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Marquês de Sade

Marquês de Sade foi um nobre, militar, escritor, filósofo e político na época da Revolução Francesa. Suas obras deram origem ao termo “sadismo”.

Representação contemporânea do Marquês de Sade, um dos escritores mais polêmicos da história
Representação contemporânea do Marquês de Sade, um dos escritores mais polêmicos da história. Não existem retratos dele feitos durante a sua vida.
Crédito da Imagem: commons
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Marquês de Sade foi um nobre, militar, escritor, filósofo e político na época da Revolução Francesa. É um dos escritores que, ainda hoje, mais geram repulsa nos leitores, por mais liberais e progressistas que sejam. Durante seus 74 anos de vida, Sade produziu diversas obras, mas poucas delas chegaram íntegras ao nosso tempo, tendo sido muitas delas destruídas ainda no período de vida do escritor. Nas obras sobreviventes são descritas cenas de violência sexual, de estupros, necrofilia, canibalismo, torturas, coprofilia e relações incestuosas. Suas obras também discorrem sobre política, religião, moral e ética.

Sade passou quase metade da sua vida em prisões ou em hospícios, foi acusado e condenado por diversos crimes sexuais e condenado duas vezes à morte, embora tenha conseguido se livrar nas duas vezes da pena capital. Faleceu em 1814, de causas naturais, em um hospício. Sua obra ficou esquecida por quase um século, até que diversos dos seus escritos passaram a ser publicados e estudados. Suas obras deram origem ao termo “sadismo”.

Leia também: Bocage — escritor do século XVIII muito conhecido por sua poesia erótica e anedótica

Tópicos deste artigo

Resumo sobre Marquês de Sade

  • O Marquês de Sade foi um escritor, filósofo e político francês que viveu entre 1740 e 1814.

  • As obras do Marquês de Sade deram origem ao termo “sadismo”, que se relaciona ao prazer atingido através da violência física praticada durante o ato sexual.

  • Sade foi acusado de diversos crimes durante a vida, como tortura, pederastia (chamada pedofilia na atualidade), envenenamento, prática de sexo anal e homossexualismo.

  • A maior parte das obras do Marquês de Sade foi escrita em prisões ou hospícios, ele passou mais de três décadas nestas instituições.

  • Sade produziu romances, contos, peças teatrais e textos políticos. Parte da sua obra foi perdida.

  • Antes da Revolução Francesa o Marquês de Sade estava preso na Bastilha. No período inicial da revolução ele participou do governo revolucionário.

  • Em 1801 ele foi preso por causa de suas obras, consideradas depravadas, e passou o resto da sua vida em um manicômio.

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Biografia de Marquês de Sade

Juventude de Marquês de Sade

Marquês de Sade nasceu em 1740 como Donatien Alphonse François de Sade, filho de uma família nobre de Paris. Estudou no Lycée Louis-le-Grand, conceituado colégio fundado pelos jesuítas um século antes.

Com 14 anos de idade iniciou carreira militar, atividade que exerceu por quase uma década. Em 1763, após deixar o serviço militar, casou-se com Renée-Pélagie, filha de uma rica família burguesa, com quem teve três filhos.

Vida adulta de Marquês de Sade

Apenas quatro meses após seu casamento, Sade foi acusado de cometer os crimes de blasfêmia e incitação ao sacrilégio, crimes que na época podiam ser punidos com a pena de morte. Ele e sua esposa possuíam uma residência em Paris onde realizavam orgias com diversos convidados e prostitutas. Uma dessas prostitutas, chamada Jeanne Testard, acusou Sade de aprisioná-la em um quarto, de gritar obscenidades contra a Igreja em seu ouvido e de se masturbar sobre objetos sacros. Ele foi condenado à prisão, onde escreveu diversas cartas às autoridades, jurando arrependimento e sendo libertado cerca de um mês depois.

Em 1768 ele foi acusado de levar uma mulher que pedia esmola na rua para sua casa e de violentá-la, chicoteando e cortando a mulher com uma navalha. Rose Keller, a mulher violentada, denunciou Sade às autoridades e novamente ele foi enviado para a prisão.

Em junho de 1772, Sade e seu criado, chamado Latour, foram para Marselha, onde participaram de uma orgia com quatro prostitutas. Durante a orgia as mulheres consumiram alimentos, e duas delas passaram mal posteriormente. Uma delas denunciou Sade e seu criado pelo envenenamento e por sodomia, maneira pela qual o sexo anal era chamado na época. A sodomia, principalmente entre homens, era considerada um crime grave. Sade foi condenado à morte, mas fugiu de Marselha para a Itália, onde foi preso pelas autoridades locais.

