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Quando falamos do uso de armas químicas e biológicas em conflitos militares, logo pensamos em uma tecnologia recente preparada para este tipo de situação. Entre os casos mais famosos, nos lembramos da acusação feita pelos Estados Unidos contra o governo do já falecido ditador Saddam Hussein. Antes de invadir a nação iraquiana, as autoridades norte-americanas alegavam que Saddam desenvolvia armas desse tipo, pondo em risco a paz no Oriente Médio.
No entanto, esse tipo de arma de destruição em massa incita uma polêmica sobre a Guerra do Paraguai. Em um conjunto de documentos mantidos pelo Museu Mitre (ARG), existe uma inconveniente carta de Duque de Caxias, um dos líderes dos exércitos brasileiros, endereçada ao imperador Dom Pedro II. Nesse documento, o comandante brasileiro sugere que cadáveres infectados com cólera tivessem sido propositadamente lançados no rio Paraná com o intuito de infectar os inimigos ribeirinhos.
A possibilidade desse tipo de “golpe baixo” gerou uma grande celeuma entre historiadores e militares. O historiador José Chiavenato, que dá amplo destaque às atrocidades cometidas neste conflito em sua obra, cita esse documento em seu livro “Genocídio Americano – A Guerra do Paraguai”. No entanto, Francisco Doratiotto – outro perito no assunto – discorda da intencionalidade ao assinalar que ambos os lados sofriam com o problema da doença infecto-contagiosa.
Quem mais se indignou com essa polêmica foram os militares brasileiros, que não admitem esse tipo de suspeita caluniosa contra a instituição da qual fazem parte. O coronel Cláudio Moreira Bento, autor do livro “Caxias e a unidade nacional”, desdenha desta perspectiva ao afirmar que esse tipo de polêmica tem caráter estritamente panfletário.
No entanto, Chiavenato rebate essa idéia defendida pelo general ao justificar que os brasileiros, principalmente os militares, não admitem que o Paraguai foi a maior vítima desta guerra. Para rechaçar sua perspectiva, o historiador salienta que mais de dois terços dos mortos na guerra eram paraguaios. Além disso, afirma que o Conde d’Eu – outro herói militar nacional – costumava libertar os soldados inimigos adoentados para que espalhassem doenças ao retornarem para suas tropas.
Por fim, essa polêmica bate de frente com a idéia que se tem sobre as motivações e posturas tomadas pelo Brasil durante o conflito. Teses polêmicas como as de Chiavenato desestabilizam a reconstrução de um passado heróico e moralmente incorruptível das Forças Armadas do Brasil. Em meio a tantas discordâncias, vemos como o passado desta guerra histórica ainda consegue perturbar o homem contemporâneo.