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O que é narcoguerrilha?
O termo “narcoguerrilha” foi cunhado pelo embaixador dos Estados Unidos na Colômbia, Lewis Tambs, no ano de 1982, para definir a associação entre traficantes de drogas (narcóticos) deste país com guerrilhas revolucionárias de orientação comunista, atuantes no mesmo. Esse tipo de associação, contudo, não ficou restrita à Colômbia, e tampouco à América do Sul, mas tornou-se um fenômeno internacional – crescente nos anos 1970 e 1980 –, e que nos dias de hoje encontra-se consolidado. Como pontua o pesquisador Alessandro Visacro:
No início do século XXI, consolida-se a tendência de fortalecimento dos vínculos (cada vez mais estreitos) existentes entre redes de insurgentes, organizações terroristas e o crime organizado, especialmente o tráfico internacional de armas e de drogas e a lavagem de dinheiro. Dessa forma, as produções de heroína no Sri Lanka, cocaína na Colômbia, ópio e heroína no Afeganistão encontram-se associadas à intensa atividade de guerrilheiros e terroristas. [1]
Para entendermos melhor os vínculos entre narcotráfico (e seus derivados: sequestros, assaltos, contrabando de armas, lavagem de dinheiro etc.) e os grupos revolucionários, sobretudo os que se formaram na Colômbia, é necessário que saibamos um pouco sobre o surgimento de tais grupos, nos anos 1960 e 1970. Em 1967, foi criada em Havana a OLAS – Organização Latino-Americana de Solidariedade –.
Guerrilhas na América Latina
A propagação das guerrilhas revolucionárias na América Latina se deu a partir do início dos anos 1960, sob influência da Revolução Cubana, levada a cabo em 1959 pelo grupo dos irmãos Castro e de “Che” Guevara. Em 1961, Fidel Castro declarou ao mundo a sua predileção pela orientação marxista-leninista, a mesma na qual foi formada a então União Soviética, e o consequente alinhamento ao bloco comunista, liderado por essa última. “Che” Guevara, por sua vez, passou a pregar a chamada “teoria do foco revolucionário”, uma tentativa de espalhar a revolução comunista para toda a América Latina por meio de vários focos guerrilheiros instalados na zona rural.
Em 1967, foi criada em Havana a OLAS, Organização Latino-Americana de Solidariedade, cuja finalidade principal era justamente agenciar a “exportação” da revolução comunista para outros países da América Latina. O próprio “Che” Guevara se envolveu diretamente nesse processo de “exportação”, e foi morto na Bolívia, em outubro de 1968. Todavia, a ideia da guerrilha como arma revolucionária se espalhou para outros países, como Chile, Brasil, Paraguai e Argentina. Mas o primeiro país latino-americano a ter um guerrilha propriamente comunista desenvolvida em seu território foi a Colômbia.
O caso da narcoguerrilha colombiana
A primeira guerrilha colombiana a surgir foram as FARC, Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Isso ocorreu em 1964, a partir de um grupo de camponeses ligados a Pedro Antônio Marín, conhecido também pelo nome Manuel Marulanda Vélez (vulgo Tirofijo), do Partido Comunista Colombiano. A ambiência em que Marulanda criou as FARC era da chamada “La violencia”, período de guerra civil que estourou na Colômbia após a morte do líder do Partido Liberal, assassinado em 1948. Às FARC, seguiram-se outros grupos, como o ELN (Exército de Libertação Nacional), o EPL (Exército Popular de Libertação), e, no início do anos 1970, o M-19, Movimento 19 de abril.
O fato é que essas facções guerrilheiras nasceram na mesma época em que se formaram os grandes cartéis de traficantes de drogas colombianos, como o Cartel de Cáli e o Cartel de Medelín, esse último liderado por Pablo Escobar Gavíria. De início, os guerrilheiros não se associaram aos traficantes, pois conseguiam fundos por meio de sequestros e roubos. Mas, com o passar dos anos, dada a lucratividade das práticas ilícitas do tráfico e de seus tentáculos internacionais, com contrabandistas de armas, explosivos e munições, essas facções fizeram aliança com os cartéis, o que também implicou no aumento vertiginoso da violência na Colômbia.
Como diz o pesquisador Alessandro Visacro:
A violência associada à droga agravou a crise interna. Na década de 1970, foram registrados 1.053 assassinatos políticos. Na década de 1980, esse número aumentou para 12.859. Inicialmente, as guerrilhas comunistas mantiveram-se contrárias ao tráfico dos grandes cartéis, reprovando seus efeitos nocivos sobre a desafortunada sociedade colombiana. Todavia, aos poucos, começaram a desenvolver vínculos mais estreitos com os plantadores e os traficantes de droga. [2]
O mais notório caso de ação narcoguerrilheira se deu em 1985, em Bogotá, e foi levado a cabo pelo grupo M-19, com financiamento de Pablo Escobar Gaviria. Conta Visacro que:
[…] Em novembro de 1985, militantes daquele grupo revolucionário invadiram o Palácio da Justiça, em Bogotá, e fizeram todos os 24 magistrados da Suprema Corte da Colômbia como reféns. Durante a ação de retomada do Exército, levada a cabo diante das câmaras de TV, quarenta guerrilheiros foram mortos. Cinquenta funcionários do governo, dos quais sete juízes, também pereceram. [3]
NOTAS
[1] VISACRO, Alessandro. Guerra Irregular: terrorismo, guerrilha e movimentos de resistência ao longo da história. São Paulo: Contexto, 2009. p. 295-96.
[2] Ibid. p. 302.
[3] Ibid. p. 302-3.
Por Me. Cláudio Fernandes