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Dia da dança: a relação de pessoas surdas e a música

Conheça as experiências musicais dos artistas da banda Surdodum.

Em 29/04/2024 07h43 , atualizado em 29/04/2024 09h14
Banda surdodum entrevistada para o Dia da Dança
A banda Surdodum integra a cena musical de Brasília há décadas Crédito da Imagem: Shutterstock
Ouça o texto abaixo!

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O Dia Internacional da Dança é hoje, 29 de abril. A dança é quando corpo se expressa, é a transformação do movimento em arte.

Nós, humanos, sentimos e manifestamos a dança de inúmeras formas e em diferentes culturas ao redor do mundo. É um universo complexo e abrangente, por isso, nesta data, iremos explorar mais o mundo da música e da dança!

Para nos ajudar nessa missão, conversamos com integrantes da banda Surdodum, um projeto musical, de Brasília, realizado por pessoas surdas. Conversamos com os integrantes Daniel Baima, Dudu Anjos e Andreia Brito.

Banda Surdodum reunida. Créditos:Fotográfa-Anna Gabriela Soares

Veja tudo que descobrimos!

Como as pessoas surdas sentem a música?

Começamos buscando entender como as pessoas surdas se relacionam com a música. Daniel, músico do Surdodum, nos conta que sentem as vibrações dos sons e se aproximam das caixas de som.

Dudu nos explica que existem várias formas das pessoas surdas sentirem a música. Ele, por exemplo, sente através das vibrações. Veja a metáfora que ele faz para elucidar como sente a música:

É como se fosse uma onda, algo parecido com uma montanha que transforma imagens. Como se fosse o corpo e a alma entrando no mundo das ondas e da montanha.

Ele também fala sobre as pessoas surdas que utilizam aparelho ou implantes cocleares e conseguem sentir, também, as letras das músicas.

Andreia também fala sobre sentir as vibrações pelo corpo, veja a declaração da vocalista da banda:

Os surdos sentem a música através das vibrações. As próprias batidas e o som da música, levam as vibrações para o meu corpo e minha alma.

A dança e os surdos

Se o sentir da música é diferente, a dança também será. Perguntamos a eles como foi a primeira vez que dançaram. Dudu nos diz que tinha 7 ou 8 anos e imitava as outras pessoas dançando, mesmo sem ouvir a música. 

Daniel fala que sentia um arrepio com as batucadas de músicas de diversos ritmos como forró, samba, pagode e MPB. Ele também diz que é uma sensação ótima quando põe a mão na caixa de som.

Andreia nos revela que tem diversas memórias com a música e com a dança. Também que até hoje se encanta com a sensibilidade musical.

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Emoções ao assistir à dança

Os músicos nos contam sobre as emoções que têm ao assistir apresentações de dança. Andreia explica que sente muita emoção com os espetáculos, ela diz que a música faz parte da vida dela e que a dança é como se ela “ouvisse” a letra da canção, também diz que seus conhecimentos musicais se ampliam muito com convivência cultural.

Daniel nos diz que é fantástico assistir apresentações de dança e que admira a disciplina do treino para acetarem todos os movimentos.

Dudu nos conta uma história que elucida bem o que sente, veja:

Quando tinha 21 anos, fui a um teatro onde havia uma dança muito sentimental, uma mistura de dança e atuação. Achei muito interessante, porque os ouvintes escutam a música e incorporam a dança de uma forma diferente, como se fosse uma onda de som. Mas para o mundo surdo é bem diferente, só sentimos a vibração, o que nos leva a uma outra forma de dançar, devido à nossa cultura.

Projeto Surdodum 

Por fim, questionamos qual a diferença que o projeto Surdodum fez em suas vidas. A banda já atua há 30 anos na capital federal.

Daniel diz que enxerga o grupo como uma segunda família, eles aprendem, convivem e treinam juntos. Fala sobre a importância do amor e carinho que os integrantes da banda têm um pelo o outro e que estão sempre abertos para receber novos integrantes.

Dudu fala do que sente quando toca um instrumento bem alto e sente as vibrações. Ele exemplifica com às vezes que toca o ganzá (um tipo de chocalho) e sente sua mão vibrar como uma meia-lua.

Então ele explica que quando se perde a audição, outros sentidos ficam mais apurados. Mas, que a parte mais difícil é o ritmo, habilidade que eles desenvolvem (e muito) no Surdodum.

Dudu diz que, quando toca ou ouve música, é como se alma saísse do corpo e entrasse na maior montanha do mundo. São experiências diferentes para surdos e ouvintes, mas que, ainda assim, podem e devem ser compartilhadas.

 

Por Tiago Vechi

Jornalista

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