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Dia Mundial do Orgulho Autista: entenda diagnóstico, sintomas e tratamento do autismo

Conheça também histórias de crianças autistas e como especialistas desenvolvem tratamentos

Em 18/06/2023 00h01 , atualizado em 18/06/2023 00h19
Dia Mundial do Orgulho Autista
Dia Mundial do Orgulho Autista tem como objetivo trazer conscientização sobre transtorno
Ouça o texto abaixo!

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Comemora-se hoje, 18 de junho, o Dia Mundial do Orgulho Autista. A data foi estabelecida em 2005 pela organização norteamericana Aspies for Freedom. Desde então, o dia passou a ser celebrado no Brasil também.

O Dia Mundial do Orgulho Autista foi criado para promover mais informação e conscientização sobre o autismo e estimular o respeito à diversidade e à inclusão social de autistas de todo o Brasil e do mundo. 

O autismo é um transtorno da saúde muito discutido na atualidade. Os estudos sobre o autismo são relevantes e o assunto pode ser abordado em provas de Biologia de vestibulares, do Enem, de concursos e de outros processos seletivos.

O assunto também pode ser trabalhado como proposta de tema de redações, como, por exemplo, este banco de redação do Brasil Escola que teve como proposta "Autismo: desafios para a inclusão".

Números confirmam a importância do tema autismo. Segundo um estudo divulgado em março deste ano, pelo órgão de saúde norteamericano Centers for Disease Control and Preventivo (CDC), uma a cada 36 crianças nascidas é autista. 

O que é autismo?

Conforme a Associação de Amigos do Autista (AMA), o autismo ou Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio do desenvolvimento humano que surge na infância, com impacto múltiplo e variável, e que afeta áreas de comunicação, aprendizado e linguagem.

As crianças autistas costumam ter dificuldade na interação social. Podem ter problemas para se comunicar com outras pessoas, socializar-se (fazer amigos e participar de grupos) e ter falhas na integração entre o comportamento verbal e não verbal, por exemplo.

Os autistas também têm como características padrões restritos e repetitivos, tais como: mesmos movimentos, insistência por rotinas, interesses com intensidades anormais e seletividade alimentar.

Outra característica clássica de criancas autistas e muito conhecida é que elas geralmente evitam o olhar: não olham quando são chamadas pelo nome ou quando alguém compartilha com ela um interesse ou aponta para algo.

Saiba o que estudar sobre autismo

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Diagnóstico do autismo

O diagnóstico do autismo é realizado por um médico psiquiatra ou neuropediatra, geralmente antes de a criança ter 3 anos de idade. Mas, os sinais podem vir antes. 

Sara dos Reis, psicóloga infantil e especialista em analise do comportamento aplicada que trabalha com autistas há quatro anos, comenta que um dos sinais que o bebê dá de que pode ser autista é ter pouco ou nenhum contato visual com a mãe durante a amamentação. 

"O autismo é detectado percebendo os sinais que o bebê ou criança nós oferece. Quanto mais cedo forem iniciadas as intervenções com a criança (o que chamamos de intervenção precoce), melhores são os resultados em relação aos ganhos nos déficits da mesma", explica.

A analista de comportamento Thatiane Collet atendendo criança autista

Thatiane Collet,  analista do comportamento, que também trabalha com crianças autistas desde 2019, ressalta que, como o próprio nome do transtorno diz, o autismo é um espectro.

"Cada paciente autista possui características peculiares e com graus de comprometimento diferentes. Ele não precisa obedecer todas as características que os autistas têm para receber o diagnóstico. Tudo dependerá do nível de suporte e do grau de comprometimento da criança. Portanto, nenhum autista é igual ao outro", afirma Thatiane.

Sintomas de autismo

As profissionais que atendem crianças autistas listaram alguns sintomas ou sinais clássicos sobre um possível diagnóstico de transtorno do espectro autista, além da pouca interação social e da dificuldade na comunicação.

Veja abaixo sintomas do autismo:

  • Incômodo exagerado com luzes, sons e texturas;

  • Comportamentos motores repetitivos (flappling (bater assas), andar nas pontas dos pés, girar, movimentar tronco e cabeça, etc);

  • Resistência à dor acima do normal;

  • Repetição de palavras (ecolalia);

  • Sensibilidade sensorial a algumas texturas;

  • Seletividade alimentar;

  • Nervosismo ao sair da rotina;

  • Incômodo ao toque;

  • Risadas em momentos considerados inadequados.

Tratamento do autismo

O tratamento de uma criança com autismo é feito por meio de uma equipe multidisciplinar, que é composta por psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, psicomotricistas, analistas do comportamento, musicoterapeutas, entre outros. 

Com a equipe multidisciplinar a postos, o paciente autista recebe um programa de ensino individualizado, que foca nos principais déficits e busca desenvolver as habilidades prejudicadas.

A analista de comportamento Thatiane Collet lembra que, quando o tratamento de um paciente autista tem início, a família e a escola também recebem orientações dessa equipe profissional para que a criança tenha a intervenção adequada em todos os ambientes que ela frequenta.

A profissional reforça também que, caso seja necessário, o médico responsável pela criança também pode entrar com um tratamento medicamentoso visando uma melhor qualidade de vida para criança e sua família.

"É importante levar a informação sobre o Transtorno de Espectro Autista ao máximo de pessoas. O acesso ao conhecimento permitirá um diagnóstico precoce, que é fundamental para o sucesso no tratamento da criança, além de formarmos uma sociedade mais tolerável à diversidade e com menos preconceito", salienta Thatiane.

