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A Guerra do Pacífico foi um conflito travado entre Chile, Bolívia e Peru no período de 1879 a 1884. As causas desse conflito estão relacionadas com as disputas territoriais travadas entre os países pelas regiões do deserto do Atacama (atualmente, essa região é território chileno) e com desentendimentos causados por interesses econômicos dos diferentes envolvidos. A Guerra do Pacífico até hoje gera efeitos negativos nas relações diplomáticas entre Chile e Bolívia.
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Antecedentes da Guerra do Pacífico
Ao longo do século XIX, a região que corresponde ao território de Antofagasta (hoje Norte do Chile, mas, na época, território boliviano), localizada no meio do deserto do Atacama, era desprovida de importância econômica. No entanto, isso mudou quando foram descobertas fontes de guano e salitre, que eram utilizados na produção de fertilizantes.
A descoberta do guano deu àquela região do Atacama uma grande importância econômica e intensificou as disputas de fronteira existentes entre Chile e Bolívia. As disputas fronteiriças naquela região resultavam das fronteiras imprecisas que haviam sido estabelecidas durante os anos da colonização espanhola.
A descoberta da importância do guano e salitre ocorreu a partir de estudos de cientistas ingleses. Naquele período, esses itens tinham muita importância para garantir a fertilidade do solo. Essa descoberta da importância econômica dessas matérias-primas só intensificou as disputas territoriais travadas entre Chile e Bolívia. Nessa disputa, os chilenos queriam estabelecer a fronteira mais ao norte, e os bolivianos defendiam o estabelecimento da fronteira mais ao sul do Atacama.
A importância econômica dessas matérias-primas trouxe prosperidade para a região de Antofagasta e atraiu empresas chilenas, que começaram a se instalar na região, sobretudo a partir da década de 1860. A instalação de empresas chilenas em território boliviano fez com que ambos os governos negociassem a assinatura de tratados econômicos sobre a exploração do guano e salitre. A disputa territorial, no entanto, garantia que as relações entre Santiago e La Paz permanecessem tensas.
O estabelecimento de grande número de empresas chilenas na região de Antofagasta para exploração do guano e salitre era reflexo das diferentes condições que os dois países viviam. O Chile era uma nação estável e que desde a década de 1840 vinha de um ciclo econômico próspero, o que garantia o desenvolvimento e o fortalecimento do país. Já a Bolívia vivia a situação oposta, apresentava governos instáveis, o que atrapalhava o desenvolvimento econômico do país.
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Causas da Guerra do Pacífico
Na década de 1870, a região do Atacama era densamente povoada por população de origem chilena. Isso era reflexo direto da quantidade de empresas chilenas que se estabeleceram para explorar o guano e salitre. Por causa desse crescimento da influência chilena na região (em quantidade de empresas e população) e da vital importância econômica, o governo chileno propôs a compra da porção boliviana do Atacama, oferta prontamente negada pela Bolívia.
A crescente presença chilena e as intenções de compra realizadas pelo governo chileno chamaram a atenção do governo boliviano, que começou a se movimentar para barrar a avanço da influência chilena sobre o Atacama. Na década de 1870, uma forte crise econômica atingiu a Bolívia, que, então, passou a organizar ações para garantir seus interesses no Atacama.
A primeira ação foi a de realizar a assinatura de um tratado com o governo peruano, que também se preocupava com o crescimento do poderio chileno no Atacama. O tratado assinado entre os governos de La Paz (capital da Bolívia) e Lima (capital do Peru) garantia que eles se apoiariam mutuamente caso algum deles entrasse em guerra contra uma terceira nação. Esse acordo foi assinado secretamente em 1873 e ficou conhecido como Tratado de Aliança Defensiva.
A assinatura desse acordo visava exatamente a atingir o Chile caso as tensões na região se agravassem, uma vez que peruanos e bolivianos haviam convidado os argentinos para participar desse tratado (uma vez que a Argentina também possuía disputas fronteiriças com o Chile). O grande temor de bolivianos e peruanos era de que o Brasil tomasse parte dos chilenos.
