O catarismo foi a maior heresia difundida em algumas regiões da Europa a partir do século XII. Essa heresia foi muito forte no Sul da França e Norte da Itália, principalmente entre as camadas populares urbanas da sociedade medieval. A difusão do catarismo por essas regiões foi tão grande que a Igreja convocou uma Cruzada para perseguir seus seguidores e interromper o crescimento da heresia. Os cátaros também são conhecidos como Albigenses em referência à cidade francesa de Albi, um dos principais centros de difusão do catarismo.
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Origens do catarismo
O catarismo foi uma doutrina herética originada na França, no século XI, porém, foi somente a partir de 1140 que essa heresia ganhou força pela Europa. Considerado o maior movimento herético surgido na Baixa Idade Média, o catarismo foi herdeiro de doutrinas gnósticas que defendiam uma visão dualista do mundo.
De acordo com o catarismo, o dualismo manifestava-se da seguinte maneira: os cátaros acreditavam que a bondade existia somente no mundo espiritual e que o mundo material era maligno por essência. Ainda nessa concepção, o mundo era uma criação de um deus mau ou Satã. O historiador Nachman Falbel atribui o surgimento do catarismo às mudanças culturais e ao fortalecimento religioso nos séculos XI e XII.
Com o crescimento do catarismo no sul da França e Norte da Itália, a Igreja cátara desenvolveu-se e estabeleceu autoridades eclesiásticas como bispos. Além disso, grandes igrejas dessa doutrina foram construídas em Albi, Toulouse, Carcassone, Agen e Razés. A heresia teve grande adesão de fiéis entre as camadas populares, principalmente entre artesãos e comerciantes, entretanto, também converteu membros da nobreza francesa.
Doutrina cátara
Os cátaros acreditavam que o mundo material era mau por ter sido criado por Satã. Sendo assim, todos os que habitavam este mundo deveriam ser restaurados por meio da penitência e da comunhão com Deus. Além disso, acreditava-se que o homem reencarnaria na forma humana ou animal até que sua alma encontrasse a redenção, que acontecia após o batismo espiritual chamado de consolamentum.
A doutrina cátara distinguia dois tipos de fiéis: os “Perfeitos” e os “Crentes”. Os Perfeitos eram as pessoas que já haviam encontrado a redenção e que levavam uma vida de ascetismo (penitência). Para isso, os Perfeitos abstinham-se de muitos alimentos de origem animal, como carne vermelha, ovos e leite, e praticavam a castidade. Isso porque os cátaros condenavam a procriação e o casamento, considerando-os malignos e tachados como obra de Satã.
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Os Crentes não possuíam as mesmas restrições de vida que os Perfeitos, porém, deveriam demonstrar o respeito sempre que estivessem na presença de um Perfeito. O catarismo estipulava que os Crentes deveriam confessar seus pecados aos Perfeitos em um ritual chamado de apareliamentum. Essa confissão pública dos pecados aos Perfeitos, no entanto, não era obrigatória.
Para os cátaros, a alma humana era, na verdade, um anjo que havia sido aprisionado pelo deus mau em um corpo humano. Assim, a cada novo nascimento, acreditavam que um novo anjo havia sido aprisionado. Por causa dessa crença, os cátaros condenavam o casamento e a procriação humana. Além disso, negavam que Cristo compartilhasse da mesma substância do Pai e consideravam-no apenas um anjo que se voluntariou para salvar os homens.
Os cátaros afirmavam também que o deus bom triunfará no final dos tempos sobre o deus mau e, assim, todas as almas humanas serão salvas definitivamente.
Cruzada contra os albigenses
À medida que essa heresia crescia na França e Itália, a Igreja Católica mobilizava-se para erradicá-la. Assim, a luta da Igreja contra o catarismo distinguiu-se em dois momentos:
A Cruzada espiritual foi o período em que a Igreja combateu o catarismo por meio de ações pacíficas, como pregações, exortações e excomunhões. A primeira ação da Igreja contra essa heresia foi tomada pelo papa Calisto II, no Concílio de Toulouse, em 1119. Posteriormente, uma série de padres proeminentes da Igreja foi enviada para a região ? entre eles, São Bernardo de Claraval.
Já a Cruzada albigense foi determinada pelo papa Inocêncio III, em 1209, após o emissário papal Pedro de Castelnau ter sido assassinado em 1208, supostamente por um nobre cátaro chamado Raimundo VI. Em razão disso, foram convocados os exércitos dos nobres cristãos para lutarem contra os cátaros.
A luta no sul da França estendeu-se por vinte anos e foi marcada pela extrema violência dos combates, como foi demonstrado na destruição de Béziers, em 1209. Ao longo desses vinte anos, os grandes centros cátaros foram atacados, e as batalhas foram vencidas ora pelas tropas católicas, ora pelas cátaras. Em 1229, foi assinado um acordo de paz entre cátaros e católicos, no qual os nobres heréticos submeteram-se às autoridades católicas.
Apesar de enfraquecido, o catarismo continuou existindo na região e sendo constantemente alvo dos inquisidores. A partir do reinado de Felipe, o Belo, os seguidores da doutrina herética sofreram forte perseguição, o que teria levado ao desaparecimento dessa heresia na França, no século XIV.
Por Daniel Neves
Graduado em História