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Manuel Maria Barbosa du Bocage

Manuel Maria Barbosa du Bocage foi um escritor do século XVIII, muito conhecido por sua poesia erótica. Foi um poeta de transição entre o arcadismo e o romantismo português.

“Manuel du Bocage”, obra de João Elói do Amaral (1839-1927).
“Manuel du Bocage”, obra de João Elói do Amaral (1839-1927).
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Manuel Maria Barbosa du Bocage nasceu em 15 de setembro de 1765, em Setúbal, vila portuguesa. Mais tarde, em 1781, ingressou na carreira militar, mas desertou em 1789. Passou então a se dedicar à escrita literária e às traduções. Contudo, seu estilo de vida boêmio e sua escrita satírica fizeram com ele sofresse perseguição política e religiosa.

O poeta, que morreu em 21 de dezembro de 1805, em Lisboa, produziu textos com características árcades e românticas. Assim, adotou o pseudônimo árcade Elmano Sadino, mas também escreveu uma poesia erótica e anedótica, que acabou sendo responsável pela fama do artista.

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Tópicos deste artigo

Resumo sobre Manuel Maria Barbosa du Bocage

  • Bocage, poeta português, nasceu em 1765 e faleceu em 1805.

  • Além de escritor e boêmio, foi militar e tradutor.

  • Suas obras apresentam marcas árcades e românticas.

  • O poeta é bastante lembrado por seus poemas satíricos e de cunho anedótico.

  • Sua obra mais famosa é Queixumes do pastor Elmano contra a falsidade da pastora Urselina.

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Biografia de Bocage

Manuel Maria Barbosa du Bocage nasceu em 15 de setembro de 1765, na vila de Setúbal, em Portugal. Tinha aproximadamente nove anos de idade quando ficou órfão de mãe. Anos mais tarde, em 1781, ele se alistou no exército. Dois anos depois, foi transferido para a Academia dos Guardas-Marinhas.

Em 1786, esse poeta boêmio, mesmo apaixonado por sua amada Gertrudes, foi para Goa como guarda-marinha. Durante a viagem rumo à Índia, passou um tempo no Brasil. Três anos depois, em 1789, como segundo-tenente atuou em Damão, e logo desertou. Assim, voltou a Lisboa, em 1790, e descobriu que o irmão estava casado com Gertrudes.

Nesse mesmo ano, Bocage se filiou à Academia das Belas Letras e passou a se dedicar à sua carreira de escritor e tradutor, além de regressar à vida boêmia. Contudo, foi expulso da Academia em 1794, e, três anos depois, em 1797, foi preso por fazer sátiras contra a nobreza e o clero.

A princípio, esteve encarcerado na cadeia do Limoeiro, de agosto a dezembro, quando foi levado para os cárceres do Santo Ofício. No ano seguinte, foi mandado para o convento de São Bento. Depois, para o Hospício das Necessidades, até ser libertado, em abril. No entanto, em 1802, novamente se viu sob a ameaça do Santo Ofício, ao ser acusado de fazer parte da maçonaria, porém o processo foi arquivado por ausência de provas.

Três anos depois, foi vítima de um aneurisma na carótida, então, morreu em 21 de dezembro de 1805, em Lisboa. Entrou para a história da literatura como um poeta multifacetado, satírico, pornográfico e censurado. Um homem que não se adaptou às regras de uma sociedade conservadora e hipócrita.

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Características literárias de Bocage

Bocage foi um poeta de transição entre o arcadismo — seu pseudônimo árcade era Elmano Sadino — e o romantismo. Portanto, seus textos apresentam características de ambas as estéticas, além de peculiaridades do autor, como:

  • amor idealizado

  • sofrimento existencial

  • confissão amorosa

  • temática da morte

  • racionalidade árcade

  • sentimentalismo romântico

  • ideal de liberdade

  • individualismo

  • caráter satírico

  • erotismo

  • crítica sociopolítica

  • anticlericalismo

  • bucolismo

  • referências greco-latinas

  • irreverência

  • ironia

  • elementos anedóticos

  • espírito transgressor

Obras de Bocage

Capa do livro “O delírio amoroso & outros poemas”, de Bocage, publicado pela editora L&PM.[1]
Capa do livro “O delírio amoroso & outros poemas”, de Bocage, publicado pela editora L&PM.[1]
  • Queixumes do pastor Elmano contra a falsidade da pastora Urselina (1791)

  • Rimas (1791)

  • Idílios marítimos (1791)

  • Elegia (1800)

  • Improvisos de Bocage (1805)

  • Mágoas amorosas de Elmano (1805)

  • A virtude laureada (1805)

  • À morte de D. Inês de Castro (1824)

  • A pavorosa ilusão (1837)

Poemas de Bocage

A seguir, vamos ler um soneto de Bocage. Ele fala de sofrimento, amor e morte, temáticas recorrentes no romantismo, apesar de a personificação do Amor ser típica do arcadismo.

