Søren Kierkegaard é considerado o precursor do existencialismo, tendo enfatizado a subjetividade, a liberdade de escolha e a busca individual pelo sentido da vida, muitas vezes relacionado à fé e à relação pessoal com Deus. Ele explorou conceitos como angústia, definida como a vertigem diante das possibilidades humanas, e desenvolveu a ideia dos três estágios da existência — estético, ético e religioso —, que culminam na fé como a forma mais elevada de vida.
Suas obras, como Temor e tremor e A Doença para a morte, analisam questões profundas da existência e foram frequentemente publicadas sob pseudônimos que lhe permitiam abordar diferentes perspectivas filosóficas. Kierkegaard deixou um legado marcante na filosofia, na teologia e na literatura, influenciando nomes como Heidegger e Sartre, além de produzir reflexões imortais, como a célebre frase: “A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás; mas só pode ser vivida olhando-se para frente”.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre Kierkegaard
- 2 - Videoaula sobre Kierkegaard
- 3 - Biografia de Kierkegaard
- 4 - O que Kierkegaard defendia?
- 5 - Os três estágios de Kierkegaard
- 6 - Obras de Kierkegaard
- 7 - Pseudônimos de Kierkegaard
- 8 - Legado de Kierkegaard
- 9 - Frases de Kierkegaard
Resumo sobre Kierkegaard
- Søren Kierkegaard foi um filósofo e teólogo influenciado pela religiosidade paterna e marcado por crises existenciais que moldaram sua obra, vindo a falecer em 1855.
- Precursor do existencialismo, enfatizou a subjetividade como central para a existência, defendendo a análise das escolhas individuais e da liberdade humana como fundamento da vida.
- Para Kierkegaard, o sentido da vida reside na relação pessoal com Deus, que deve ser encontrada por cada indivíduo por meio de uma vida autêntica e guiada pela fé.
- A angústia, segundo Kierkegaard, é a vertigem causada pela liberdade de escolha e é um sentimento necessário para o crescimento individual e a realização pessoal.
- Kierkegaard defendia a fé como um salto que transcende a razão, promovendo uma relação íntima e pessoal com Deus, em oposição à religião institucionalizada.
- Os três estágios de Kierkegaard — estético, ético e religioso — descrevem o desenvolvimento espiritual humano, culminando na fé como a forma mais elevada de existência.
- Suas principais obras, Temor e tremor, O desespero humano e A doença para a morte, abordam temas como fé, desespero e o paradoxo da existência humana.
- Kierkegaard utilizou pseudônimos como Victor Eremita e Johannes de Silentio para explorar diferentes perspectivas filosóficas sem vinculá-las diretamente a si.
- Seu legado inclui contribuições decisivas ao existencialismo, à teologia dialética e à literatura, influenciando pensadores como Heidegger, Sartre e Camus.
Videoaula sobre Kierkegaard
Biografia de Kierkegaard
Søren Aabye Kierkegaard nasceu em 5 de maio de 1813, em Copenhague, Dinamarca. Ele era o caçula de sete filhos de Michael Pedersen Kierkegaard e Ane Sørensdatter Lund. Seu pai, um comerciante de sucesso, influenciou profundamente o filho com seu rigor religioso e sua visão melancólica da vida. A morte precoce de vários irmãos e a intensa religiosidade da família marcaram a infância e juventude de Kierkegaard.
Kierkegaard ingressou na Universidade de Copenhague em 1830 para estudar teologia, mas também se interessou por filosofia e literatura. Sua vida acadêmica foi irregular devido a crises existenciais e períodos de isolamento. Em 1841, apresentou sua tese de doutorado, intitulada Sobre o conceito de ironia, com constante referência a Sócrates.
Kierkegaard ficou conhecido por seu relacionamento conturbado com Regine Olsen, que influenciou profundamente sua obra. Ele rompeu o noivado com Olsen em 1841, alegando que sua dedicação à escrita e à espiritualidade o tornavam incapaz de sustentá-la emocionalmente. Ele viveu de forma reclusa até sua morte, em 11 de novembro de 1855, devido a complicações de saúde.
O que Kierkegaard defendia?
- Existencialismo: Considerado o “pai do existencialismo”, Kierkegaard enfatizava a singularidade da experiência humana e a subjetividade como pontos centrais para entender a existência. Para ele, a filosofia deveria abordar questões concretas da vida, como escolhas individuais, liberdade e responsabilidade. Kierkegaard argumentava que a existência humana não é definida por princípios universais, mas pelo enfrentamento direto das condições da vida. Para saber mais sobre o existencialismo, clique aqui.
- Sentido da vida: Kierkegaard acreditava que o sentido da vida estava intimamente ligado à relação do indivíduo com Deus. Ele rejeitava as explicações abstratas ou generalizantes, propondo que cada pessoa deveria encontrar seu propósito ao viver autenticamente. A autenticidade, segundo ele, requer enfrentar a própria finitude e abraçar a fé como um salto que transcende a razão.
- Angústia: Um tema central em sua obra é a angústia, que Kierkegaard via como um sentimento universal ligado à liberdade humana. Ele descreveu a angústia como a sensação de vertigem diante da possibilidade de escolhas. Para Kierkegaard, esse sentimento é positivo, pois impulsiona o indivíduo a reconhecer sua responsabilidade e potencial de autotransformação.
