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História da cachaça

A cachaça é uma aguardente produzida do caldo da cana-de-açúcar. Foi criada no século XVI. Sua história está ligada ao período colonial brasileiro.

Garrafa de cachaça em cima de cana-de-açúcar
A cachaça, produzida da cana-de-açúcar, era a aguardente mais popular do Brasil durante o período colonial.
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A história da cachaça começou no século XVI, durante a colonização portuguesa. A criação da bebida inicialmente se deu por meio da destilação do melaço não cristalizado, e depois passou a ser produzida do próprio caldo da cana-de-açúcar. A produção dessa aguardente foi uma forma de reaproveitar o melaço que não se cristalizava.

A cachaça era uma bebida muito utilizada na alimentação dos escravizados, sendo também consumida pelas camadas mais pobres da sociedade colonial. Essa aguardente era usada como mercadoria para escambo nos mercados de escravos na África. Portugal chegou a proibir a produção de cachaça no século XVII, tamanha popularidade.

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Tópicos deste artigo

Resumo sobre a história da cachaça

  • A história da cachaça está entrelaçada com a produção açucareira no Brasil colonial.

  • Inicialmente, sua produção era feita do melaço que não cristalizava e que era considerado sobra da produção.

  • A cachaça servia como complemento da alimentação dos escravos, e também era bastante consumida pelas camadas pobres da sociedade colonial.

  • A taxação sobre a cachaça levou a uma revolta no Rio de Janeiro, em 1660 e 1661, conhecida como Revolta da Cachaça.

  • As autoridades portuguesas chegaram a proibir a produção de cachaça no século XVII, mas a medida foi revogada no século seguinte.

Contexto histórico do surgimento da cachaça

A cachaça tem sua história diretamente relacionada com a colonização portuguesa do Brasil e a produção de açúcar. O cultivo da cana para a produção do açúcar foi introduzido no Brasil na década de 1530, pois, segundo as historiadoras Lilia Schwarcz e Heloísa Starling, as primeiras mudas de cana-de-açúcar chegaram a nosso país em 1532, sendo plantadas em São Vicente.|1|

A introdução da cana-de-açúcar no Brasil foi parte da estratégia traçada por Portugal para desenvolver uma atividade econômica na colônia. Como não haviam sido descobertos metais preciosos, o comércio de especiarias estava decadente e as terras portuguesas na América eram constantemente invadidas pelos franceses, a Coroa portuguesa decidiu implantar a produção do açúcar para incentivar a ocupação do Brasil.

O açúcar era produzido pelos portugueses nos engenhos, e os primeiros engenhos se estabeleceram inicialmente em São Vicente, ainda no ano de 1532. A produção do açúcar se consolidou como a principal atividade econômica do Brasil até o final do século XVII, e a sociedade colonial se desenvolveu em torno dela.

A escolha do açúcar se deu porque era uma mercadoria valiosa no mercado europeu, com grande retorno financeiro; Portugal tinha experiência com a produção açucareira, pois o cultivo do açúcar havia sido introduzido na Península Ibérica durante o período da ocupação muçulmana, além de Portugal ter introduzido essa produção em Açores e Madeira; por fim, o solo e o clima do Brasil eram propícios ao cultivo da cana-de-açúcar.

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Surgimento da cachaça

A cachaça surgiu como consequência da produção do açúcar, e sua fabricação se dava, em parte, com o melaço produzido nos engenhos. Uma das etapas do processo de produção do açúcar no Brasil colonial era a cristalização do açúcar, que acontecia na casa de purgar. Nesse local, o açúcar passava por um processo de branqueamento que se estendia por 40 dias.

Esse açúcar cristalizado era dividido em vários tipos, e, quanto mais branco o açúcar, mais valorizado ele era no mercado. Uma parte desse melaço, no entanto, não se cristalizava, acumulando-se no fundo dos reservatórios ou escorrendo para fora da forma. Esse melaço que não se cristalizava foi utilizado inicialmente na produção da cachaça.

Essa reutilização tinha como objetivo não desperdiçar o melaço, dando a ele alguma utilidade e potencial valor de mercado. Além da produção da cachaça, ele também poderia ser utilizado na alimentação de alguns animais, como os porcos. O melaço usado para a produzir a cachaça passava por um processo de destilação.

