migração. Além disso, com o acúmulo de detritos nos rios, a visibilidade na água é reduzida, o que ajuda os peixes a protegerem-se de predadores.
Como o período de chuvas varia em cada região, não há como determinar com exatidão um período de ocorrência de piracema em todo o território nacional, entretanto, em grande parte do país o período inicia-se em novembro e estende-se até o fim do mês de fevereiro do ano seguinte.
A influência das barragens na piracema
Um grande obstáculo para a piracema é a presença de barragens, as quais são responsáveis por interromper os cursos dos rios. Os peixes, ao tentarem subir o rio, encontram esse obstáculo e, muitas vezes, ferem-se gravemente, além de ficarem muito exaustos. É nesse momento que muitos predadores fartam-se de alimento. Além disso, a barragem impede que os peixes encontrem o local adequado para reproduzirem-se e alimentarem-se.
Para minimizar o efeito dessas construções, foram criados sistemas para a transposição de peixes. Esses sistemas consistem, frequentemente, em uma espécie de escada que facilita a subida e descida dos peixes. Essa escada foi bastante útil nos países do hemisfério norte, entretanto, no nosso país, a escada para peixes ainda gera muita controvérsia.
Um estudo realizado em 2008 mostrou que a escada para peixes poderia favorecer a extinção desses animais, pois cardumes inteiros seriam atraídos para locais relativamente pobres. Os pesquisadores concluíram que os peixes subiam o rio, porém não desciam. Isso porque o ambiente pós-barragem não é adequado para desova e nem para o desenvolvimento de alevinos. Outros trabalhos, no entanto, mostram o contrário, que as escadas são sim importantes e que seriam benéficas.
Um trabalho realizado em uma barragem no alto do rio Paraná mostrou que muitos peixes foram observados repetindo os movimentos de descida e subida no rio anualmente utilizando a escada para peixes, mostrando que essas escadas garantiam uma boa ligação entre os ambientes acima da barragem e abaixo dela.
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Restrição da pesca durante a piracema
Durante o fenômeno da piracema, a pesca fica proibida (período de defeso), uma vez que os grandes cardumes encontram-se no seu período de reprodução. A captura de grande quantidade desses peixes nessa época pode ocasionar uma diminuição da população de uma determinada espécie, prejudicando, assim, o meio ambiente e todos que retiram do peixe o seu sustento.
O período de piracema varia nos diferentes estados do nosso país, portanto, o período de defeso da piracema também varia. Em Goiás, por exemplo, o período de defeso da piracema estende-se, geralmente, de 1º de novembro à 28 de fevereiro, enquanto, no Paraná, o período inicia-se em 1º de outubro e estende-se até o dia 1º de fevereiro.
É importante conhecer as resoluções publicadas em cada região e observar se alterações ocorreram de um ano para outro. No Paraná, por exemplo, o período de defeso terminava no dia 28 de fevereiro, porém a observação de antecipação de processo de maturação dos peixes fez com que a data fosse alterada.
Vale lembrar que o desrespeito à lei pode ocasionar, por exemplo, a aplicação de multa e apreensão do material pescado, portanto, antes de arrumar seus apetrechos e curtir uma pescaria, informe-se a respeito das espécies que podem ser capturadas, seus tamanhos mínimos e máximos e a quantidade que pode ser capturada.
É importante deixar claro também que a pesca de subsistência, realizada por ribeirinhos e populações tradicionais com finalidade apenas para o consumo doméstico, sem nenhum fim comercial, apresenta normas distintas e devem também ser consultadas nas normativas.
Por Vanessa Sardinha dos Santos
Professora de Biologia