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Selfie ou autorretrato?

Qual é o termo correto, selfie ou autorretrato? Alguns acusam a questão como mais um caso de estrangeirismo desnecessário, outros como um exemplo das variações linguísticas.

Eleita a palavra do ano de 2013, o vocábulo selfie já é uma realidade entre os falantes da língua portuguesa
Eleita a palavra do ano de 2013, o vocábulo selfie já é uma realidade entre os falantes da língua portuguesa
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Quem diria que por detrás do inofensivo ato de fazer uma selfie existe um problema de ordem linguística, não é verdade? Você mesmo talvez nem imaginasse que aquela sua mania de tirar fotografias de si mesmo poderia transformar-se em um assunto polêmico entre os linguistas (eles estão sempre de olho nos falantes!). Mas saiba que a discussão é antiga, não surgiu agora com a popularização da palavra selfie.

Temos aí mais um elemento para a discussão sobre o emprego dos estrangeirismos: afinal, você faz uma selfie ou autorretrato? É inquestionável que a primeira opção é a mais utilizada entre os falantes da língua portuguesa, muito embora ela seja uma palavra de origem inglesa. A palavra selfie é uma abreviação do termo selfie-portrait, que significa — adivinhe você — autorretrato. Quer dizer então que fazer uma selfie é o mesmo que fazer um autorretrato? Quer dizer então que temos uma expressão equivalente na língua portuguesa para o estrangeirismo em questão? Sim é a resposta para ambas as perguntas. Mas por que será que nós preterimos o vocábulo tupiniquim?

Bom, a resposta é fácil: o termo selfie popularizou-se quando os usuários da internet começaram a fazer autorretratos e postá-los nas redes sociais. Essa é a finalidade de uma selfie, portanto, mais um produto da era digital. A mania começou quando a palavra, assim, abreviada, apareceu na legenda de uma imagem publicada em um fórum australiano (a fotografia em questão mostrava o resultado de uma noite de bebedeira entre amigos). Portanto, como ela surgiu na Austrália, cujo idioma oficial é o inglês, é normal que ela corresse o mundo com a grafia e a pronúncia de sua língua de origem, não é mesmo?

A palavra selfie ganhou adesão dos falantes, que preferem o estrangeirismo à palavra equivalente na língua portuguesa
A palavra selfie ganhou adesão dos falantes, que preferem o estrangeirismo à palavra equivalente na língua portuguesa

A língua inglesa é considerada uma espécie de “língua coringa” na informática, e os termos em inglês (um dos idiomas mais falados no mundo) facilitam a comunicação e a difusão da informação, isso é inegável. Dizer que vai fazer uma selfie em vez de dizer que vai fazer um autorretrato não quer dizer que você esteja fazendo apologia ao estrangeirismo, vício de linguagem que, conforme os linguistas mais radicais e menos complacentes com os empréstimos linguísticos, subjugaria o idioma nativo e implantaria uma revolução yankee no país. Acontece que a palavra selfie é, indiscutivelmente, mais simpática do que nosso “autorretrato”, que além de formal demais para o gosto popular, recentemente passou por modificações para adequá-la ao novo acordo ortográfico.

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A verdade é, antes de gritar para o mundo todo ouvir que os estrangeirismos são nocivos à nossa identidade cultural, lembre-se de considerar que a língua é um organismo vivo, vulnerável às variações linguísticas e a todo tipo de elementos inseridos no idioma pelos falantes, que são os verdadeiros donos da língua portuguesa. É lógico que você não vai sair por aí distribuindo estrangeirismos em todas as frases que disser, mesmo porque uma das principais funções da língua é a comunicabilidade, ou seja, a propriedade de transmitir e compreender uma mensagem que seja inteligível. Preferir selfie a autorretrato não significa necessariamente que o vocábulo vá ser legitimado como parte do léxico oficial. A palavra circula, principalmente, na modalidade oral, e quem consegue controlar tudo o que os falantes dizem? Seria como lutar contra moinhos de vento, tal qual “Dom Quixote” da língua, tal qual Policarpo Quaresma, personagem de Lima Barreto que defendia o regresso ao Tupi-Guarani. Opte pelo bom senso linguístico. Sempre!

Curiosidade: A palavra selfie já é tão popular que, no ano de 2013, os responsáveis pelos dicionários da Oxford, da Universidade de Oxford (a mais antiga universidade do mundo anglófono), escolheram selfie a palavra do ano! O motivo para a escolha é simples: em 2013, seu emprego cresceu 17.000% (!!!), o que a tornou uma das palavras mais procuradas nos buscadores da internet.


Por Luana Castro
Graduada em Letras

Escritor do artigo
Escrito por: Luana Castro Alves Perez Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

PEREZ, Luana Castro Alves. "Selfie ou autorretrato?"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/redacao/selfie-ou-autorretrato.htm. Acesso em 21 de dezembro de 2024.

De estudante para estudante


Lista de exercícios


Exercício 1

(UFSC – 2009)

Estrangeirismos: “skate” ou “esqueite”?

