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Anthony Giddens

Anthony Giddens é mais conhecido por uma teoria da estruturação que tenta superar a dicotomia entre determinismo e individualismo.

O renomado sociólogo britânico Anthony Giddens.[1]
O renomado sociólogo britânico Anthony Giddens.[1]
Crédito da Imagem: Wikimedia Commons
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Anthony Giddens é um destacado sociólogo britânico, conhecido por suas contribuições teóricas e práticas no campo da sociologia e política. Ele lecionou em diversas universidades no mundo antes de cofundar a Polity Press e ocupar o cargo de diretor da London School of Economics and Political Science (LSE) entre 1997 e 2003.

Como conselheiro do então primeiro-ministro Tony Blair, Giddens desenvolveu o conceito da "terceira via", que propunha uma alternativa à dicotomia tradicional entre esquerda e direita. Suas ideias principais incluem a teoria da estruturação, a crítica à pós-modernidade e o conceito de dupla hermenêutica.

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Tópicos deste artigo

Resumo sobre Anthony Giddens

  • Anthony Giddens nasceu em Londres, em 1938, e é um renomado sociólogo, educador e conselheiro político britânico.
  • Foi diretor da London School of Economics and Political Science (LSE) de 1997 a 2003, sendo posteriormente nomeado professor emérito, no mesmo período em que atuou como conselheiro do primeiro-ministro britânico Tony Blair.
  • Anthony Giddens ajudou a desenvolver o conceito da "terceira via", uma alternativa política além da dicotomia entre esquerda e direita.
  • Tornou-se membro da Câmara dos Lordes em 2004, recebendo o título vitalício de Barão Giddens de Southgate.
  • Escreveu mais de 30 livros, incluindo Sociology (2006), Europe in the Global Age (2007) e Over to You, Mr. Brown (2007).
  • Sua teoria da estruturação aborda a interdependência entre agência humana e estrutura social, superando a dicotomia entre determinismo e individualismo.
  • Giddens rejeita o termo "pós-modernidade", preferindo "modernidade tardia", marcada pela reflexividade e globalização.

Videoaula sobre Anthony Giddens

Biografia de Anthony Giddens

Anthony Giddens nasceu em 18 de janeiro de 1938 (Londres, Inglaterra). Formado como sociólogo e teórico social, lecionou em universidades na Europa, América do Norte e Austrália antes de cofundar uma editora acadêmica, a Polity Press, em 1985.

Em 1997, Anthony Giddens se tornou diretor da London School of Economics and Political Science (LSE), cargo que ocupou até 2003. No mesmo período, Anthony Giddens atuou como um influente conselheiro do primeiro-ministro britânico Tony Blair, junto ao qual Giddens desenvolveu o conceito de uma "terceira via" – um programa político não limitado pela dicotomia tradicional entre esquerda e direita – que foi visto como base para o governo trabalhista de Blair.

Posteriormente, Anthony Giddens foi nomeado professor emérito da LSE e tornou-se membro da Câmara dos Lordes, recebendo o título vitalício de Barão Giddens de Southgate, no distrito londrino de Enfield. Anthony Giddens é autor de mais de 30 livros, incluindo Sociology (5ª ed., 2006), Europe in the Global Age (2007) e Over to You, Mr. Brown – How Labour Can Win Again (2007).

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Principais ideias de Anthony Giddens

As principais ideias de Anthony Giddens contribuíram para a interpretação da sociologia clássica. Anthony Giddens critica as análises unidimensionais dos pais fundadores da sociologia, para os quais a modernidade se explica por um fator único: o capitalismo em Karl Marx, a racionalização em Max Weber ou o industrialismo em Émile Durkheim. Para Anthony Giddens, a modernidade é multidimensional.

