Conheça Marina Aggio, de jogadora da seleção brasileira à pesquisadora sobre futebol feminino
Conheça Marina Aggio, de jogadora da seleção brasileira à pesquisadora sobre futebol feminino
Com 20 anos de carreira como atleta profissional no futebol feminino, Marina Aggio (41) atualmente é professora de Educação Física
Em 20/07/2023 12h19
, atualizado em 21/07/2023 08h45
Ouça o texto abaixo!
PUBLICIDADE
Na pequena Iretama, no Paraná, Marina Aggio, ainda menina, alimentava um grande desejo de jogar bola. Assim como ainda acontece, nos anos 90 existia muito preconceito em meninas praticarem futebol. Mas, com o apoio dos pais, José Aggio e Luiza Toscano, a jovem decidiu escrever sua história na modalidade.
Aos 11 anos já começava suas primeiras vivências no campo. Mas foi com 14 anos que a profissionalização se iniciou. O processo foi permeado de desafios, aprendizados, dores, saudades e muitas conquistas em 20 anos de carreira.
Com passagens pela seleção brasileira e em diversos times de futebol feminino no Brasil e na Europa, Marina Aggio (41), hoje em dia, ocupa outro tipo de campo, o da sala de aula.
Ela é professora no curso de Educação Física do Centro Universitário Internacional (Uninter), pesquisadora e palestrante sobre futebol feminino e relação de gênero no esporte e, também atua como asessora no Departamento de Esportes e Lazer de Iretama (PR).
Marina começou o processo de profissionalização no futebol feminino por volta dos 14 anos, quando tinha que deslocar 60km de Iretama (PR) para Campo Mourão (PR).
Era somente ela em meio a 150 meninos. O ambiente predominantemente masculino não impediu a jovem de continuar a treinar e jogar. Ela conta que sempre houve respeito em casa, e que ela trazia esse aspecto para outros espaços, "nunca permiti desrespeito".
Um dos grandes desafios para as mulheres no futebol, destaca Marina, é o preconceito. Por muito tempo a prática foi proibida de ser vivenciada por mulheres no país e isso reflete na forma como a sociedade lida com o futebol hoje em dia, argumenta Marina.
No seu caso, ela conta que sempre teve o apoio da família e isso foi fundamental para que ela pudesse continuar e construir sua carreira no esporte.
Sair de casa muito cedo, viver longe da família e conviver com a saudade dos seus, foram situações desafiadoras nesses anos de jogadora profissional para a paranaense.
"Eu diria para as Marinas que jogam futebol feminino hoje, que o caminho é muito árduo, existe muita saudade, muitos desafios, muitas dores, abdicações. Abdicamos de muitas coisas quando partimos para o mundo do alto rendimento. Mas vale muito a pena".
Marina Toscano Aggio, ex-jogadora de futebol, professora e pesquisadora
Outro ponto que ela destaca foi a procura por locais que tivessem uma boa estrutura de treinamento, que pudesse manter seu alto rendimento no esporte.
Ao longo de seus 20 anos de carreira profissional no futebol, ela passou tanto por times brasileiros quanto por clubes europeus. Na Europa foram seis anos jogando na Suécia e na Itália.
Entre os grandes aprendizados que Marina relata está a troca cultural e a oportunidade de adquirir diversas vivências e conhecer pessoas a partir do futebol.
Com 29 passagens pela seleção brasileira, Marina já entrou em campo com grandes nomes do futebol feminino do Brasil como Marta, Formiga e Debinha.
Em 2010, ela conquistou o título do Campeonato Sul-Americano junto com suas colegas da seleção.
"Há muito orgulho em representar a seleção brasileira, mas junto a isso é necessário sabedoria em lidar com as emoções que vão surgindo por estar nesse lugar, entre as melhores do país", afirma Marina.
A ex-jogadora conta que há uma constante comparação com a equipe masculina de futebol, uma vez que eles conquistaram cinco títulos mundias e elas ainda não.