Um dos fatores relevantes de variedade linguística são os empréstimos vocabulares em consequência do intercâmbio cultural, político e econômico entre as nações. Em geral, os países mais poderosos acabam “exportando” para os países menos poderosos palavras que definem novos objetos e necessidades em novas áreas de conhecimento. Em princípio, não há nada de mau nesse intercâmbio vocabular, a importação de vocabulário está na essência mesmo do crescimento das línguas modernas. Por exemplo, praticamente 50% das palavras da língua inglesa são de origem latina, em decorrência da dominação do Império Romano e, mais tarde, da dominação dos normandos, embora o inglês seja uma língua não latina.

[...]

Modernamente, temos um exemplo fortíssimo no Brasil: o crescimento da informática entre nós acabou importando uma grande quantidade de palavras de origem inglesa para designar objetos e funções antes inexistentes. Nesse processo histórico, algumas palavras importadas “pegam” e se incorporam à língua, adaptando-se foneticamente, isto é, aos sons do português [...], e outras são substituídas. Durante um tempo, a palavra estrangeira transita “entre aspas”, até se adaptar ou ser substituída por outra. Exemplos: football adaptou-se para futebol, mas corner, de largo uso antigamente, acabou sendo substituída por escanteio. No caso da informática, já se usa salvar no lugar do inglês save (quando poderia ser usado simplesmente gravar), mas software ainda está à solta, à procura de uma solução... A palavra mouse (= camundongo), para designar o popular utensílio de amplíssimo uso nos computadores, ainda continua grafada em inglês, mas não é impossível que em pouco tempo ela esteja nos dicionários como mause, definitivamente incorporada ao nosso léxico (como o Aurélio, por exemplo, já oficializou a palavra máuser, designando um tipo de arma de origem alemã).

[...]

É bom lembrar que o empréstimo vocabular não é sinal de “decadência da língua”, mas justamente de vitalidade de sua cultura, em confluência com outras culturas e outras linguagens. E esse é, de fato, um terreno em que pouco se pode fazer oficialmente – o uso cotidiano da língua, multiplicado na diversificação de atividades dos seus milhões de usuários, pela fala e pela escrita, acaba separando o joio do trigo, consagrando formas novas e fazendo desaparecer outras. O fato é: não precisamos ter medo, porque a língua não corre perigo! Na verdade, os que correm perigo muitas vezes são os seus falantes, mas por outras razões!

FARACO, Carlos Alberto; TEZZA, Cristóvão. Oficina de texto. Petrópolis: Vozes, 2003. p. 37-38. [Adaptado]

Considerando o texto assinale a alternativa correta:

I. A pergunta formulada no título é respondida no texto: os autores defendem a grafia “skate”, pois se trata de um empréstimo vocabular.

II. Uma das razões pelas quais as línguas variam e mudam são os empréstimos linguísticos.

III. Os exemplos apresentados no terceiro parágrafo evidenciam a exportação e a importação de palavras feitas pelo Brasil, isto é, um intercâmbio vocabular.

IV. A importação de palavras em uma língua pode se resolver de duas maneiras: ou as palavras estrangeiras são incorporadas à língua, ou são substituídas por outras.

V. O uso de estrangeirismos não passa de um modismo elitista alimentado pela mídia nas áreas do esporte e da informática.

VI. Quem soluciona a questão dos estrangeirismos são os próprios falantes no uso diário da língua. VII. O estrangeirismo deve ser oficialmente combatido, pois coloca em risco a autonomia da língua portuguesa.

a) I, II, III, IV e VI.

b) Todas estão corretas.

c) V e VII.

d) II, III, V e VII.

e) I, III, IV e VI.

Exercício 2

(Enem – 2002)

Só falta o Senado aprovar o projeto de lei [sobre o uso de termos estrangeiros no Brasil] para que palavras como shopping centerdelivery e drive-through sejam proibidas em nomes de estabelecimentos e marcas. Engajado nessa valorosa luta contra o inimigo ianque, que quer fazer área de livre comércio com nosso inculto e belo idioma, venho sugerir algumas outras medidas que serão de extrema importância para a preservação da soberania nacional, a saber:

........

Nenhum cidadão carioca ou gaúcho poderá dizer "Tu vai" em espaços públicos do território nacional;

Nenhum cidadão paulista poderá dizer "Eu lhe amo" e retirar ou acrescentar o plural em sentenças como "Me vê um chopps e dois pastel";

..........

Nenhum dono de borracharia poderá escrever cartaz com a palavra "borraxaria" e nenhum dono de banca de jornal anunciará "Vende-se cigarros";

..........

Nenhum livro de gramática obrigará os alunos a utilizar colocações pronominais como "casar-me-ei" ou "ver-se-ão".

PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 8/04/2001.

No texto acima, o autor:

a) mostra-se favorável ao teor da proposta por entender que a língua portuguesa deve ser protegida contra deturpações de uso.

b) ironiza o projeto de lei ao sugerir medidas que inibam determinados usos regionais e socioculturais da língua.

c) denuncia o desconhecimento de regras elementares de concordância verbal e nominal pelo falante brasileiro.

d) revela-se preconceituoso em relação a certos registros linguísticos ao propor medidas que os controlem.

e) defende o ensino rigoroso da gramática para que todos aprendam a empregar corretamente os pronomes.