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A Tríplice Aliança foi uma aliança militar assinada por Alemanha, Áustria-Hungria e Itália em 20 de maio de 1882. Esse acordo foi parte da estratégia dessas três nações, mas sobretudo do governo alemão, para isolar os franceses e os russos no continente europeu. O tratado visava prevenir que o continente europeu se lançasse em guerra.
Esse pacto foi parte da complexa política de acordos diplomáticos estabelecida pelo chanceler alemão Otto von Bismarck. A demissão de Bismarck, em 1890, fez com que essa política fosse desmontada, tornando a política externa alemã mais agressiva. Isso contribuiu diretamente para a formação da Tríplice Entente, que uniu França, Grã-Bretanha e Rússia.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre a Tríplice Aliança
- 2 - O que foi a Tríplice Aliança?
- 3 - Contexto da Tríplice Aliança
- 4 - Primeira Guerra Mundial
Resumo sobre a Tríplice Aliança
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A Tríplice Aliança era um acordo que estabelecia uma aliança militar entre Alemanha, Áustria-Hungria e Itália.
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O acordo foi assinado em 20 de maio de 1882, considerado uma evolução da Aliança Dual, existente entre Alemanha e Áustria-Hungria.
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Os objetivos principais desse pacto era isolar franceses e russos e impedir uma nova guerra na Europa.
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A partir da década de 1890, a política externa alemã tornou-se mais agressiva, o que incentivou a formação da Tríplice Entente, formada por Rússia, França e Grã-Bretanha.
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Em 1914, a Itália foi convocada para aderir à Entente, e as negociações fizeram com que ela abandonasse a Tríplice Aliança no ano seguinte.
O que foi a Tríplice Aliança?
Tríplice Aliança é o nome pelo qual conhecemos um tratado assinado entre Alemanha, Áustria-Hungria e Itália em 20 de maio de 1882. Esse tratado correspondia a um acordo militar entre as nações e foi renovado periodicamente até sua expiração, em 1915. Foi considerado uma expansão da Aliança Dual, a aliança que existia entre Alemanha e Áustria-Hungria desde 1879.
Um dos objetivos desse acordo era combater a influência de Rússia e França na Europa, países que eram rivais das três nações que faziam parte da Tríplice Aliança. A assinatura do tratado que unia as três nações era de conhecimento público, embora as cláusulas que o formavam fossem mantidas secretas.
Outro objetivo era impedir o crescimento da rivalidade na Europa e prevenir que o continente entrasse em guerra. Entretanto, o efeito desses acordos foi o contrário, pois eles contribuíram para o acirramento das relações e o eventual início da guerra em 1914.
Por meio desse pacto, os três países integrantes da Tríplice Aliança se comprometiam a fornecer cooperação mútua caso fossem atacados por alguma potência europeia. O governo alemão e o austríaco se comprometeram a auxiliar os italianos caso a Itália fosse atacada pela França sem nenhum tipo de provocação que justificasse uma guerra.
O governo italiano também garantiu que permaneceria neutro caso a Áustria-Hungria entrasse em guerra com a Rússia. Isso era uma garantia importante, pois permitia à Áustria-Hungria retirar tropas da fronteira de seu território com a Itália para sustentar um conflito contra os russos.
Ademais, o governo italiano recebeu uma promessa do governo alemão de que teria apoio nas exigências que os italianos faziam sobre obter possíveis colônias no norte da África. Em troca, o governo italiano assegurou que manteria relações amigáveis com o governo alemão. Por fim, o governo austríaco aceitou superar a rivalidade que tinha com a Itália por conta das disputas de fronteiras existentes entre as duas nações.
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Contexto da Tríplice Aliança
A assinatura da Tríplice Aliança foi resultado da política de acordos promovida pelo governo alemão por meio de seu chanceler Otto von Bismarck, no sentido de proteger o continente europeu de um possível conflito. A Europa vivia um período de paz, mas a escalada das tensões era flagrante em todo o continente.
As potências beligerantes e que foram se aliando ou rivalizando entre si eram as grandes nações europeias da virada do século XIX para o século XX: França, Rússia, Grã-Bretanha, Áustria-Hungria, Alemanha e Itália. As tensões entre elas destruíram todo o esforço diplomático que existia para evitar uma grande batalha entre as nações europeias, como as que ocorreram durante o período napoleônico.
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Motivações alemãs para a formação da Tríplice Aliança
No caso da Alemanha, havia uma crescente preocupação quanto à possibilidade de que os franceses procurassem se vingar dos alemães em uma futura guerra em decorrência da forma como se encerrou a Guerra Franco-Prussiana. Assim, assumir tratados militares com outras nações europeias seria uma forma de garantir o isolamento diplomático dos franceses, o que permitiria enfraquecer a possibilidade de uma guerra na França.
Além disso, havia uma rivalidade entre os governos alemão e russo por conta da questão racial e do crescimento do raio de influência russa sobre o Leste Europeu, em especial na região dos Bálcãs. O governo alemão considerava o eslavismo (expansão dos interesses russos) uma grande ameaça ao germanismo (expansão dos interesses alemães).
O historiador Max Hastings relata indícios de que membros do governo alemão tratavam uma possível guerra entre alemães e russos como uma guerra racial.|1| Além disso, o próprio governo russo tratava a rivalidade entre as duas nações como parte de uma luta histórica do eslavismo contra o germanismo.|2|
A posição alemã nesse emaranhado das relações diplomáticas entre as nações europeias era complexa. Assim, mesmo desprezando e tendo grande rivalidade com determinada nação, os alemães, por meio de Otto von Bismarck, procuraram garantir a consolidação de alianças diplomáticas e militares.