- Deus: Para Kierkegaard, a fé em Deus era o cerne da existência humana. Ele enfatizava a necessidade de um relacionamento íntimo e pessoal com o divino, muitas vezes em oposição às estruturas institucionais da religião organizada. Kierkegaard via a fé como um ato de entrega total, que exige o abandono da segurança oferecida pela lógica e pelo racionalismo.
Leia também: Kierkegaard e o uso da ironia
Os três estágios de Kierkegaard
Kierkegaard desenvolveu um modelo para descrever o desenvolvimento espiritual humano, dividido em três estágios: estético, ético e religioso.
- Estágio estético: Nesse estágio, a busca pela satisfação imediata e pelo prazer é predominante. O indivíduo vive de maneira superficial, evitando responsabilidades e ignorando questões existenciais mais profundas. A vida é orientada pela busca do belo e do prazer sensorial, mas frequentemente leva à desilusão e ao desespero.
- Estágio ético: No estágio ético, o indivíduo começa a assumir responsabilidades e a refletir sobre os valores morais. A vida deixa de ser guiada apenas pelo prazer e passa a ser orientada pela busca do bem e da justiça. Nesse estágio, há um reconhecimento mais profundo das limitações humanas e uma luta para viver de forma mais significativa.
- Estágio religioso: O estágio religioso é o ápice do desenvolvimento espiritual. O indivíduo aceita sua dependência de Deus e reconhece que a verdadeira realização está na fé. Esse estágio exige um salto de fé, em que a razão e a lógica são abandonadas para abraçar uma confiança total no divino.
Obras de Kierkegaard
A produção literária de Kierkegaard é vasta e aborda temas filosóficos, religiosos e existenciais. Entre suas obras mais importantes, estão:
- Ou isto, ou aquilo (1843): Explora os estágios estético e ético da existência.
- Temor e tremor (1843): Investiga a fé e o paradoxo da relação entre o homem e Deus, inspirado na história bíblica de Abraão.
- As obras do amor (1847): Reflexões sobre o amor cristão e sua manifestação prática.
- O desespero humano (1849): Analisa a condição do desespero como parte integrante da existência humana.
- A doença para a morte (1849): Examina a relação entre desespero, pecado e fé.
Pseudônimos de Kierkegaard
Kierkegaard frequentemente publicou suas obras sob pseudônimos, cada um representando uma perspectiva filosófica ou psicológica específica. Essa estratégia permitia que ele explorasse diferentes pontos de vista sem vinculá-los diretamente à sua pessoa. Alguns de seus pseudônimos mais notáveis incluem:
- Victor Eremita: Representa o estágio estético.
- Johannes de Silentio: Autor fictício de Temor e tremor.
- Anti-Climacus: Representa uma visão mais profunda do cristianismo, como em A doença para a morte.
- Climacus: Utilizado em obras como Post-scriptum conclusivo não científico.
Legado de Kierkegaard
O impacto de Kierkegaard na filosofia, teologia e literatura é imenso. Ele influenciou pensadores como Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre, Karl Jaspers e Gabriel Marcel, além de escritores como Franz Kafka e Albert Camus. Suas ideias lançaram as bases do existencialismo e da teologia dialética.
Na teologia, suas reflexões sobre fé e individualidade desafiaram a ortodoxia religiosa de sua época, promovendo uma abordagem mais pessoal e subjetiva da espiritualidade. Na filosofia, sua análise da liberdade, angústia e autenticidade continua relevante em debates contemporâneos sobre a condição humana.
Leia também: Existencialismo em Jean-Paul Sartre
Frases de Kierkegaard
- “A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás; mas só pode ser vivida olhando-se para frente.”
- “A angústia é o vértice da liberdade.”
- “A porta da felicidade se abre para dentro; é preciso recuar um pouco para abri-la: se a forçarmos, ela se fecha ainda mais.”
- “A fé é a maior paixão de todas.”
- “O maior perigo para a maioria de nós não é que nosso objetivo seja muito alto e não o alcancemos, mas que seja muito baixo e o alcancemos.”
Fontes
KIERKEGAARD, S. O conceito de angústia: uma simples reflexão psicológico-demonstrativa direcionada ao problema dogmático do pecado hereditário. Tradução de Álvaro L.M. Valls. São Paulo: Editora UNESP, 2010.
KIERKEGAARD, S. Temor e tremor. Tradução de João da Silva. Petrópolis: Editora Vozes, 2014.
KIERKEGAARD, S. A doença para a morte. Tradução de Álvaro L.M. Valls. Petrópolis: Editora Vozes, 2013.
AMORIM, M. R. B. Reflexões sobre a obra kierkegaardiana Desespero Humano. Revista de Filosofia, v. 12, n. 2, p. 215-230, 2010. Disponível em: https://dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/3251/1/PDF%20-%20Marta%20Renata%20Basilio%20Amorim.pdf.
SILVA, A. M. Kierkegaard, a escola da angústia e a psicoterapia. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 35, n. 2, p. 414-427, 2015. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pcp/a/xYBLQtG6kBBCfNFRS7bnwqQ/.