Psicóloga Sara dos Reis realizando atendimento

Sara dos Reis Machado, psicóloga e especialista em análise do comportamento aplicada explica que, no tratamento do paciente autista, podem ser necessárias muitas horas de intervenção e a ciência que mais obtém resultados dentro do Transtorno do Espectro Autista é a Análise do Comportamento Aplicada (Applied Behavior Analysis - ABA).

A ABA, de acordo com Sara, mostra resultados de melhora no Quociente de Inteligência (QI), linguagem receptiva e expressiva, comportamentos adaptativos, comunicação, autonomia, socialização e excessos de comportamentos.

A psicóloga tem orgulho, amor e carinho por poder ter a oportunidade de trabalhar com crianças diagnosticadas com o transtorno do espectro autista há mais de quatro anos.

"Enquanto eu puder vou levar a conscientização e a busca por mais respeito, mais compreensão e empatia por todos os autistas. Tenho orgulho de ter ao meu lado crianças que me ensinam tanto e eu só tenho gratidão por ter elas em minha vida. O autismo não se cura, se compreende", afirma a psicóloga infantil Sara dos Reis.

Historias de crianças autistas 

"Criança autista também tem muitos direitos"

Nayana Moreira e seu filho Arthur

Nayana Moreira, operadora de site, de Goiania, descobriu que seu filho Arthur era autista em 2018, quando ele tinha 3 anos e meio. "Certa vez, o levamos à pediatra e ela percebeu que ele repetia palavras e nos sugeriu que investigássemos, pois não era adequado para a idade dele", lembra.

A goiana conta que, alguns anos antes, já tinha notado alguns sinais de autismo no filho, como, por exemplo: ele aprendeu a falar inglês com 2 anos e a ler com 3. Outro sinal era ele repetir palavras aleatórias que ouvia de comerciais de TV e desenhos infantis.

"Após os testes cognitivos, constatou-se que Arthur tinha autismo nível 1 de suporte, que, na época, era conhecido como o termo "Síndrome de Asperger" (em desuso hoje em dia). Anos depois, descobrimos que ele tinha tambem Transtorno de Deficit de Atenção (TDAH) em nível severo", lembra a operadora de site.

Hoje, Arthur faz quatro tipos de terapia: psicologia, fonoaudiologia, psicopedagogia e terapia ocupacional. Conforme conta Nayana, essas terapias têm ajudado bastante o desempenho dele na escola e em casa. 

Para as mães que descobriram que seus filhos são autistas, Nayana recomenda que o mais importante é aceitar o diagnóstico de ter um filho autista. Ela revela que não passou pela fase de negação, afinal sabia que tinha algo de diferente no seu filho. 

Nayana conta que ser mãe de uma crianca autista é um desafio diário. Para ela, a sociedade romantiza o autismo e isso prejudica a luta, além disso há desconhecimento do transtorno e preconceito. Mas, ela ressalta que, com uma rede de apoio, é possível oferecer o tratamento mais adequado para uma criança autista.

"Hoje, existem muitas associações de autistas e pais de autistas dispostos a nos dar apoio, informações, então é importante buscar conhecimento, só assim podemos ajudar nossos filhos. A criança autista também tem muitos direitos: hoje em dia, dá para colocar o CID no RG, ter cartão de vaga do estacionamento para Pessoas com Deficiência (PCD), entre outros. Então, todo direito que nos é oferecido temos que buscar, recomenda Nayana Moreira.

"Acolher e entender que não devemos ultrapassar os limites deles"

Miriã e seu filho Enrico

Miriã Gonçalves Lima Antonelli é mãe de Enrico, 5 anos. Ela descobriu o autismo do filho após parentes neurologistas alertarem, quando ele tinha entre 1 ano e 6 meses e 2 anos, que ele tinha alguns requisitos para ter o Transtorno do Espectro Autista.

Entre os sinais que Miriã detectou no filho, destacam-se: atraso na fala e ele não conseguir manter contato visual. O diagnóstico foi fechado quando, durante uma consulta com o médico, a criança virou o carrinho de cabeça para baixo para girar as rodinhas e não demonstrou interesse em comunicar-se com o doutor.

No decorrer desses três anos de tratamento intensivo, Enrico faz em média 20 horas semanais de tratamento para o autismo. Desde então, a mãe dele comenta que conheceu um mundo totalmente novo, descobrindo, por exemplo, que nem todo autista não fala, que nem todo autista não gosta de abraço, que nem todo autista odeia barulho.

Para Miriã, ser mãe de uma crianca autista é uma tarefa árdua, que gera ansiedade, cansaço e incerteza. Para ela, as mães precisam aprender sobre o autismo e suas formas de tratamento, correr atrás de bons profissionais, visando o desenvolvimento dos filhos e até mesmo brigar para que eles consigam tratamentos de qualidade.

Miriã sabe como agir com seu filho Enrico em diversas situações e ressalta a importância do amor com a criança autista.

"Preciso acolher meu filho e entender que não deve ultrapassar os limites. Devo acolhê-lo quando está em crise, acolhê-lo quando precisa de ajuda para se comunicar. Com certeza, é uma vida de renúncia, mas também de amor e entrega em sua forma mais pura", revela Miria.

Créditos das imagens: divulgação 

Por Silvia Tancredi
Jornalista