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A realização, na África do Sul, de um dos eventos mais importantes do mundo – a Copa do Mundo de Futebol –, no ano de 2010, pode ser considerada como um fato histórico para o país e para o mundo. Além de ter sido o primeiro país africano a sediar esse impactante evento esportivo, os sul-africanos mostraram para o mundo que conseguiram superar o episódio histórico do apartheid vivenciado por sua população.
O apartheid pode ser entendido como uma política que legalizou ou oficializou o racismo na África do Sul entre os anos de 1948 e 1994. Nesse regime, a minoria branca passou a gozar de todos os privilégios sociais, como votar e ter acesso a vários lugares, de modo a segregar social e geograficamente a população negra, em um dos mais lamentáveis acontecimentos históricos da humanidade.
A institucionalização do apartheid ocorreu com a chegada do Partido Reunido Nacional em 1948, que lutava pela imposição da visão segregacionista dos africânderes, que se justificavam a partir de tradições semelhantes de seus ancestrais, os bôeres. Com isso, além da restrição ao sufrágio, os negros passaram a ficar isolados em assentamentos específicos (chamados de “bantustões”), impedidos de adquirir terras e de se casarem com pessoas brancas.
Com isso, além da humilhação social estabelecida, os negros passaram a contar com degradantes serviços públicos e privados, a sofrer com uma maior degradação de suas condições vida, além da intensificação da ação repressora por parte do governo. Mesmo assim, os protestos contra o regime do apartheid foram intensificados sob a liderança do Congresso Nacional Africano (CNA), partido que foi banido na década de 1960. Entre os líderes do CNA, estava Nelson Mandela (1918 – 2013), que foi preso e mantido assim por 27 anos.
Nesse contexto, a pressão internacional contra o regime do apartheid na África do Sul tornou-se bastante intensa, com várias sanções internacionais e um consequente isolamento político em face da inflexibilidade do governo.
Em 1989, no entanto, após a realização de eleições, os africânderes foram derrotados e o novo presidente, Frederik Willem Klerk, implementou medidas para acabar com o apartheid, devolvendo a legalidade ao CNA e revogando a prisão de ativistas que lutavam contra o regime (incluindo Mandela). Nelson Mandela, em 1994, foi eleito em eleições democráticas e multirraciais, tornando-se o primeiro presidente negro da história da África do Sul, responsável por dar um fim definitivo ao regime racial existente.
Todavia, o legado do apartheid ainda é muito sentido na África do Sul, que também passou a sofrer com os graves problemas econômicos, que vão sendo gradativamente superados. Hoje, o país é considerado como uma economia emergente e encontra-se como um dos principais países do continente africano em termos políticos e econômicos. A partir de 2011, inclusive, os sul-africanos passaram a compor a cúpula do BRICS, ao lado de Brasil, Rússia, Índia e China, que são vistos hoje como os principais representantes dos países em desenvolvimento no mundo.
Nesse contexto, a candidatura para a realização da Copa do Mundo de 2010 na África do Sul – lembrando que, por decisão da FIFA, o evento deveria ocorrer necessariamente em um país da África – foi considerada como um ato simbólico de demonstração da evolução do país e também uma demonstração clara que, ao menos no aspecto político, o apartheid foi superado.
Apesar de a seleção local não ter passado sequer das primeiras fases do torneio, considerou-se que o evento foi muito bem realizado, culminando em uma maior e mais ampla divulgação das condições sociais do país e também de sua potencialidade turística. Ao contrário do que ocorria em tempos de repressão racial, hoje a África do Sul é vista com outros olhos pela comunidade internacional.
Por Me. Rodolfo Alves Pena