  1. Teoria da estruturação: ultrapassar o objetivismo e o individualismo

Entre suas principais ideias, está a introdução do conceito de estruturação para designar a dependência mútua entre a agência humana, definida como capacidade de realizar coisas, e a estrutura social. Anthony Giddens apresenta uma teoria da estruturação social que tenta superar uma oposição clássica da sociologia. Trata-se da dicotomia entre uma sociologia determinista, em que as imposições e as estruturas são predominantes, e uma sociologia individualista, que leva em conta as margens de liberdade e as competências individuais dos atores.

Para Anthony Giddens, esta dicotomia está ultrapassada porque existe uma dualidade estrutural do social. Em outras palavras, Giddens afirma que as estruturas sociais não são barreiras repressoras da ação humana nem impedem a capacidade de ação do agente social. As estruturas sociais estão, pelo contrário, intimamente implicadas na produção da ação, uma vez que fornecem os meios pelos quais os atores sociais agem, bem como avaliam os resultados dessa ação.

  1. Crítico da pós-modernidade

Anthony Giddens é um dos críticos da chamada pós-modernidade e prefere não usar esse termo. Ele defende que estamos experimentando a modernidade tardia, marcada pela radicalização e globalização de traços básicos da modernidade. Um desses traços é a reflexividade, isto é, a capacidade dos agentes sociais de compreender o que fazem quando estão fazendo.

A modernidade tardia, continua Giddens, caracteriza-se por uma produção jamais vista de informações e de conhecimentos que reforçam essa reflexividade dos indivíduos. Sendo assim, torna-se rotineira a incorporação pelos agentes sociais de novos conhecimentos e informação, que, desse modo, atuam e reorganizam as estruturas sociais da modernidade tardia.

À medida que o conhecimento sobre a sociedade cresce – por exemplo, sobre aquecimento global e mudanças climáticas –, ele é usado pelos agentes em suas decisões pessoais. Dessa forma, a evolução do aquecimento global e das mudanças climáticas depende de fatores objetivos, por exemplo o derretimento das calotas polares, e também de fatores subjetivos, como os conhecimentos que as pessoas têm das mudanças climáticas e do julgamento que fazem sobre o assunto.

  1. Dupla hermenêutica

Para explicar a maneira com os sociólogos interpretam a vida e o comportamento social, Anthony Giddens adota a expressão “dupla hermenêutica”. Em primeiro lugar, se queremos compreender o comportamento de indivíduos, temos que saber alguma coisa sobre o que eles pensam que estão fazendo e por que, como extraem sentido da sociedade em que vivem e da ação de outras pessoas. Em segundo lugar, quando observamos a vida social, utilizamos também conceitos que ajudam a explicar o que está acontecendo, como sistema social ou sexo e gênero.

É improvável, contudo, que indivíduos que participam da vida social usem esses termos para descrever e interpretar seu próprio comportamento. Um homem acusado de assediar sexualmente uma colega de trabalho, por exemplo, poderia estar consciente apenas dos sentimentos pessoais que tem por ela. Já o sociólogo poderia também levar em conta a diferença entre os sexos em comunicação e o sistema social orientado para o homem no qual tudo isso aconteceu.

O conceito de dupla hermenêutica chama atenção para o fato de que qualquer explicação da vida social depende de ambos os tipos de conhecimento — o conhecimento de como pessoas extraem sentido de suas próprias vidas e o conhecimento que sociólogos trazem para os fatos que observam.

Anthony Giddens ao lado do então primeiro-ministro britânico Tony Blair, de quem foi assessor político.[2]
Anthony Giddens ao lado do então primeiro-ministro britânico Tony Blair, de quem foi assessor político.[2]

Anthony Giddens e a teoria da estruturação

Anthony Giddens é talvez mais conhecido por sua teoria de estruturação, que estuda a ligação entre indivíduos e sistemas sociais. Em sua teoria de estruturação, Anthony Giddens argumenta que é um erro descrever sistemas sociais e ação individual como separados entre si porque ambos só existem em relação recíproca.

