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A Guerra do Paraguai foi o maior conflito que aconteceu na América do Sul e estendeu-se de 1864 a 1870. Durante esse conflito, Brasil, Argentina e Uruguai, reunidos na Tríplice Aliança, lutaram contra o Paraguai, liderado por Francisco Solano López. Esse conflito foi um divisor de águas na história de todos os países envolvidos e, no caso do Brasil, marcou o início da decadência da monarquia.
Antecedentes
As causas da Guerra do Paraguai estão relacionadas com o processo de formação dos países do cone sul da América e com o choque de interesses tanto econômicos quanto políticos entre os envolvidos. As tensões que levaram ao início do conflito acentuaram-se a partir de 1862 quando Francisco Solano López assumiu como presidente – na verdade era um ditador – do Paraguai.
Durante aquele período, já existia uma certa rivalidade entre Brasil e Paraguai em virtude, primeiramente, de uma disputa territorial travada entre os dois países por um território de fronteira (atualmente corresponde a uma região do Mato Grosso do Sul). O outro motivo de desgaste entre os dois países envolvia a navegação dos rios da Bacia Platina. O Brasil era favorável à livre navegação, e o Paraguai, contrário a isso.
Após assumir a presidência do Paraguai, Solano López estreitou laços com um grupo dissidente na Argentina conhecido como federalistas e liderado por José Justo Urquiza. Esse grupo era adversário do governo de Buenos Aires, e essa aproximação entre paraguaios e federalistas desagradou o governo de Buenos Aires, liderado pelo presidente Bartolomé Mitre.
A aliança com os federalistas aproximou o Paraguai do governo uruguaio, liderado por Bernardo Berro (depois sucedido por Atanasio Aguirre) e pelo Partido Blanco. A aproximação com os blancos era fundamental para a economia paraguaia, uma vez que lhe possibilitava usar o porto de Montevidéu como saída para o mar, já que não havia possibilidade de se utilizar o porto de Buenos Aires – adversário político dos paraguaios.
Brasil e Argentina viram com desconfianças essa aproximação dos paraguaios com os blancos, principalmente porque ambos apoiavam outro grupo político do Uruguai, o Partido Colorado. Foi a disputa política travada entre blancos e colorados que gerou o estopim para o início da Guerra do Paraguai.
Em 1863, a tensão política no Uruguai aumentou consideravelmente quando os colorados, liderados por Venancio Flores, iniciaram uma insurreição contra o governo dos blancos. A partir disso, o governo brasileiro passou a ser pressionado para intervir contra os blancos na disputa política uruguaia. A pressão era realizada pelos estancieiros gaúchos que tinham seus interesses econômicos prejudicados na região pela política antibrasileira colocada em prática pelos blancos.
O Brasil então deu demonstrações de que interviria na disputa política uruguaia – agora uma guerra civil – sob o pretexto de defender cidadãos brasileiros no Uruguai que estavam sendo supostamente agredidos por milícias blancas. Acontece que o grande interesse brasileiro no Uruguai era simplesmente destituir os blancos do poder para colocar os colorados, que eram ideologicamente alinhados com os interesses do Brasil.
A possibilidade de intervenção brasileira no Uruguai irritou o ditador paraguaio, pois seus interesses no Uruguai seriam profundamente prejudicados. Além disso, Solano López havia sido convencido por políticos blancos de que a intervenção do Brasil no Uruguai era anexionista e que se repetiria com o Paraguai em breve – o que não era verdadeiro.
Após isso, o Paraguai deu um ultimato ao governo brasileiro em agosto de 1864 de que, caso interviesse no Uruguai, sofreria as consequências. A ameaça paraguaia, no entanto, foi ignorada pelo governo brasileiro, que prosseguiu organizando a intervenção no Uruguai, realizando-a em setembro de 1864. A intervenção brasileira no Uruguai teve sucesso, pois destituiu os blancos e colocou os colorados no poder.
A resposta paraguaia veio em pouco tempo. Em dezembro de 1864, o Paraguai atacou o Brasil. Nesse mês, os paraguaios aprisionaram uma embarcação brasileira que navegava o Rio Paraguai – Marquês de Olinda – em direção a Cuiabá e realizaram a invasão da província do Mato Grosso. O ato de agressão dos paraguaios deu início ao conflito entre Brasil e Paraguai.
