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Marquesa de Santos foi o título pelo qual ficou conhecida Domitila de Castro Canto e Melo. A marquesa teve a sua vida marcada por ter sido amante do imperador d. Pedro I durante sete anos, período no qual obteve títulos e riquezas. O caso amoroso do imperador com Domitila foi muito famoso na época e teve influência direta no cenário político do Brasil.
Durante o romance de Domitila com d. Pedro I, a imperatriz Leopoldina demonstrou sua insatisfação com ele. Anos depois do falecimento da imperatriz, d. Pedro I decidiu afastar-se da amante para que ele pudesse casar-se novamente. A marquesa também adquiriu um segundo casamento, em 1842, e passou os últimos anos de sua vida fazendo caridade.
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Tópicos deste artigo
Primeiros anos
Domitila de Castro Canto e Melo nasceu em São Paulo, em 27 de dezembro de 1797. Ela foi filha de uma família tradicional e influente dessa cidade. Seu pai, João de Castro do Canto e Melo, era um militar de carreira respeitável, e sua mãe chamava-se Escolástica Bonifácia de Oliveira e Toledo Ribas.
Ao todo, Domitila teve cinco irmãos: João, José, Francisco, Maria Benedita e Ana Cândida. Teve também uma outra irmã, Fortunata, mas ela não sobreviveu à infância. Domitila, assim como suas irmãs, teve uma educação tradicional, mas não se sabe detalhes a respeito dessa fase de sua vida.
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Primeiro casamento
Aos 15 anos de idade, o pai de Domitila arranjou-lhe um casamento com um oficial do Corpo de Dragões de Vila Rica, o alferes Felício Pinto Coelho de Mendonça. A união aconteceu no dia 13 de janeiro de 1813, quando ela ainda tinha a mesma idade. Na ocasião, seu marido tinha 22 anos de idade.
Esse casamento era importante para a família de Domitila, pois Felício ocupava um cargo importante como militar e tinha chances de crescer na hierarquia. Além disso, ele tinha dinheiro e prestígio social. O casamento deles, no entanto, foi um desastre completo, pois Felício era alcoólatra, viciado em jogos e violento com sua esposa.
Após casar-se, Domitila mudou-se para Vila Rica, em Minas Gerais, com seu marido. Nesse casamento ela teve três filhos: Francisca Pinto Coelho de Mendonça e Castro, Felício Pinto Coelho de Mendonça e Castro, e João Pinto Coelho de Mendonça e Castro, esse último faleceu na infância.
Os maus-tratos e as agressões constantes de seu marido fizeram com que Domitila abandonasse Vila Rica, retornando para a casa de seus pais, em São Paulo, com seus dois filhos. Isso aconteceu em 1816, e no ano seguinte, seu marido conseguiu uma transferência para Santos, onde pôde ficar perto de seus filhos.
Em 1818, ela foi convencida a retornar para seu marido sob a promessa de que ele melhoraria seu comportamento. Entretanto, Felício continuou viciado na bebida, seguiu gastando todo seu dinheiro em jogos, e as agressões rapidamente tornaram a acontecer. Como Domitila demonstrou querer o divórcio, Felício tentou matá-la, esfaqueando-a duas vezes: uma na coxa e outra na barriga. Ele também alegou que cometeu o ato porque desconfiava que estava sendo traído, o que não era verdade.
Domitila levou quase dois meses para curar-se de suas feridas, e então abandonou definitivamente seu marido, abrindo um processo de pedido de divórcio. Esse pedido era um tabu na época, mas ela contou com o apoio de sua família, e, cinco anos depois, em 1824, foi atendida, muito devido à interferência do imperador no caso.
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Romance com d. Pedro I
Quando Domitila conheceu Pedro de Alcântara, ele ainda não havia sido coroado imperador do Brasil. Nosso país ainda nem havia se tornado independente, mas o encontro dos dois deu-se a poucas semanas do grito do Ipiranga, quando d. Pedro proclamou a independência, em 7 de setembro de 1822.
Eles se conhecerem em São Paulo, em agosto de 1822, num contexto complicado: o futuro imperador do Brasil ia essa cidade colocar fim nos desentendimentos que existiam com o governo dela referentes à postura desobediente de seu regente para com as ordens enviadas de Lisboa. Nessa ocasião aconteceu o encontro entre os futuros amantes, com d. Pedro, conhecido por sua fama de mulherengo, interessando-se por Domitila.