Em 1777, outra vez em Paris, ele foi condenado à morte pela segunda vez, agora por violentar adolescentes que foram contratados como seus empregados. Ele conseguiu reverter a pena de morte para prisão no ano seguinte. Em fevereiro de 1784 ele foi enviado para a Bastilha, passando cinco anos nessa prisão. Ele foi transferido de lá poucos dias antes da Tomada da Bastilha, em 14 de julho de 1789, deixando escondidos em suas paredes diversos escritos. Após a revolução, foi libertado e, em 1792, tornou-se secretário de uma Secção Revolucionária de Paris. Foi ferrenho defensor da revolução, realizando discursos e produzindo textos revolucionários.

Últimos anos de vida de Marquês de Sade

Em 1801, durante o Consulado, foi preso novamente, dessa vez por causa de suas obras. O próprio Napoleão Bonaparte ordenou sua prisão. Em 1803 a família conseguiu que ele fosse enviado para um hospício, onde permaneceu até o fim da vida. Marquês de Sade faleceu em 1814, anos 74 anos.

Principais ideias de Marquês de Sade

A principal ideia do Marquês de Sade era de que os seres humanos são movidos pelo impulso sexual, mas a moral, construída pelos seres humanos e contrária à natureza, impede que os seres humanos satisfaçam seus desejos. Alguns autores defendem que Sade era favorável à construção de prostíbulos públicos com o objetivo de diminuir a violência urbana.

Embora ele tenha participado ativamente da Revolução Francesa, é difícil estabelecer a sua visão política. Diversos estudiosos do Marquês de Sade, como Francine du Plessix Gray, defendem que ele não possuía um ideal político, mas foi um oportunista que mudou de visão política conforme o contexto político da França mudou. Antes da revolução ele desfrutou da sua condição de nobre, vivendo em palácios, em meio a grandes banquetes e orgias; no início da revolução, ele se tornou defensor da monarquia constitucional e após o rei ser guilhotinado, um convicto republicano.

Características das obras de Marquês de Sade

A principal característica da obra do Marquês de Sade é a grande presença de descrições detalhadas de cenas violentas de sexo, com torturas, incestos, necrofilia, coprofilia e de outras cenas que ainda hoje chocam a maioria das pessoas. Também são características da sua obra a forte crítica à Igreja, a defesa do ateísmo e a crítica à moral do período.

Principais obras de Marquês de Sade

Ainda durante a vida do Marquês de Sade parte das suas obras foram apreendidas e destruídas pelas autoridades francesas, isso continuou após sua morte; seu próprio filho chegou a queimar parte de seus escritos. Também existem obras incompletas e algumas que geram dúvidas sobre sua autoria. Neste artigo, apresentaremos quatro das principais obras do Marquês de Sade.

  • Justine: a obra também é conhecida como Os tormentos da virtude e narra a história de Justine, uma cristã honrada que sofre, por onde passa, violências e abusos sexuais. Na obra Sade fez críticas à moral da sua época e a religião, declarando-se um ateu. A obra foi escrita em 1787, dois anos antes da eclosão da Revolução Francesa.

  • Juliette: obra escrita entre 1797 e 1801. Juliette é irmã da virtuosa Justine, mas ao contrário desta, ela é uma mulher ninfomaníaca, assassina, violenta e perversa. A obra mescla trechos de descrição de cenas de sexo com trechos que discorrem sobre moralismo, religião, política e diversos outros temas. Na obra, Juliette é uma pessoa feliz, que busca seu próprio prazer a todo instante.

  • 120 dias de Sodoma: na obra de 1785, quatro nobres libertinos, um rico burguês, um nobre, um juiz e um bispo, resolvem satisfazer todos os seus desejos sexuais passando 120 dias em um castelo na Floresta Negra. No castelo são mantidas 36 vítimas que são sucessivamente violentadas pelos quatro libertinos. Com o passar dos dias a violência nos atos aumenta, levando à morte de muitas das vítimas das sessões de estupros e torturas.

  • Diálogo entre um padre e um moribundo: escrita em 1782, a obra apresenta o diálogo entre um libertino moribundo e um padre; o moribundo descreve com detalhes todos os pecados cometidos durante a vida. Na obra Sade discorre sobre o seu ateísmo.

