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Um dos grandes marcos do Capitalismo Financeiro foi o processo de financeirização da economia, em que as ações de empresas, as dívidas no mercado e as especulações tornaram-se mercadorias regidas pelas leis do mercado, como a da livre concorrência e a lei da oferta e da procura. Uma crise financeira, por sua vez, é a emergência de problemas graves e estruturais nessa lógica do sistema.
A crise financeira global, mais precisamente aquela iniciada em 2008 no mercado imobiliário dos Estados Unidos e que se espalhou mundo afora nos anos seguintes, afetando principalmente a Europa, foi uma crise especulativa, em que dívidas e títulos baseados em especulações perderam repentinamente o seu valor. Para compreender todas as etapas desse processo, primeiro é preciso entender a quebra do setor imobiliário norte-americano, costumeiramente chamada de crise de 2008.
A crise de 2008
Apesar de ser comumente tida como uma crise que estourou em 2008, foi em 2007 que ela teve início, pois foi quando o mercado imobiliário norte-americano começou a despencar em termos de valorização, ou seja, o preço dos imóveis nos Estados Unidos estava caindo vertiginosamente, o que estava começando a gerar um efeito cascata em toda a economia.
Tudo começou porque, em 2001, com o objetivo de impulsionar o consumo e a dinâmica do mercado, o governo norte-americano começou a ceder mais crédito, diminuindo os juros e incentivando os empréstimos financeiros. Tal ação ganhou uma grande proporção no mercado imobiliário, pois, com mais créditos e empréstimos disponíveis a juros baixos, as pessoas começaram a investir em imóveis, mas não necessariamente para morar, mas simplesmente para vender mais caro depois e conseguir lucro. É o que chamamos de especulação imobiliária.
Com muita gente querendo comprar casa, não era de se admirar que o preço delas tenha se elevado rapidamente. Em poucos anos, era possível comprar uma nova casa apenas com a especulação tida com o imóvel anterior, era um excelente negócio. Com isso, o mercado de hipotecas ampliou-se e empréstimos para a compra de casas eram concedidos tendo como garantia a própria casa. No fim das contas, era até melhor que a hipoteca não fosse paga, pois o credor ficaria com um bem que estava cada vez mais caro e, portanto, mais valorizado.
Muitas empresas começaram a comprar essas hipotecas dos bancos e a negociá-las no mercado como se fossem uma mercadoria comum. Duas dessas empresas ficaram, mais tarde, muito famosas por isso: Fannie Mae e a Freddie Mac. Elas compravam as dívidas hipotecárias dos bancos (chamadas de subprimes ou “créditos podres”) a fim de obter rápido lucro com elas, negociando-as ou até recebendo o pagamento dessas dívidas.
Com a empolgação do mercado imobiliário, mais e mais casas foram sendo construídas e créditos foram concedidos até mesmo para famílias de baixa renda e sem nenhum tipo de garantia. Com mais casas disponíveis, a tendência foi uma diminuição de seus preços, ou seja, desvalorização, fazendo com que os lucros fossem menores ou que prejuízos acontecessem, o que se agravou com os vários calotes realizados nas hipotecas. Assim, os valores imobiliários despencaram vertiginosamente em 2007 e, principalmente, em 2008, difundindo a crise. A Fannie Mae e a Freddie Mac quebraram nesse mesmo ano, e vários bancos foram junto, com destaque para o Lehman Brothers.
A crise econômica europeia
É praticamente consenso que a crise da Europa, especialmente na zona de euro, nada mais é do que uma extensão da crise imobiliária dos Estados Unidos de 2008. E a razão para isso é simples: a globalização. O que ocorreu é que os subprimes foram negociados em todo o mundo, envolvendo investidores principalmente oriundos de países desenvolvidos, com destaque para a União Europeia. Com a falência do mercado, esses investidores e tudo o que deles dependia também foram afetados.
Para evitar a quebra dos bancos, muitos governos gastaram muito para socorrê-los e evitar uma recessão ainda mais aguda, o que elevou a dívida pública e o deficit desses países, aumentando o risco de calotes da dívida por parte de muitos governos. Alguns desses, em especial, viviam uma situação mais grave, eram os chamados PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha), sigla que faz alusão à palavra “porcos” (pigs, em inglês).
E o que um país faz quando está endividado e com a economia em recessão? Mais dívidas! Foram contraídos empréstimos no FMI, Banco Mundial e UE que exigiram, em contrapartida, o corte de gastos com a máquina pública, o enxugamento de salários e diminuição de investimentos. O problema foi que isso gerou mais estagnação econômica, pois o mercado consumidor ficou menos ativo e os lucros diminuíram, agravando o quadro. A tudo isso se somaram as greves e protestos da população que não aceitava as medidas impostas pelos organismos internacionais, chamadas de medidas de austeridade. Na Espanha, por exemplo, o desemprego subiu vertiginosamente a partir de 2011.
Os Estados Unidos, da mesma forma, também sofreram com a elevação da dívida, o que obrigou o país até mesmo a elevar o teto da dívida pública, gerando uma grande discussão política em torno da aprovação dessa resolução que, caso não fosse aprovada, geraria um grande calote do governo estadunidense e, aí sim, uma crise global sem igual ocorreria. Nesse caso, seriam milhares de credores fincando a ver navios! Com sorte, a resolução foi aprovada, e os Estados Unidos (e outros países) seguem atualmente na tentativa de ampliar o emprego e os investimentos na economia.
O curioso é que essa crise afetou, em grande parte, os países desenvolvidos e os subdesenvolvidos mais dependentes. As chamadas “economias emergentes”, tais como o Brasil, a Rússia e a China, sentiram em menores escalas esses efeitos, muito em função de seus elevados fundos de reserva e os investimentos realizados com esses fundos. Além disso, esses países conseguiram aumentar o emprego e a atuação de seus amplos mercados consumidores, dinamizando, assim, suas economias internas. No entanto, a crise ainda não se encerrou e todo cuidado é pouco!
Por Me. Rodolfo Alves Pena