Principais acontecimentos do conflito
Após o início do conflito entre Brasil e Paraguai, a entrada da Argentina só ocorreu em 1865. A entrada da Argentina aconteceu depois que o presidente Bartolomé Mitre negou passagem aos exércitos paraguaios pela província de Corrientes. Os exércitos paraguaios cruzariam Corrientes para atacar o Rio Grande do Sul e auxiliar os blancos no Uruguai.
Com a negativa do governo argentino, Francisco Solano López declarou guerra à Argentina e invadiu a região. A invasão da Argentina fez com que o país se aproximasse do Brasil e, em 1º de maio de 1865, foi assinado o Tratado da Tríplice Aliança, no qual Brasil, Argentina e Uruguai (agora governado pelos colorados) uniram-se para lutar contra o governo de Solano López.
A respeito das fases da Guerra do Paraguai, elas podem ser resumidas em dois momentos: em um primeiro momento, o Paraguai esteve à frente das ações ofensivas; em um segundo momento, o Paraguai assumiu uma postura defensiva. Essa primeira parte da ofensiva paraguaia teve duração muito curta e resumiu-se exclusivamente às ações do exército paraguaio no Rio Grande do Sul e em Corrientes.
Rapidamente derrotados pelas forças da Tríplice Aliança, os exércitos paraguaios recuaram e passaram então a ocupar posições de defesa para proteger seu território. A partir desse momento, iniciou-se uma fase longa da guerra, na qual a luta foi travada inteiramente no território paraguaio e as conquistas da Tríplice Aliança foram lentas.
Veja algumas batalhas de destaque do conflito:
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Batalha Naval de Riachuelo (junho de 1865): a Batalha de Riachuelo é até hoje uma das mais – senão a mais – famosa batalha naval travada pela Marinha Brasileira. Nela, a Marinha Brasileira conseguiu destruir quase a totalidade da Marinha Paraguaia. Assim, o Paraguai foi isolado e impedido de receber suprimentos durante a guerra;
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Batalhas de Tuiuti (maio de 1866 e novembro de 1867): foram realizadas duas Batalhas de Tuiuti em diferentes momentos da guerra. Nela os exércitos paraguaios atacaram o acampamento dos exércitos da Tríplice Aliança. Ambos os ataques foram fracassados, e o exército paraguaio acumulou baixas;
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Batalha de Curupaiti (setembro de 1866): a Batalha de Curupaiti foi uma das grandes derrotas dos exércitos da Tríplice Aliança. Nela foi realizado um ataque fracassado contra a fortaleza de Curupaiti, que resultou em um total de 4-9 mil mortos;
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Tomada de Humaitá (julho de 1868): a fortaleza de Humaitá era a principal defesa dos paraguaios e, após ser parcialmente cercada pelos exércitos brasileiros, foi abandonada pelos exércitos paraguaios e ocupada em 1868;
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Batalha de Acosta Ñu (agosto de 1869): uma das batalhas mais polêmicas da guerra pelo fato de Solano López ter levado à luta um exército composto por adolescentes menores de 15 anos. Críticas também são realizadas ao massacre cometido pelas tropas brasileiras;
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Batalha de Cerro Corá (março de 1870): batalha final da guerra que resultou na morte de Solano López por soldados brasileiros.
Consequências
A Guerra do Paraguai trouxe muitas consequências para os envolvidos, sobretudo Brasil e Paraguai. No caso do Paraguai, a guerra trouxe destruição para a pouca infraestrutura existente no país, arrasou a economia e resultou na morte de milhares de paraguaios (a quantia de 300 mil mortos paraguaios muito difundida é considerada exagerada e imprecisa atualmente pelos historiadores).
No caso do Brasil, a guerra teve forte impacto na nossa economia, principalmente pelos altos gastos realizados pelo governo para viabilizar a luta (o governo brasileiro gastou 11 vezes mais o orçamento de 1864) |1|. Além disso, a guerra marcou o afastamento entre o Exército e o Estado e deu início à decadência da monarquia brasileira.
Para argentinos e uruguaios, o impacto da guerra ocorreu a partir da consolidação de ambas as nações e houve o fim das disputas políticas existentes nos dois países. Assim, os conflitos entre unitaristas x federalistas na Argentina e blancos x colorados no Uruguai foram resolvidos de maneira definitiva. No caso argentino, a guerra ainda contribuiu para o enriquecimento da classe mercantil da cidade de Buenos Aires.
|1| DORATIOTO, Francisco. Guerra do Paraguai. In.: MAGNOLI, Demétrio (org.). História das Guerras. São Paulo: Contexto, 2013, p. 282.
*Créditos da imagem: Boris15 e Shutterstock
Por Daniel Neves
Graduado em História