Consciência Negra: conheça poeta baiano que foi citado na redação do Enem 2024
Consciência Negra: conheça poeta baiano que foi citado na redação do Enem 2024
Lucas de Matos (28) é autor de "Preto Ozado", livro de poesias que aborda racialidade, e foi citado em redação que abordou herança africana no Brasil no Enem deste ano
Em 21/11/2024 16h44
, atualizado em 21/11/2024 17h15
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A Consciência Negra é celebrada ao longo de novembro e reforça a diversidade de aspectos que atravessam a negritude e suas especificidades. Neste ano, pela primeira vez o Dia da Consciência Negra foi feriado em todo o Brasil, comemorado em 20 de novembro. Este dia faz referência à Zumbi dos Palmares, figura importante no processo de resistência à escravização.
De Salvador, capital baiana, o poeta e comunicador Lucas de Matos (28) se destaca por trabalhos literários poéticos sobre identidade, racialidade, ancestralidade e tantas outras nuances que o atravessam e constituem os seus.
Lucas é formado em Comunicação Social - Relações Públicas pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), atua como mestre de cerimônias em eventos e é autor dos livros "Preto Ozado" e "Antes que o mar silencie", ambos de poesias.
"Sou um homem que continua a cultivar o menino criativo que mora dentro de si. Um baiano, filho de Rosinei e José Jorge, filho de Oxóssi e Iemanjá, que ama se conectar com o mundo, conhecer as coisas, viajar. Sou um comunicador e escritor comprometido em espraiar literatura em todos os cantos e arestas. Sou um artista em constante descoberta; Sou poeta."
Lucas de Matos, poeta e comunicador
Lucas é engajado na produção e realização de saraus, viaja pelo Brasil para compartilhar sobre sua poesia e falar de suas obras. Esteve presente na 27ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, no estande do Selo Principis do Grupo Ciranda Cultural. Sua obra "Antes que o mar silencie" foi a quinta mais vendida na categoria de autores contemporâneos.
O Brasil Escola conversou com Lucas de Matos que compartilha sobre sua relação com a poesia e comenta a respeito de sua citação em redações do Enem 2024.
Lucas de Matos compartilha a relação de suas obras com a consciência negra:
Preto Ozado
"Preto Ozado" é o primeiro livro de Lucas de Matos e completa dois anos de publicação nesta sexta-feira, 22 de novembro. A obra surgiu, inicialmente, como uma poesia apresentada durante um sarau.
O autor conta que escreveu esse poema inspirado pela socióloga Vilma Reis que também foi sua professora. Após o vídeo de seu poema ter conquistado visibilidade nas redes sociais, o baiano concedeu uma entrevista sobre seu trabalho. Uma agente literária teve acesso ao material, o que conduziu à criação do livro.
A obra aborda a exaltação e a afirmação da negritude, com alusão às raízes ancestrais, afirma Lucas. O autor enaltece que o intuito é comunicar de forma universal, por meio de experiências similares às muitas pessoas negras.
O livro já ultrapassou 1,9 mil exemplares vendidos, oportunizou uma série de palestras pelo Brasil com o projeto Sesc Arte da Palavra, um mini documentário disponível no Youtube, uma oficina de escrita poética com apoio da Secretaria de Cultura da Bahia, além de dezenas de vivências trabalhadas em sala de aula pelos estados brasileiros.
"Preto Ozado" é uma expressão comum na Bahia que se refere a pessoas pretas que alcançaram lugares de prestígio ou que agem de forma inusitada, recriando e reformulando ideias e comportamentos, explica o comunicador.
"As imagens mentais estão impregnadas de racismo, e na capa do livro eu proponho uma reformulação do homem vitruviano de Da Vinci, porque acredito que é preciso tensionar o campo simbólico. Se não me vejo representado, tenho poucas chances de sonhar outras possibilidade. Isso é ser “ozado”, modo como falamos na Bahia."
Ser mencionado na prova de produção textual da maior avaliação de acesso à educação superior no país "atesta a força da educação, a importância dos autores estarem nas escolas, e pessoalmente, uma prova espetacular de que meu trabalho não é em vão", enfatiza o baiano.
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Antes que o mar silencie
"Antes que o mar silencie" é a segunda obra publicada de Lucas de Matos que apresenta outras perspectivas poéticas em relação à primeira.
O livro trata das batalhas pessoais, "além da própria luta da natureza em se manter viva com tantos ataques humanos". Lucas evidencia que a sua arte perpassa a sua identidade, o seu olhar e suas vivências, deste modo não há como de dissuadir do que ele produz. A ancestralidade e a negritude, apesar de não serem os aspectos centrais da produção, estão presentes no livro.
A poesia é o movimento que forma o trabalho de Lucas de Matos. Ao ser questionado sobre o que é fazer poesia em sua perspectiva, o baiano responde:
"É sobre viver, respirar, construir pontes para futuros possíveis. É pão, seriedade, e também brincadeira. É uma das linguagens e expressões que mais conseguem traduzir não apenas o que quero dizer, mas o que precisa ser dito, já que muitas vezes a escrita se impões sobre mim."
Sentir e perceber a recepção do público nos mais diversos espaços e lugares em que Lucas visita é uma das coisas que mais o alegra em sua caminhada, conta.
O autor comenta a importância do processo de identificação das pessoas com a obra e sua poesia. Os leitores passam a utilizar o livro como instrumento de trabalho, motivam-se a escrever ou gravar vídeos recitando poesias. "Muitas pessoas estão desavisadas quanto ao poder da poesia. Ela parece ingênua e inofensiva, mas causa revoluções."
Lucas pontua que seu conhecimento na área da Comunicação o ajudou a enfatizar seu trabalho e ampliar o alcance de suas obras. Sua intenção ao trabalhar com a literatura poética é não apenas vender os livros, mas aproximar as pessoas do livro e da literatura.
O escritor busca desmitificar a ideia de que isso é algo chato, difícil e feito apenas para o segmento de intelectuais. "A palavra pode saciar a nossa “fome de arte” (poema de Preto Ozado), alimento subjetivo sem o qual a vida seria uma experiência esturricada, embrutecida.", completa.