Ele afirma que as estruturas sociais não são barreiras repressoras da ação humana nem impedem a capacidade de ação do agente social, mas, pelo contrário, sistemas e estruturas sociais são condições para produção da ação, uma vez que fornecem os meios pelos quais os atores sociais agem, bem como avaliam os resultados dessa ação.

Por exemplo, não há jogador de futebol sem o jogo de futebol, com todas as regras e relacionamentos estruturados entre os jogadores. Mas é verdade também que são os indivíduos que criam a realidade do jogo de futebol, cada vez que disputam uma partida. Quando jogam, os indivíduos utilizam um conhecimento que é comum, mas pode desenvolvê-lo de forma original e autoral sempre que joga uma partida.

Nesse sentido, a teoria da estruturação de Anthony Giddens preconiza a dualidade de estrutura, isto é, a estrutura de um sistema proporciona aos atores individuais aquilo de que precisam para produzir, como resultado, a própria estrutura. Assim, a sociedade é uma criação permanente ligada ao trabalho dos agentes sociais, mas a ação criadora do social está condicionada por estruturas já estabelecidas e tende também a se estabilizar numa ação rotineira. Portanto, segundo a teoria da estruturação de Giddens, a ação social e a estruturação são as duas faces da mesma realidade social.

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O paradoxo de Giddens

O paradoxo de Giddens, como apresentado por Anthony Giddens em sua obra The Politics of Climate Change, refere-se à contradição entre o conhecimento amplo sobre os riscos das mudanças climáticas e a ausência de ações efetivas para enfrentá-los. Esse paradoxo emerge do caráter abstrato da ameaça climática, que não é imediatamente perceptível no espaço ou no tempo. Apesar de a ciência oferecer prognósticos alarmantes sobre o futuro, as práticas cotidianas permanecem inalteradas, marcadas por uma confiança passiva nos sistemas abstratos e pela dificuldade de mobilizar mudanças concretas.

Giddens argumenta que esperar por sinais mais visíveis das mudanças climáticas será tarde demais, destacando a necessidade de ação proativa. Contudo, a complexidade e a distância temporal dos impactos dificultam a inclusão dessas questões no planejamento cotidiano, revelando os limites da confiança em tempos de desencaixe espaço-temporal.

Esse paradoxo também reflete as tensões entre as esferas individual e institucional. Enquanto no nível institucional há canais mais estabelecidos para negociação e cobrança de políticas climáticas, no plano individual as mudanças dependem da capacidade dos agentes de reconfigurar suas rotinas e práticas. Giddens enfatiza que a ação depende da agência dos indivíduos, ou seja, da capacidade de "fazer diferença" em relação aos cursos de eventos preexistentes.

No entanto, a segurança ontológica sustentada pelas rotinas dificulta a reação ao caráter abstrato das previsões climáticas. Para superar esse impasse, ele propõe conceitos como o "Estado assegurador" e estratégias de convergência econômica e política que integrem mudanças estruturais com as práticas cotidianas. Assim, o paradoxo de Giddens evidencia o desafio central da modernidade: alinhar o conhecimento técnico-científico às ações práticas necessárias para enfrentar os riscos globais.

Anthony Giddens e a desigualdade social

Anthony Giddens preconizou o tema da desigualdade social quando passou da teoria à ação e se tornou conselheiro de Tony Blair, que foi o primeiro-ministro do Reino Unido entre 1997 e 2007. Em 1998, ambos escreveram, em parceria, um livro intitulado A Terceira Via, no qual Anthony Giddens expõe sua filosofia política para a desigualdade social.

Os defensores da “terceira via" afirmam que com o relativo declínio do trabalho assalariado, o crescimento do precariado, as mutações da família, o aumento dos custos e riscos sociais o Estado de bem-estar social já não pode mais funcionar na mesma base. Então é preciso reformá-lo para evitar os efeitos perversos da desigualdade social.