Assim, o eu lírico afirma que dormia, cansado de suspirar inutilmente, quando sonhou com a Morte, que apareceu para acabar com seu sofrimento, mas foi impedida pelo Amor, que queria ser o único algoz do eu lírico:

De suspirar em vão já fatigado,
Dando trégua a meus males eu dormia;
Eis que junto de mim sonhei que via
Da Morte o gesto lívido, e mirrado:

Curva fouce no punho descarnado
Sustentava a cruel, e me dizia:
“Eu venho terminar tua agonia;
Morre, não peneis mais, oh desgraçado!”

Quis ferir-me, e de Amor foi atalhada,
Que armado de cruentos passadores
Aparece, e lhe diz com voz irada:

“Emprega noutro objeto os teus rigores;
Que esta vida infeliz está guardada
Para vítima só de meus furores.”

Agora, vamos ler um trecho do poema Queixumes do pastor Elmano contra a falsidade da pastora Urselina, que traz características do arcadismo, como bucolismo, pastoralismo e amor idealizado:

Seu manto desdobrava a Noite escura,
E a Rã no charco, o Lobo na espessura
Vociferando, os ares atroavam;
Do trabalho diurno já cessavam
Os rudes, vigorosos Camponeses:
O Vaqueiro, cantando atrás das Reses,
Após as Cabras o Pastor cantando,
Iam para as Malhadas caminhando;
Tudo jazia em paz, menos o triste,
O desgraçado Elmano, a quem feriste,

Oh pernicioso Amor, cruel Deidade,
[...]

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Autorretrato de Bocage

Bocage fez seu autorretrato em forma de poema. Assim, ele se descreve neste irônico soneto:

Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;

Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos, por taça escura,
De zelos infernais letal veneno;

Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades,

Eis Bocage em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades,
Num dia em que se achou mais pachorrento.

Já no próximo soneto, o poeta indica que passa por dificuldades financeiras, além de ser rejeitado tanto pelos leitores quanto pelas mulheres:

De cerúleo gabão não bem coberto,
Passeia em Santarém chuchado moço,
Mantido às vezes de sucinto almoço,
De ceia casual, jantar incerto;

Dos esburgados peitos quase aberto,
Versos impinge por miúdo e grosso.
E do que em frase vil chamam caroço,
Se o quer, é vox clamantis in deserto.

Pede às moças ternura, e dão-lhe motes!
Que tendo um coração como estalage,
Vão nele acomodando a mil pexotes.

Sabes, leitor, quem sofre tanto ultraje,
Cercado de um tropel de franchinotes?
É o autor do soneto: é o Bocage!

Frases de Bocage

Vamos ler, a seguir, algumas frases de Manuel Maria Barbosa du Bocage. Para isso, fizemos uma adaptação e transformamos seus versos em prosa:

  • “Que profundo silêncio me rodeia neste deserto bosque, à luz vedado!”

  • “Não me roubou tudo a negra sorte: inda tenho este abrigo, inda me resta o pranto, a queixa, a solidão e a morte.”

  • “Não pertence a piedade à formosura.”

  • “Vida entre angústias equivale ao nada, no risonho prazer consiste a vida.”

  • “É da lei da Natureza, é lei da sorte que seja o mal e o bem matriz da vida.”

  • “A morte para os tristes é ventura.”

Filmes e séries sobre Bocage

  • Bocage (1936) — longa-metragem português, dirigido por Leitão de Barros (1896-1967).

  • Bocage: o triunfo do amor (1997) — longa-metragem luso-brasileiro, dirigido por Djalma Limongi Batista.

  • Bocage (2006) — série portuguesa, uma realização de Fernando Vendrell.

Crédito da imagem

[1] L&PM Editores (reprodução)

 

Por Warley Souza
Professor de Literatura

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Manuel Maria Barbosa du Bocage"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/biografia/jose-manuel-maria-barbosa-du-bocage.htm. Acesso em 17 de novembro de 2024.

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