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O que é catarse?

A catarse é um conceito multifacetado que permeia diversas áreas do conhecimento humano, desde a filosofia até a educação, passando pela psicanálise e pelas artes.

Imagem explicando o que é catarse.
A catarse pode ser um momento de iluminação e liberação que pode ocorrer numa sala de teatro ou no meio da natureza.
Crédito da Imagem: Brasil Escola
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Você sabe o que é catarse? A catarse é um conceito multifacetado que permeia diversas áreas do conhecimento humano, desde a filosofia até a educação, passando pela psicanálise e pelas artes. Suas características envolvem a ideias de liberação e de renovação, sendo um conceito que pode ser aplicado a diferentes campos. Segundo Aristóteles, a tragédia desperta paixões de piedade e medo, e, por isso, tem um efeito catártico, podendo aliviar essas mesmas emoções no interior dos que assistem à encenação. No campo das artes, catarse pode ser o efeito da excitação emocional por músicas, filmes ou esculturas das artes plásticas.

Catarse também é um conceito usado na teoria psicanalítica de Freud para descrever a satisfação que se tem ao se trazer à consciência ideias e emoções reprimidas. A catarse, ao ser incorporada à educação e à pedagogia, especialmente na pedagogia histórico-crítica, revela-se como um poderoso instrumento de transformação. Ela permite que educadores e educandos transcendam a mera transmissão e assimilação de conhecimentos, engajando-se em um processo educativo que é ao mesmo tempo libertador e transformador.

Leia também: O que é a metafísica?

Tópicos deste artigo

Características da catarse

A catarse é tradicionalmente associada à ideia de purificação ou limpeza emocional. Esse processo envolve a liberação de emoções reprimidas, proporcionando um alívio e uma sensação de renovação interior. A catarse pode ser experimentada em diversos contextos, como na apreciação de uma obra de arte, durante uma prática religiosa ou mesmo em um processo terapêutico.

Catarse na filosofia

Máscaras do teatro grego em um fundo preto, uma alusão à catarse na filosofia.
Historicamente, a catarse foi associada aos sentimentos despertados pela tragédia grega, expressão que está na origem do teatro.

Na filosofia, a catarse é um conceito que foi amplamente discutido por Aristóteles, que a considerava um elemento central na experiência da tragédia grega. Para ele, a catarse era o efeito purificador que a tragédia tinha sobre o espectador, ao provocar emoções como piedade e temor, e, por meio delas, purgar as paixões e proporcionar um equilíbrio emocional.

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Catarse para Aristóteles

Aristóteles via a catarse como um mecanismo essencial para a saúde emocional e psicológica do indivíduo. Ao assistir a uma tragédia, o público se identificava com os personagens e suas vicissitudes, vivenciando indiretamente seus conflitos e, consequentemente, purgando suas próprias emoções negativas. Essa experiência, segundo o filósofo, contribuía para a formação moral e cívica dos cidadãos.

Para saber mais sobre a vida e sobre os estudos de Aristóteles, clique aqui.

Catarse na psicanálise

Mulher em uma sessão de psicanálise, uma alusão à catarse na psicanálise.
A catarse, ao ajudar a liberar emoções, pode ser um meio de cura e de entendimento psicológico.

Na psicanálise, a catarse assume um papel terapêutico. Sigmund Freud, influenciado pelos trabalhos de Joseph Breuer, utilizou a catarse como um meio para acessar e liberar emoções e memórias reprimidas no inconsciente. Através da fala e da associação livre, o paciente era capaz de trazer à consciência conteúdos emocionais esquecidos, o que poderia levar à compreensão e resolução de conflitos internos.

Catarse para Freud

Junto com seu colega Josef Breuer, Sigmund Freud, o pai da psicanálise, resgatou e expandiu o conceito de catarse para o campo da psicologia e da terapia. No início de seus trabalhos, Freud utilizou o método catártico, que envolvia a hipnose como meio para acessar e liberar emoções reprimidas associadas a traumas passados.

Freud e Breuer observaram que, ao permitir que os pacientes revivessem e expressassem essas emoções durante a hipnose, ocorria uma significativa melhora em seus sintomas neuróticos. Isso levou à conclusão de que a catarse, entendida como a expressão e liberação de emoções bloqueadas, era um elemento-chave para a cura psicológica.

Com o tempo, Freud evoluiu de sua dependência da hipnose para a técnica da livre associação, que se tornou um pilar da prática psicanalítica. Ele percebeu que a catarse poderia ser alcançada não apenas através da hipnose, mas também permitindo que os pacientes falassem livremente sobre seus pensamentos e sentimentos, sem censura. Esse processo de falar livremente facilitava a emergência de conteúdos inconscientes, incluindo emoções reprimidas e memórias traumáticas, que poderiam então ser trabalhadas terapeuticamente.