A outra ação do governo boliviano vinha no sentido de aumentar a arrecadação das empresas chilenas que estavam instaladas na porção boliviana do Atacama. Assim, o governo boliviano instituiu em 1878 um novo imposto sobre as empresas chilenas que exploravam as reservas bolivianas de salitre. O novo imposto impunha a cobrança de mais 10 centavos para cada 100 kg de salitre que fossem exportados pelas empresas chilenas.
A nova determinação boliviana também estipulava que, caso as empresas chilenas não cumprissem a lei, estariam sujeitas a confisco de bens por parte do governo boliviano. Rapidamente, as empresas chilenas acionaram o governo de Santiago, que, naturalmente, manifestou sua insatisfação com o governo boliviano pelo novo imposto.
O novo imposto, do ponto de vista chileno, possuía um agravante, pois era entendido como quebra do acordo comercial que havia sido assinado entre os dois países em 1874. Nesse acordo, o governo boliviano comprometeu-se a não impor novas cobranças de impostos para as empresas chilenas por um período de 25 anos, ou seja, até 1899.
Essa medida tomada pelo governo boliviano logo causou um crescimento na tensão entre os dois países, e a resposta chilena ocorreu militarmente. Em fevereiro de 1879, uma embarcação chilena impôs um embargo sobre o porto boliviano de Antofagasta e, nesse mesmo mês, 500 homens foram desembarcados e ocuparam Antofagasta.
Deflagração da guerra
A escalada das tensões fez com que o governo peruano enviasse um representante para Santiago com o objetivo de acalmar os ânimos do governo chileno. Exigiu-se, primeiramente, a retirada das tropas chilenas da região de Antofagasta, no entanto, o emissário peruano era visto pelo governo chileno como parcial, uma vez que existia um acordo de cooperação militar entre Peru e Bolívia e ele era do conhecimento do Chile, apesar do seu caráter secreto.
Em março de 1879, a Bolívia rompeu relações diplomáticas com o Chile e colocou-se em estado de guerra, acionando o acordo existente com o Peru. Em 23 de março, ocorreu o primeiro combate efetivo entre forças chilenas e forças bolivianas na região de Calama, na província de Antofagasta. A declaração de guerra formal entre as nações aconteceu no dia 5 de abril de 1879, quando o Chile declarou guerra contra Peru e Bolívia.
Com o início da guerra, o Chile logo deu as primeiras demonstrações da sua força militar e, no decorrer da guerra, os chilenos conseguiram impor sua força no mar, o que foi vital para garantir sua vitória no longo prazo. Por terra, os chilenos conquistaram diversos locais que pertenciam a bolivianos e peruanos.
O sucesso da empreitada chilena nessa guerra encontrou seu auge quando, em janeiro de 1881, uma força chilena composta por 26 mil homens desembarcou no Peru e conseguiu ocupar a capital peruana, Lima. Seguiu-se um período de dois anos em que as forças peruanas lutaram a partir da tática de guerrilha, mas sem sucesso para o resultado final da guerra.
A imposição de força dos chilenos obrigou os governos peruano e boliviano a negociar a rendição. Diferentes tratados foram assinados. Com o governo peruano, foi assinado um tratado de paz em 20 de outubro de 1883, no qual o governo peruano aceitou as condições do Chile e entregou-lhes o território de Tarapacá e as cidades de Arica e Tacna. Em 1929, a cidade de Tacna foi devolvida pelo Chile ao Peru.
No caso da Bolívia, foi assinada uma trégua entre as duas nações no dia 4 de abril de 1884. Um tratado de paz definitivo só foi assinado em 1904. O governo boliviano reconheceu a posse de Antofagasta ao Chile e, com isso, a Bolívia perdeu toda a sua costa para o Pacífico, ficando sem uma saída para o mar.
A questão da saída para o mar, inclusive, é até hoje motivo de tensão entre o governo do Chile e Bolívia. Atualmente, trava-se uma disputa pelos dois países no Tribunal Internacional de Haia, com a Bolívia solicitando da Corte Internacional uma decisão que force o governo chileno a iniciar negociações para solucionar essa questão, considerada de grande importância nacional na Bolívia.
*Créditos da imagem: Toniflap e Shutterstock
**Créditos da imagem: Dmitry Chulov e Shutterstock