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Maria Leopoldina

Conhecida no Brasil como Maria Leopoldina, a princesa austríaca casou-se com d. Pedro, em 1817, e transformou-se em imperatriz do Brasil, em 1822.

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Maria Leopoldina é uma das grandes personagens da história brasileira e teve papel importante na condução da independência do Brasil, em 1822. Arquiduquesa da Áustria, Maria Leopoldina casou-se com d. Pedro I, na época príncipe português. Apesar da sua importância no processo de independência do Brasil, Leopoldina teve seu papel diminuído nas gerações seguintes.

Apesar da grande influência que ela teve sobre d. Pedro na independência, seu casamento com o primeiro imperador do Brasil não foi feliz. Ela teve sete filhos, e os historiadores afirmam que, além de d. Pedro tratá-la mal, suas traições eram famosas. Existem indícios de que ela chegou a ser agredida pelo imperador, e, em 1826, acabou falecendo por complicações de um aborto espontâneo.

Acesse também: 5 curiosidades sobre a independência do Brasil

Tópicos deste artigo

Infância de Maria Leopoldina

Carolina Josefa Leopoldina Fernanda Francisca de Habsburgo-Lorena nasceu no dia 22 de janeiro de 1797 em Viena, capital do Império Austríaco. Ela foi o quinto filho de Maria Teresa com o imperador austríaco Francisco I e a quarta do sexo feminino. Existe uma pequena querela acerca da ordem do seu nome, em que alguns historiadores alegam ser Leopoldina Carolina Josefa.

Ao todo, Leopoldina teve 11 irmãos, dos quais teve maior proximidade de Fernando, Maria Clementina, Francisco Carlos e Maria Luísa, que, além de irmã mais velha, foi a pessoa mais próxima dela. Existem diversos registros de correspondências entre as duas, e Leopoldina contava detalhes de sua intimidade para Maria Luísa.

Como filha da realeza austríaca, sua educação foi exemplar e bastante influenciada pelo príncipe Metternich e por Goethe. Ao longo de sua infância, Leopoldina, como todas as arquiduquesas, era acompanhada por uma aia que lhe ensinava “boas maneiras, cerimonial e etiqueta”, conforme afirma o pesquisador Marsilio Cassotti|1|.

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Como parte de sua educação, Leopoldina aprendeu três idiomas: alemão, francês e italiano, e, ao longo de sua vida, estudou inglês e português. Um dos principais pontos dessa formação foi crescer aprendendo que ela deveria indiscutivelmente obedecer as vontades de seu pai e prezar pela garantia dos interesses da Áustria.

Além disso, ao longo de sua infância e adolescência, ela demonstrou grande interesse por assuntos relacionados com mineralogia e botânica.

Sua infância também ficou marcada pelos conflitos da Áustria contra a França como desdobramentos da Revolução Francesa. Em determinados momentos dessa guerra, as tropas francesas chegaram a poucos quilômetros de Viena, o que forçou a família real austríaca a fugir da cidade. Nesse sentido, o historiador Clóvis Bulcão menciona que, com 18 anos, a arquiduquesa acompanhou os desdobramentos do Congresso de Viena, realizado em 1815 após a derrota definitiva de Napoleão|2|.

Casamento de Maria Leopoldina com D. Pedro I

Leopoldina casou-se com d. Pedro, em 1817, e teve um casamento bastante infeliz. [1]
Leopoldina casou-se com d. Pedro, em 1817, e teve um casamento bastante infeliz. [1]

O fator que marcou definitivamente a vida de Leopoldina, porém, foi o seu casamento com um príncipe português chamado d. Pedro. As negociações iniciaram-se durante o Congresso de Viena, e, no caso dos portugueses, o casamento de d. Pedro foi a maneira pensada para finalizar as aventuras sexuais do filho do imperador português d. João VI.

O casamento de d. Pedro com Leopoldina também era diplomaticamente importante para os dois países (Áustria e Portugal). Para os portugueses, ele aumentava a influência de Portugal em uma das mais tradicionais monarquias europeias e abria caminho para diminuir sua dependência dos ingleses, para os austríacos, ele aumentava a influência deles na América.

Depois de extensas negociações, o casamento de Leopoldina e d. Pedro foi acertado e realizado, por procuração, em 13 de maio de 1817, na Igreja dos Agostinianos, em Viena. Como a família real portuguesa estava instalada no Rio de Janeiro na época, Leopoldina foi preparada para mudar-se para o Brasil.

Os historiadores mencionam o grande interesse dela em poder estudar as riquezas minerais e botânicas do Brasil, e, por isso, junto dela veio um grande grupo de cientistas austríacos. Após 85 dias de viagem, Leopoldina chegou ao Brasil em 4 de novembro de 1817, e a recepção que recebeu, no Rio de Janeiro, foi pomposa.

A historiadora Isabel Lustosa relata duas impressões iniciais de Leopoldina a respeito do Brasil e de seu marido, d. Pedro. Do país, ela menciona seu encantamento com a beleza natural do Rio de Janeiro, e de d. Pedro, ela destaca o imediato apreço que sentiu pelo príncipe português|3|.

As primeiras impressões de Leopoldina sobre seu marido foram registradas em cartas que ela enviou para seu pai e sua irmã, Maria Luísa. Nelas ela mencionou que, na primeira noite, d. Pedro não a deixou dormir (uma referência ao apetite sexual do futuro imperador do Brasil) e que ele era franco, falava tudo que pensava e, às vezes, era bruto com ela|4|.

Nos anos seguintes, seu casamento foi-lhe um grande peso e contribuiu abertamente para sua infelicidade. Do relacionamento de Leopoldina e Pedro nasceram sete filhos, dos quais um deles foi Pedro de Alcântara, mais conhecido como d. Pedro II, imperador do Brasil entre 1840 e 1889.