Freud acreditava que a catarse estava intimamente ligada à estrutura da psique humana, composta pelo id, ego e superego, e aos mecanismos de defesa que o indivíduo utiliza para lidar com conflitos psíquicos. A repressão, um desses mecanismos, atua impedindo que desejos e impulsos inaceitáveis do id cheguem à consciência. A catarse, nesse contexto, oferece um meio para que esses conteúdos reprimidos sejam trazidos à consciência e trabalhados, permitindo uma reorganização psíquica mais saudável.

Para saber mais sobre a vida e sobre o trabalho de Sigmund Freud, clique aqui.

Catarse nas artes

Nas artes, a catarse é frequentemente associada à experiência estética que provoca uma resposta emocional intensa no espectador. Seja na literatura, no teatro, na música ou no cinema, a catarse permite que o público se envolva profundamente com a obra, experimentando emoções que podem levar a uma sensação de clareza ou entendimento mais profundo de si mesmo e do mundo.

No teatro, por exemplo, a catarse é o momento em que o público, ao se identificar com as emoções dos personagens, experimenta uma liberação emocional, soltando sentimentos que, em outras ocasiões, poderiam ser reprimidos: piedade, temor ou compaixão.

Catarse na religião

Em muitas religiões, a catarse é um objetivo central das práticas rituais e espirituais, sendo vista como um meio de purificação da alma, libertação de pecados e, em um sentido mais amplo, como uma forma de comunhão e renovação espiritual. A catarse religiosa pode ser individual ou coletiva, e é frequentemente alcançada através de rituais que envolvem orações, confissões, danças, cânticos e outras formas de expressão que visam à intensificação da experiência espiritual e à conexão com o divino.

O transe, um estado alterado de consciência, é um fenômeno comum em muitas tradições religiosas e é muitas vezes induzido durante rituais específicos. Ele pode ser considerado um veículo para a catarse, pois permite aos praticantes transcenderem o estado ordinário de consciência e experimentarem uma realidade espiritual mais profunda. No transe, os indivíduos podem sentir-se libertos das preocupações mundanas e mais abertos a receber mensagens e ensinamentos espirituais.

Catarse na educação

No âmbito educacional, a catarse pode ser vista como um momento de transformação e crescimento. A pedagogia histórico-crítica, fundamentada nas ideias de Gramsci e outros teóricos marxistas, vê a educação como um meio de transformação social. Nesse contexto, a catarse assume um papel fundamental, sendo considerada o momento culminante do processo educativo.

Dermeval Saviani, um dos principais expoentes dessa pedagogia no Brasil, apoia-se explicitamente em Gramsci para considerar a catarse como a "expressão elaborada da nova forma de entendimento da prática social a que se ascendeu". Isso implica uma transformação intelectual, emocional, educativa, política e ética, que altera a visão de mundo dos indivíduos e suas relações com a própria vida, a sociedade e a humanidade.

Segundo a pedagogia histórico-crítica, portanto, a catarse representa um salto qualitativo no processo educativo, em que o estudante alcança uma nova compreensão da realidade e de si mesmo, promovendo uma mudança intelectual, emocional e ética.

Importância da catarse

A importância da catarse reside em sua capacidade de promover uma transformação profunda no indivíduo. Seja através da arte, da filosofia, da psicanálise, da religião ou da educação, a catarse permite uma reconfiguração das emoções e do pensamento, contribuindo para o bem-estar psicológico e para o desenvolvimento humano em sua totalidade.

Segundo teorias pedagógicas atuais, a catarse não se limita a uma purificação emocional, como na sua concepção aristotélica original, mas se expande para uma transformação abrangente que engloba aspectos intelectuais, emocionais e sociais. Essa transformação é crucial para a emancipação do indivíduo e para a sua capacidade de atuar como agente de mudança social.

A catarse, assim, é tanto um processo de libertação individual de concepções prévias limitantes quanto um meio de alcançar uma compreensão crítica da realidade social e histórica. Em resumo, a catarse é um fenômeno complexo e abrangente que desempenha um papel vital em diversas áreas do conhecimento e da experiência humana. Compreender suas manifestações e efeitos nos oferece ferramentas para entender os indivíduos e o mundo ao seu redor.

Fontes

CHISTÉ, Priscila de Souza. Catarse e ensino da arte. Revista Udesc, nº 14, ago/dez 2015.

SILVA, K.S.; MORAES, Severina; ALVES, Alexsandro. Catarse. Amazon, 2021. Disponível em formato eBook.

Escritor do artigo
Escrito por: Rafael Pereira da Silva Mendes Licenciado e bacharel em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atuo como professor de Sociologia, Filosofia e História e redator de textos.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

MENDES, Rafael Pereira da Silva. "O que é catarse?"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/o-que-e-sociologia/o-que-e-catarse.htm. Acesso em 18 de dezembro de 2024.

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