Quanto a isso, ela é enfática "cada um tem sua história, o futebol feminino tem a sua e o masculino outra".
Quando Marina parou de jogar futebol, em 2014, ela havia conquistado a tríplice coroa, formada pelos títulos do Brasileirão, a Copa do Brasil e o Campeonato Paulista.
Marina decide continuar no universo do futebol feminino, agora sob a perspectiva da docência. Atualmente ela atua como professora de Educação Física na Uninter.
Ela relata que ao contrário da maioria de suas colegas atletas, durante a rotina de treinamento ela conciliava seus estudos na graduação e pós-graduação. Se preparava para ser professora.
"Saí do esporte de alto rendimento em que eu era reconhecida e fui para a docência, onde tive que me reconstruir enquanto docente. Até hoje trabalho com a formação continuada. Justamente para eu continuar me aprofundando na pesquisa sobre futebol feminino. Falo de gênero, da dificuldade em atingir equidade no futebol feminino, mas falo da história."
Marina Toscano Aggio, ex-jogadora de futebol, professora e pesquisadora
A educadora defende que as pessoas precisam compreender a história do futebol feminino para entender a relação da mulher com o futebol na atualidade.
"Sou muito feliz sendo professora, porque eu consigo dividir a prática que tive de 20 anos com a teoria que trabalho. Sou muito grata ao esporte. E ainda ao que eu posso fazer pelo esporte. Hoje eu não estou dentro das quatro linhas, optei por não ser treinadora, supervisora... entendi que eu tinha que ser professora".
Marina Toscano Aggio, ex-jogadora de futebol, professora e pesquisadora
Toda essa bagagem como jogadora de futebol enriquece seu processo enquanto profissional da educação na universidade. "Trabalho na vertente de enxergar o cenário do campo e extracampo do treinamento esportivo".
Um de seus cuidados enquanto educadora é trabalhar o olhar crítico que as e os profissionais da Educação Física devem ter quanto ao futebol feminino.
Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)
Copa do Mundo Feminina 2023
A Copa do Mundo Feminina 2023 começou hoje (20) e segue até o dia 20 de agosto. Pela primeira vez o campeonato é sediado por dois países, Austrália e Nova Zelândia. Outra novidade é a participação de 32 seleções no torneio.
Marina Aggio reforça a importância de eventos como a Copa do Mundo Feminina, já que são transmitidos em rede nacional. O dimensionamento da audiência pode direcionar meninas e mulheres que se interessem por futebol a praticar a modalidade, defende a ex-jogadora.
O futebol foi proibido para mulheres no Brasil por 40 anos, enfatiza. Esse fato, que provoca uma construção cultural, reflete na forma como a sociedade brasileira lida com a relação entre mulher e futebol hoje em dia, argumenta a pesquisadora.
Quando grandes eventos esportivos como é o caso da Copa do Mundo Feminina surgem em rede nacional há um processo que tende a afirmar que o futebol também é natural para as mulheres. Isso pode provocar uma maior igualdade e equidade na participação feminina no futebol.
A partir do momento que a TV começa a mostrar isso de uma outra forma, outro ângulo, ocorre um processo de normalização. Na perspectiva de Marina, é importante as mulheres praticarem o futebol do jeito que elas sabem, por isso o esporte pode ser um espaço de lazer e fruição para elas.
Entender que o futebol também é natural para mulheres é ir em prol da promoção de igualdade e equidade. Para que meninas e mulheres possam praticar futebol sem receios e preconceitos, defende a professora.
A pesquisadora pontua alguns desafios a serem enfrentados tal como o fortalecimento das categorias de base nos clubes para as meninas, mais calendários esportivos ao longo dos anos para as equipes e mais mulheres ocupando espaços administrativos, pedagógicos e técnicos no futebol.
É necessário consolidar o futebol feminino enquanto produto comercial, que gera renda, dinheiro e seja envolvido de publicidade e mídias sociais, acredita Aggio.