Os historiadores debatem sobre a origem do nome da cachaça, e uma hipótese aponta que a palavra cachaça deriva de “cachaza”, termo usado para se referir à borra de um vinho de qualidade inferior que era consumido na Península Ibérica. Durante o período colonial, usava-se o termo cachaça para mencionar a espuma produzida durante o processo de cozimento do caldo da cana.

Essa espuma era retirada e também direcionada para o consumo dos porcos (chamados de cachaços pelos portugueses). Uma segunda camada de espuma também era retirada e dada aos escravos para que eles consumissem, o que acontecia depois de passar por um processo de fermentação. Por fim, a bebida passou a ser produzida dessa espuma ou do melaço não cristalizado que fermentava. A bebida produzida pela destilação também passou a ser chamada de cachaça.

Além disso, a cachaça é popularmente conhecida como “pinga”, e uma hipótese para esse nome faz menção ao processo de produção dessa bebida. Uma história conta que a bebida foi apelidada de pinga pelos escravos porque a fervura do caldo da cana gerava um vapor que se condensava no teto e gotejava sobre eles.|2|

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Popularização da cachaça

A produção da cachaça fez com que a bebida se tornasse a aguardente mais consumida no Brasil, sendo uma bebida muito consumida pelos escravos escravizados e por pessoas de baixa renda. Entre os grupos que a consumiam, estavam “negros escravizados ou livres, mestiços de índios e negros, brancos, pobres ou vadios”.|3|

Na segunda metade do século XVI, a aguardente mais popular no Brasil era a bagaceira, produzida do bagaço da uva e do rum, outra bebida produzida por meio da fermentação e destilação do melaço oriundo da cana-de-açúcar.|4| Entretanto, a cachaça ocupou o espaço no mercado interno e externo, tornando-se a aguardente mais popular do Brasil.

A cachaça servia de complemento calórico para a alimentação das classes que a consumiam, sendo encontrada em diversas vendas e em diversas vilas do Brasil no período colonial. A cachaça também foi muito utilizada como mercadoria para escambo, e muitos traficantes de africanos escravizados adquiriam escravos usando-a como moeda. Estima-se que eram necessários 86 litros de cachaça para ter posse sobre uma pessoa escravizada na África.|4|

Proibição da cachaça

A medida que a cachaça foi se popularizando, ela passou a ser produzida com melhor qualidade, e o melaço não cristalizado passou a ser substituído pelo caldo da cana fermentado. A grande disponibilidade de cachaça prejudicava os interesses da Coroa portuguesa, que via que as aguardentes e bebidas alcoólicas vendidas por ela perdiam espaço para a cachaça.

Assim, a Coroa portuguesa proibiu a produção, comercialização e o consumo da cachaça. Em 1649, a proibição foi reafirmada por meio de uma Carta Régia, que restringia o consumo da bebida para os escravos. O objetivo da Coroa, novamente, era acabar com a concorrência da cachaça para as bebidas exportadas por Portugal.

Com a proibição, a cachaça passou a ser produzida, consumida e exportada de maneira clandestina e sem que Portugal tivesse controle. Essa proibição gerou uma grande repercussão no Rio de Janeiro por meio da Revolta da Cachaça, quando fazendeiros locais se rebelaram contra o governador Salvador Correia de Sá Benevides, que havia resolvido ampliar impostos sobre a produção local.

Essa revolta aconteceu entre novembro de 1660 e abril de 1661, sendo controlada pelas autoridades portuguesas ao final desse período. A proibição da produção e venda da cachaça só foi revogada na década de 1750, quando a Coroa portuguesa deu permissão para o retorno, mas estabeleceu impostos para tanto. Os impostos sobre a cachaça contribuíram para a reconstrução de Lisboa, destruída por um terremoto em 1755.

Notas

|1| SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 54.

|2| Idem, p. 74.

|3| Idem, p. 131.

|4| JÚNIOR, Raul Natale et al. A história e a química da cachaça. Ponta Grossa: Atena, 2021, p 13.

 

Por Daniel Neves
Professor de História

Escritor do artigo
Escrito por: Daniel Neves Silva Formado em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e especialista em História e Narrativas Audiovisuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atua como professor de História desde 2010.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SILVA, Daniel Neves. "História da cachaça"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/curiosidades/a-origem-cachaca.htm. Acesso em 21 de dezembro de 2024.

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