Influência de Leopoldina na independência

Algo que poucas pessoas sabem é a importância de Leopoldina na consolidação da independência do Brasil. Isso porque, até 1822, a influência da futura imperatriz do Brasil sobre seu marido era grande, e ela aconselhou-o frequentemente, enquanto a relação Portugal-Brasil azedava, entre 1820 e 1822.

Os historiadores mencionam a boa capacidade de Leopoldina de fazer a leitura política da situação do Brasil na época da crise com Portugal. Lembrando que a crise entre Brasil e Portugal estourou a partir de 1820, quando os portugueses, por meio da Revolução de Porto, defenderam a recolonização do país.

Percebendo que essa situação explosiva poderia trazer graves consequências, Leopoldina passou a analisar, diretamente com d. João e d. Pedro, formas de resolver a situação. De acordo com a educação que recebeu, Leopoldina colocou os interesses de Estado acima dos seus. Em finais de 1820, ela desejava retornar para a Europa, mas ficou no Brasil para, junto de d. Pedro, resolver a situação.

Ela percebeu que se os portugueses insistissem nas tentativas de recolonizar o Brasil, a possibilidade de uma revolta de caráter liberal e republicano era grande. Assim ela passou a convencer seu marido sobre a importância de ele liderar um movimento de independência que transformasse o Brasil em uma monarquia sob a liderança dele.

A futura imperatriz teve papel essencial em convencer d. Pedro a ficar no Brasil, mesmo com a pressão das Cortes portuguesas para que ele retornasse a Lisboa. A atuação de Leopoldina sempre foi no sentido de impedir a realização de uma revolução liberal na colônia. A ideia dela sempre foi a preservação da monarquia, conceito aprendido ao longo de sua educação.

Leopoldina e José Bonifácio assinaram uma carta que informava sobre a necessidade de declarar-se a independência do Brasil em setembro de 1822. Essa carta foi enviada em caráter urgência para d. Pedro enquanto ele estava em São Paulo. Nessa ocasião, inclusive, Leopoldina estava como regente do Brasil, tendo sido nomeada pelo próprio d. Pedro. Com isso, podemos perceber que ela teve atuação direta em convencer d. Pedro a permanecer no Brasil (ato oficializado no Dia do Fico) e a declarar a independência (oficializada no 7 de setembro).

Veja também: Fatos sobre a princesa Isabel, neta de Maria Leopoldina

Últimos anos e morte de de Maria Leopoldina

A viagem de d. Pedro a São Paulo concretizou o desejo de Leopoldina pela independência do Brasil, mas acabou iniciando um período extremamente conturbado de seu casamento. Nessa viagem, d. Pedro conheceu Domitila de Castro, nomeada marquesa de Santos e que, por anos, foi concubina do imperador brasileiro.

Durante anos, d. Pedro I (coroado no final de 1822) humilhou publicamente sua esposa a um ponto em que toda a cidade do Rio de Janeiro sabia (e rejeitava) da traição do imperador. Ele não fazia questão de esconder de sua esposa e da opinião pública o seu caso com Domitila, que acabou enriquecendo e conquistando benefícios dele.

A humilhação que Leopoldina sofria foi tão grande que, em 1825, d. Pedro nomeou Domitila como primeira-dama da sua esposa, a imperatriz do Brasil. Nessa função, Domitila tinha direito de acompanhar Leopoldina em todos os lugares aos quais ela ia e tinha direito de participar de eventos públicos da corte. Domitila e sua família receberam títulos nobiliárquicos do imperador.

Os historiadores registraram a infelicidade da imperatriz com a sua situação nos seus últimos anos de vida. Leopoldina era maltratada por d. Pedro publicamente, os criados da imperatriz destratavam-na, e seu acesso à mesada a que tinha direito foi restringido pelo imperador. Além de registros pessoais feitos em cartas, a imperatriz nunca demonstrou publicamente sua insatisfação.

A continuidade dessa situação fez com que Leopoldina sofresse de depressão, e os relatos do pouco cuidado da imperatriz com sua aparência sugerem isso. Sua saúde, então, começou a piorar. A situação agravava-se mais ainda porque o imperador, em ataques de fúria, agredia-a.

Em outubro de 1826, Leopoldina ficou grávida, e alguns relatos contam que, em uma discussão com o imperador, ela foi agredida com pontapés. Em dezembro do mesmo ano, ela perdeu o filho em um aborto espontâneo, e o agravamento de seu quadro de saúde por conta desse aborto fez com que ela falecesse em 11 de dezembro de 1826.

Os historiadores debatem até que ponto os desgostos (além das agressões físicas) causados por d. Pedro nos últimos anos de vida de Leopoldina contribuíram para a morte da austríaca.

Notas

|1| CASSOTTI, Marsilio. A biografia íntima de Leopoldina: a imperatriz que conseguiu a independência do Brasil. São Paulo: Planeta, 2015.

|2| BULCÃO, Clóvis. Leopoldina, a austríaca que amou o Brasil. In.: FIGUEIREDO, Luciano. História do Brasil para ocupados. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013, p. 236.

|3| LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I: um herói sem nenhum caráter. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

|4| BULCÃO, Clóvis. Leopoldina, a austríaca que amou o Brasil. In.: FIGUEIREDO, Luciano. História do Brasil para ocupados. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013, p. 238-239.

Crédito da imagem

[1] Commons

 

Por Daniel Neves
Professor de História

Escritor do artigo
Escrito por: Daniel Neves Silva Formado em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e especialista em História e Narrativas Audiovisuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atua como professor de História desde 2010.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SILVA, Daniel Neves. "Maria Leopoldina"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/maria-leopoldina.htm. Acesso em 21 de dezembro de 2024.

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