Obras de Anthony Giddens

As obras de grande valor que escreveu incluem:

  • Capitalismo e a teoria social moderna (1971);
  • Política e sociologia no pensamento de Max Weber (1972);
  • A estrutura de classe das sociedades avançadas (1973);
  • Novas regras do método sociológico (1976);
  • Estudos de teoria social e política (1977);
  • Émile Durkheim (1978)
  • Problemas centrais da teoria social (1979);
  • Uma crítica contemporânea do materialismo (1981);
  • Sociologia (1982);
  • Perfis e críticas da teoria social (1983);
  • A constituição da sociedade (1984).

Importância de Anthony Giddens

A importância de Anthony Giddens pode ser vislumbrada pelos prêmios que o reconhecem. Além de ser membro da Câmara dos Lordes e receber o título de barão, foi-lhe atribuído em 2002 o Prêmio Príncipe das Astúrias para as Ciências Sociais, pela sua contribuição na área de desenvolvimento estrutural das sociedades avançadas.

Em 2004 recebeu o título de Baron Guiddens de Southgate em The London Borough of Enfield and sites in the House of Lords for Labour. Em junho de 2020 recebeu a Cátedra e o Prêmio Ame Naess da Universidade de Oslo, Noruega, em reconhecimento por suas contribuições para o estudo das questões ambientais e mudanças climáticas.

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Frases de Anthony Giddens

“A natureza especializada da capacidade moderna contribui diretamente para o caráter errático e descontrolado da modernidade.”

“A confiança, de níveis e tipos variados, está na base de muitas decisões cotidianas que tomamos na orientação de nossas atividades.”

"Viver no universo da modernidade tardia é viver em um ambiente de chance e risco, os concomitantes inevitáveis de um sistema voltado para a dominação da natureza e a construção reflexiva da história."

“A especialização é na realidade a chave para o caráter dos sistemas abstratos modernos.”

Créditos da imagem

[1] LSE Library / Wikimedia Commons (reprodução)

[2] LSE Library / Wikimedia Commons (reprodução)

Fontes

GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. São Paulo: Editora UNESP, 1991.

GIDDENS, Anthony. Modernidade e identidade. Tradução de Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002.

GIDDENS, Anthony. A transformação da intimidade: sexualidade, amor e erotismo nas sociedades modernas. Tradução de Magda Lopes. São Paulo: Editora UNESP, 1993.

GIDDENS, Anthony. Para além da esquerda e da direita: o futuro da política radical. Tradução de Álvaro Hattnher. São Paulo: Editora UNESP, 1996.

GIDDENS, Anthony. A terceira via: reflexões sobre o impasse político atual e o futuro da social-democracia. Tradução de Magda Lopes e Álvaro Hattnher. São Paulo: Editora UNESP, 1999.

GIDDENS, Anthony. O mundo em descontrole: o que a globalização está fazendo de nós. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Record, 2000.

GIDDENS, Anthony; TURNER, Jonathan (Orgs.). Teoria social hoje. São Paulo: Editora UNESP, 1999.

GIDDENS, Anthony; WATERS, Malcolm; HELD, David; HALL, Stuart (Orgs.). Modernidade tardia e identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000.

GIDDENS, Anthony; SUTTON, Philip W.. Conceitos essenciais da sociologia (2ª edição). São Paulo: Editora UNESP, 2014.

GIDDENS, Anthony; DUNEIER, Mitchell; APPELBAUM, Richard P.; CARR, Deborah (Orgs.). Sociologia (6ª edição). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2008 (tradução portuguesa).

Escritor do artigo
Escrito por: Rafael Pereira da Silva Mendes Licenciado e bacharel em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atuo como professor de Sociologia, Filosofia e História e redator de textos.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

MENDES, Rafael Pereira da Silva. "Anthony Giddens"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/anthony-giddens.htm. Acesso em 17 de março de 2025.

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