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O Tratado de Brest-Litovsk, firmado em 3 de março de 1918, na cidade homônima da Bielorrússia (à época parte do Império Russo), selou a “paz” entre a Rússia (já tomada pelos revolucionários bolcheviques) e os Impérios centrais contra os quais havia entrado na guerra, sobretudo, Alemanha e Áustria-Hungria.
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Contexto do tratado
É sabido que a Primeira Guerra Mundial teve início em julho de 1914 com o enfrentamento de dois núcleos imperialistas europeus principais: de um lado, o germânico, com Alemanha e Áustria-Hungria, e de outro, o eslavo, com Rússia e Sérvia. Os aliados de cada lado não tardaram a ir a combate. Uma das estratégias alemãs utilizadas contra a Rússia na guerra foi patrocinar a revolução comunista bolchevique, que se efetivou em outubro de 1917, para que o Império do czar Nicolau II se desgastasse interiormente, o que se mostrou bastante eficaz.
A saída da Rússia da guerra era uma das principais prerrogativas dos bolcheviques, que repudiavam a guerra de cunho nacionalista e imperialista e que planejavam outro tipo de guerra, revolucionária e global, que, em tese, tomaria de assalto a Europa após a Primeira Guerra, já que todas as potências envolvidas estariam tão debilitadas quanto a Rússia. Todavia, no início de 1918, selar um acordo de paz com as potências centrais possibilitaria aos bolcheviques recuperar a economia e reformular o exército.
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Protagonismo de Leon Trotsky
O responsável pelas Relações Exteriores da Rússia após a revolução era Leon Trotsky, líder do Exército Vermelho e um dos homens mais próximos de Lenin. Trotsky foi uma das peças-chave nas negociações com as potências centrais. Inicialmente, o fim do conflito foi proposto a todas as potências envolvidas, mas não houve acordo. Daí em diante, os bolcheviques concentraram-se no armistício apenas com as potências germânicas, Alemanha e Áustria-Hungria. As discussões dos termos foram feitas em Brest-Litovsk. Acompanharam Trotsky: Lev Kamenev, Anastasia A. Bitzenko, V.V. Lipskiy, P. Stucka, Adolff A. Ioffe e Lev M. Karakhan.
As negociações com os generais alemães começaram ainda em dezembro de 1917. Segundo o historiador Sean McMeekin, um dos principais objetivos de Trotsky era tentar fazer com que a Alemanha ficasse em uma situação de embaraço político internacional, já que continuava com seus exércitos guardando posições na Rússia – esta nem exército formal propriamente tinha mais. Diz McMeekin que:
O desempenho teatral de Trotsky em Brest-Litovsk tornou-se então parte de sua lenda política. Sujeitando seus adversários políticos a discursos intermináveis em que os acusava de “deixá-lo enojado” com sua cobiça e hipocrisia imperialistas – a obstinada insistência russa de que os alemães simplesmente admitissem estar “anexando” territórios russos em vez de permitir aos satélites realizar plebiscitos para declarar ou não sua “independência” foi uma joia em particular – Trotsky aos poucos foi deixando seus interlocutores completamente fora de si. [1]
Apesar de ter ganhado tempo e causado constrangimentos diplomáticos aos germânicos, a delegação bolchevique não conseguiu fazer com que o exército alemão abandonasse os postos do território russo. Pelo contrário, o acordo firmado em 3 de março de 1918 previa a anexação de vastos territórios russos pelo Império Alemão, além de indenizações em trigo, que seriam exportados da Ucrânia.
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Fim da guerra e a tentativa da Revolução Alemã
Contudo, os ventos da guerra mudaram depois de firmado esse tratado. A Alemanha e seus aliados foram ostensivamente esmagados por Inglaterra, França, Estados Unidos e os demais países que a eles se associaram. Assim como houve a estratégia bolchevique, na Rússia, de se aproveitar da crise provocada pela guerra e lançar as bases da revolução comunista, o mesmo foi tentado na Alemanha. A Liga Espartaquista, que teve como principal líder Rosa Luxemburgo, protagonizou essa tentativa, que logo se mostrou frustrada.
NOTAS
[1] MCMEEKIN, Sean. O Expresso Berlim-Bagdá: o Império Otomano e a tentativa da Alemanha de conquistar o poder mundial. Trad. Maria Silva Mourão Netto. São Paulo: Globo, 2011. p. 368-9.
Por Me. Cláudio Fernandes