A linguagem é estudada por meio de diversas áreas e, entre elas, encontra-se a Fonética, que se preocupa em analisar de forma detalhada os sons produzidos por uma língua. Essa área de estudo é subdivida em duas: a Fonética Articulatória e a Fonética Acústica. Vamos analisar o objeto de cada uma dela.
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Fonética Articulatória
Essa ramificação da Fonética preocupa-se com os aspectos fisiológicos e articulatórios da produção dos sons de uma língua, ou seja, estuda o local em que os sons são produzidos no aparelho fonador.
Veja nas imagens a seguir as regiões do aparelho fonador que são analisadas pela Fonética Articulatória durante a produção da fala:
Dessa forma, ao descrever um som, por exemplo, o [ p ] que aparece em pato, dizemos que é uma consoante oclusiva bilabial desvozeada. Isso significa que, durante sua produção, não ocorre vibração das cordas vocais (não-vozeada) e que a corrente de ar passa pela cavidade oral, e não nasal, caracterizando-a como uma consoante oral. Além disso, seu tipo de obstrução é total (oclusão), sendo produzida pelo lábios superior e inferior (bilabial).
Assim, de acordo com a fisiologia do aparelho fonador, os fonemas são classificados pela Fonética Acústica segundo alguns critérios específicos:
a) Consoantes: sons que possuem alguma obstrução na passagem de ar e são classificados conforme:
- Modo de articulação;
- Lugar de articulação;
- Vozeamento;
- Nasalidade/ oralidade.
Exemplo:
[ d ] - oclusiva alveolar vozeada ou oclusiva dental vozeada.
b) Vogais: são sons que não possuem obstrução na passagem de ar e são classificados de acordo com:
- Altura da língua;
- Anterioridade/ posterioridade da língua;
- Arredondamento dos lábios;
- Nasalidade/oralidade.
Exemplo:
[ e ] (dedo) – média-alta anterior não-arredondada.
Esse ramo da Fonética preocupa-se com a acústica dos sons da fala, ou seja, seus aspectos físicos como a amplitude, a duração, a frequência fundamental e o espectro da onda sonora. Esse estudo é realizado por meio de espectrogramas, gráficos da forma de onda, trajetórias de formantes e da frequência fundamental, etc.
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Veja a seguir uma análise, realizada por Cândida M. B. Leite, do fonema /R/ por meio de um espectograma:
No espectrograma 1 acima, o F3 apresenta valores de 2074 Hz na porção medial e 2177 Hz na porção final. Trata-se de um exemplo claro de retroflexão, tanto auditiva quanto acusticamente. Esse correlato reflete o padrão acústico da sequência VR, quando /R/ é antecedido pelas vogais posteriores /?/ e /u/.
O trato vocal feminino, por ser menor do que o trato vocal masculino, produz formantes com altas frequências. Sendo assim, uma vez que se assume que os formantes da fala feminina são mais altos se comparados com aqueles da fala masculina, assume-se, também, que o F3 de um /R/ produzido por uma mulher não deve estar situado abaixo de 2000 Hz, mas que esse F3 apresentaria um abaixamento proporcional, conforme afirma Hagiwara (1995). O exemplo acima, que sintetiza o padrão encontrado nos dados da informante PC, se enquadra nos resultados encontrados pelo referido autor para o /R/ retroflexo pós-vocálico do inglês, a partir de dados de fala feminina.
LEITE, C. M. B. Um estudo fonético-acústico do /R/ vocalizado em posição de coda silábica. Delta. Vol. 28 no.2 São Paulo, 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-44502012000200002>. Acesso em: 12 set.2017.
Assim, o som é analisado pela Fonética Acústica a partir dos seguintes critérios:
- Amplitude, comprimento de onda, período e frequência;
- Velocidade do som;
- Intensidade e amplitude;
- Frequência e pitch (altura);
- Timbre.
Por Mariana Rigonatto
Graduada em Letras