Existe registro de um dos primeiros encontros entre d. Pedro e Domitila trazido pelo pesquisador Paulo Rezzutti. Esse registro, escrito pelo marido de uma prima de Domitila, fala dos flertes de d. Pedro e de suas tentativas de impressioná-la. Paulo Rezzutti também expõe que, durante a viagem na qual aconteceu o grito da independência, Domitila estava presente já como amante do imperador|1|.
Quando o caso amoroso de d. Pedro e Domitila iniciou-se, ele já era casado com d. Leopoldina (casaram-se em 1817) e tinha quatro filhos com ela. O enlace extraconjugal foi motivo de desgosto para Leopoldina pelo resto de sua vida. A imperatriz, de acordo com registros deixados, era apaixonada pelo imperador e foi colocada em segundo plano durante o envolvimento dele com Domitila.
Existem dezenas de cartas escritas por d. Pedro I para Domitila, com ele a chamando carinhosamente de Titília e exagerando nos detalhes íntimos, sempre as assinando como Demonão ou Fogo Foguinho. Nelas, o imperador também desenhava o próprio membro sexual e enviava seus pelos pubianos.
O relacionamento de Domitila com d. Pedro I gerou cinco filhos ilegítimos, e desses um nasceu morto e dois morreram na infância. As duas filhas que chegaram à idade adulta foram Isabel Maria de Alcântara Brasileira, conhecida como duquesa de Goiás, e Maria Isabel II de Alcântara Bourbon, conhecida como condessa de Iguaçu. Os títulos nobiliárquicos das duas foram concedidos por d. Pedro I.
Domitila mudou-se para o Rio de Janeiro em 1823, e seu caso com d. Pedro rendeu-lhe títulos e riquezas. Ela se tornou primeira-dama da imperatriz, algo encarado como uma grande humilhação por d. Leopoldina, uma vez que a amante de seu marido conquistava um ofício tão importante. Em 1825, Domitila recebeu o título de viscondessa de Santos, e no ano seguinte, tornou-se marquesa de Santos.
Além disso, sua família também se beneficiou de sua influência com o imperador. Ele dava grandes somas de dinheiro para suas filhas com a amante, além de ter dado títulos e cargos importantes para familiares da marquesa de Santos. Quando o pai de Domitila faleceu, em 1826, o imperador arcou com todas as despesas do funeral. Seu pai também foi presenteado com um título nobiliárquico, ele era o visconde de Castro.
Nem tudo foram flores no caso de Domitila com o imperador. O infortúnio da imperatriz e a sua morte prematura, em 1826, prejudicaram a imagem da marquesa de Santos. Ela era má vista na Corte e até teve propriedades suas apedrejadas. O próprio imperador entrou em descrédito por conta da forma como a imperatriz morreu, e isso fez com que ele procurasse uma segunda esposa.
Dessa forma, d. Pedro I casou-se com Amélia de Leuchtenburg, e, para salvaguardar seu novo matrimônio, o imperador pôs fim na relação com Dometila em 1829. Ela então retornou para São Paulo, adquirindo, anos depois, uma propriedade que ficou conhecida como Solar da Marquesa.
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Últimos anos
Depois do fim de seu caso com d. Pedro I, a marquesa instalou-se em São Paulo e, anos depois, teve um segundo casamento. Ela engatou um relacionamento com o militar Rafael Tobias de Aguiar em 1833, e casou-se com ele em 1842. Tobias de Aguiar era um homem de muitas riquezas e que assumiu cargos importantes na política de Sorocaba.
Desse casamento, Domitila teve seis filhos, dos quais quatro chegaram à idade adulta. Ao longo de sua vida, ela teve 14 filhos, com oito deles alcançando a idade adulta. Seus biógrafos contam que, na velhice, ela procurou usar parte de sua fortuna para ajudar quem necessitava e ficou muito conhecida por ajudar estudantes da Faculdade de Direito em São Paulo. Ela faleceu no dia 3 de novembro de 1867, aos 69 anos de idade.
Nota
|1| REZZUTTI, Paulo. Domitila: a verdadeira história da marquesa de Santos. São Paulo: Geração Editorial, 2012.
Crédito das imagens
[1] Commons
Por Daniel Neves
Professor de História