Veja também: Richard on Krafft-Ebing — psiquiatra particularmente conhecido por seus estudos pioneiros sobre desvios sexuais

Influência e legado de Marquês de Sade

Durante muitas gerações os descendentes de Sade consideraram repugnantes seus escritos, destruindo ou escondendo do público todos eles. No início do século XX, Xavier de Sade, descendente do famoso marquês, encontrou diversos escritos dele em um castelo da família, organizando os textos e publicando-os. Diversos desses manuscritos foram vendidos para universidades, museus e colecionadores.

Em meados do século XX diversos intelectuais publicaram estudos sobre Sade, como Michel Foucault, Jacques Derrida, Jacques Lacan e Simone de Beauvoir. Sade também serviu de inspiração para diversos filmes, livros, obras de arte e diversas outras manifestações artísticas.

Críticas e avaliações sobre Marquês de Sade

Na época na qual viveu, suas obras foram duramente criticadas, vistas como obscenas, imorais e pervertidas. Elas renderam ao marquês décadas de cárcere, em prisões ou hospícios. No final do século XIX, os termos sadismo e sádico passaram a ser adotados na França com o mesmo sentido que essas palavras possuem atualmente.

Monumento em homenagem ao Marquês de Sade próximo das ruínas do castelo onde ele viveu, em Lacoste, França. [1]
Monumento em homenagem ao Marquês de Sade próximo das ruínas do castelo onde ele viveu, em Lacoste, França. [1]

Alguns autores, como Simone de Beauvoir, defenderam que a obra de Sade foi uma espécie de embrião do existencialismo, corrente filosófica que foi criada um século e meio após sua morte.

A obra de Sade também foi importante para diversos freudianos, que consideram Sade um dos primeiros autores a destacar a importância da sexualidade na vida humana.

Pierre Klossowski considerou a obra de Sade uma das precursoras do niilismo, doutrina filosófica que se originou na Rússia, em meados do século XIX.

Acesse também: Quem é Simone de Beauvoir?

Frases de Marquês de Sade

A seguir, algumas frases de Marquês de Sade:

  • “Os entreatos da minha vida foram muito longos.”

  • “Nós protestamos contra as paixões.”

  • “O sono da razão produz monstros.”

  • “Um escritor deve pintar os homens tais como são.”

Curiosidades sobre Marquês de Sade

  • Marquês de Sade passou mais de 32 anos da sua vida em prisões ou hospícios, produzindo a maior parte de sua obra nesses locais.

  • A palavra sadismo passou a ser utilizada na França poucos anos após a morte do Marquês de Sade, de lá foi difundida para todo o mundo Ocidental.

  • Em 2014 um manuscrito de 120 dias de Sodoma foi adquirido em um leilão por um empresário francês pelo lance de 21,8 milhões de reais.

  • Em 2017 o governo francês declarou o manuscrito dos 120 dias de Sodoma patrimônio nacional e, em 2021, comprou o manuscrito do empresário, pagando cerca de 25 milhões de reais. Atualmente o manuscrito pertence à Biblioteca Nacional da França.

  • Em 2000 foi lançado o filme Contos proibidos do Marquês de Sade, que descreve sua vida no manicômio de Charenton, onde passou os últimos anos da sua vida. O filme recebeu indicação para três óscares.

  • Foi o psicanalista Richard on Krafft-Ebing quem cunhou o termo “sadismo”, no último quarto do século XIX, para descrever o fato de uma pessoa ter prazer ao infringir violência a outra pessoa.

Crédito de imagem

[1] Oleg Znamenskiy / Shutterstock

Fontes

CASTRO, Clara Carnicero. Marquês de Sade: o sensualismo em sua forma máxima. (2009). Cadernos De Ética E Filosofia Política, v. 2, n. 15, p. 85-104. https://www.revistas.usp.br/cefp/article/view/82609.

SERRAVALLE, Daniel de Sá. O Marquês de Sade e o romance filosófico do século XVIII. Revista Eutomia, v 1, n. 2, p. 362-377. Disponível em https://periodicos.ufpe.br/revistas/index.php/EUTOMIA/article/view/1948  

Escritor do artigo
Escrito por: Jair Messias Ferreira Junior Pós-graduado em História pela Unicamp e professor da Educação Básica há mais de 20 anos. Também é formador de professores e produtor de materiais didáticos há mais de 10 anos.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

JUNIOR, Jair Messias Ferreira. "Marquês de Sade"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/marques-de-sade.htm. Acesso em 21 de dezembro de 2024.

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