Nesse sentido, mesmo com a crescente rivalidade com os russos, o governo alemão mantinha uma aliança com eles. Esse acordo existiu também durante o período da Tríplice Aliança e recebeu o nome de Liga dos Três Imperadores. O pacto envolvia Alemanha, Áustria-Hungria e Rússia, vigorando entre 1873 e 1878 e entre 1884 e 1887.
A crescente rivalidade entre austríacos e russos fez o acordo deixar de existir no final da década de 1880. Na década seguinte, os russos se aproximaram dos franceses por meio da Aliança Franco-Russa. Com esse acordo, os alemães tentaram impedir a aproximação de russos e franceses, o que já vimos que fracassou.
Os alemães até tentaram manter sua política de aproximação da Rússia, embora houve a rivalidade já mencionada entre as nações. Em 1887, Alemanha e Rússia assinaram um acordo diplomático, conhecido como Tratado de Resseguro, certificando que ambas as partes permaneceriam neutras caso uma das duas nações entrasse em guerra com alguma potência.
Esse acordo possuía exceções e não teria validade se os alemães atacassem a França ou se os russos atacassem a Áustria-Hungria. Por fim, como garantia de sua aliança, os alemães concordaram em apoiar a expansão dos interesses russos sobre o território da Bulgária. Com a deposição de Otto von Bismarck, em 1890, esse acordo perdeu força e não foi renovado.
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Motivações austríacas para a formação da Tríplice Aliança
A preocupação alemã quanto ao avanço russo nos Bálcãs motivou o Tratado de Berlim, um acordo diplomático que reorganizou o mapa da região e garantiu a independência da Romênia, da Sérvia e de Montenegro com o intuito de enfraquecer a influência russa nesses locais. Esse tratado garantiu também a cessão da Bósnia para a Áustria-Hungria.
Isso reforçou a importância da questão balcânica, uma vez que os grandes aliados alemães, os austríacos, travavam uma luta direta pelo controle dos Bálcãs. Os austríacos temiam que o avanço da influência russa pela região levaria à fragmentação de seu território, já que uma parte dele era ocupada pela Áustria-Hungria.
A aliança entre Alemanha e Áustria-Hungria foi assegurada por meio da Aliança Dual, acordo militar entre as duas nações que antecedeu a formação da Tríplice Aliança. Esse tratado, assinado em 1879, consistiu em uma aliança entre Alemanha e Áustria-Hungria contra um possível ataque promovido pelos russos.
Além disso, os países garantiam assumir posição de neutralidade caso fossem atacados por uma outra potência, e isso é entendido como uma preocupação direta da Alemanha em manter os austríacos fora de um eventual conflito contra a França.
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Motivações italianas para a formação da Tríplice Aliança
Havia uma preocupação da Itália em relação à França, sendo que a rivalidade entre as duas nações foi resultado das disputas imperialistas travadas pelas nações europeias na virada do século XIX para o século XX. As ambições imperialistas dos italianos no norte da África haviam sido frustradas pelos franceses, e isso se transformou em uma forte rivalidade entre as duas nações europeias.
Unindo-se a alemães e austríacos, a Itália garantiria sua proteção militar caso fosse atacada pelos franceses. Entretanto, a Itália nunca foi considerada uma aliada confiável por alemães e austríacos, tanto que o historiador David Stevenson considera que a aliança que unia Itália, Alemanha e Áustria-Hungria era “frouxa”.|3|
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Primeira Guerra Mundial
Em 1914, a Primeira Guerra Mundial teve início graças à escalada na tensão nos Bálcãs, fruto do assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando. A crise iniciada entre Áustria-Hungria e Sérvia por conta do atentado arrastou o continente europeu para o conflito. Com o início do embate, a Itália assumiu posição de neutralidade e assim se manteve até 1915.
Em meados de 1914, relações diplomáticas foram estabelecidas entre os membros da Tríplice Entente (Rússia, Grã-Bretanha e França) para que a Itália ficasse ao lado deles no conflito. As negociações fizeram com que a Itália trocasse de lado, abandonando a Tríplice Aliança e aderindo à Tríplice Entente. Em 3 de maio de 1915, a Itália declarou guerra aos membros da Tríplice Aliança.
Por fim, a formação da Tríplice Entente foi resultado da crescente hostilidade da política externa alemã. Isso aconteceu depois que o imperador da Alemanha Guilherme II demitiu Otto von Bismarck da posição de chanceler. O aumento no poder naval dos alemães passou a ser visto como uma ameaça na Europa, sobretudo pelos ingleses. Além disso, o aumento das ambições imperialistas alemãs reforçaram a hostilidade da Alemanha contra Grã-Bretanha e França. Assim, Grã-Bretanha, França e Rússia acabaram unindo-se, formando a Tríplice Entente.
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Videoaula sobre a Primeira Guerra Mundial
Notas
|1| HASTINGS, Max. Catástrofe — 1914: o mundo vai a guerra. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014, p. 47.
|2| Idem, p. 49.
|3| STEVENSON, David. A história da Primeira Guerra Mundial — Parte I: A deflagração. Barueri: Novo Século, 2016 p. 13.
Créditos da imagem:
[1] Everett Collection e Shutterstock
Por Daniel Neves Silva
Professor de História