Cinco poemas de amor de Vinicius de Moraes

O amor é um tema recorrente na poesia, sobretudo na obra daquele que ficou conhecido como “poetinha”. Selecionamos para você cinco poemas de amor de Vinicius de Moraes.

Vinicius de Moraes nasceu no Rio de Janeiro, no dia 19 de outubro de 1913, e faleceu na mesma cidade, aos 66 anos, no dia 9 de julho de 1980
Vinicius de Moraes nasceu no Rio de Janeiro, no dia 19 de outubro de 1913, e faleceu na mesma cidade, aos 66 anos, no dia 9 de julho de 1980
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Certa vez, sobre Vinicius de Moraes, falou Carlos Drummond de Andrade: "Vinicius é o único poeta brasileiro que ousou viver sob o signo da paixão. Quer dizer, da poesia em estado natural". E o escritor, que é considerado o maior poeta da literatura brasileira no século XX, foi além ao declarar a seguinte frase: “Eu queria ter sido Vinicius de Moraes”.

Vinicius certamente é o mais querido entre os poetas da literatura brasileira, aquele que mais se aproximou do gosto popular. Seus poemas e suas canções (foi um dos mais importantes compositores da Música Popular Brasileira) povoam o imaginário coletivo, disseminando toda a paixão contida em cada verso — sejam eles livres ou em forma de soneto, tipo de composição recorrente em sua poética. O poeta faleceu em 1980, aos 66 anos de idade, e mesmo depois de mais de trinta anos de sua partida, continua vivo, eternizado por uma obra que, embora não seja unanimidade entre a crítica literária, tocou definitivamente o coração dos brasileiros.

Para que você conheça um pouco mais sobre o poeta e sua obra, o Brasil Escola apresenta cinco poemas de amor de Vinicius de Moraes. São poemas consagrados, daqueles que visitam cartas de amor há pelo menos meio século e que continuarão a visitar declarações apaixonadas por muito tempo até que outro poeta fale de amor com tanto sentimento como falou Vinicius. Boa leitura!

“Amar é querer estar perto, se longe; e mais perto, se perto.” O amor sempre foi tema recorrente na obra de Vinícius de Moraes
“Amar é querer estar perto, se longe; e mais perto, se perto.” O amor sempre foi tema recorrente na obra de Vinícius de Moraes

Soneto de Fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Soneto do Amor Total

Amo-te tanto, meu amor… não cante
O humano coração com mais verdade…
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

“Quem de dentro de si não sai, vai morrer sem amar ninguém”. Trecho da canção “Berimbau” *
“Quem de dentro de si não sai, vai morrer sem amar ninguém”. Trecho da canção “Berimbau” *

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Ausência
 
Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces.
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida 
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado. 
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados 
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada.
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado. 
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face. 
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada. 
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite. 
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa. 
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço. 
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado. 
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos. 
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir. 
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas. 
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada. 

A AUSENTE

Amiga, infinitamente amiga
Em algum lugar teu coração bate por mim
Em algum lugar teus olhos se fecham à ideia dos meus.
Em algum lugar tuas mãos se crispam, teus seios
Se enchem de leite, tu desfaleces e caminhas
Como que cega ao meu encontro...
Amiga, última doçura
A tranquilidade suavizou a minha pele
E os meus cabelos. Só meu ventre
Te espera, cheio de raízes e de sombras.
Vem, amiga
Minha nudez é absoluta
Meus olhos são espelhos para o teu desejo
E meu peito é tábua de suplícios
Vem. Meus músculos estão doces para os teus dentes
E áspera é minha barba. Vem mergulhar em mim
Como no mar, vem nadar em mim como no mar
Vem te afogar em mim, amiga minha
Em mim como no mar...

“Ser feliz é viver morto de paixão.” Trecho da letra da música “As cores de abril”
“Ser feliz é viver morto de paixão.” Trecho da letra da música “As cores de abril”

Ternura

te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar 
                                                                     [extático da aurora.

*A imagem que ilustra o miolo do artigo é capa do livro Minha vida com o poeta, autora Gessy Gesse, Editora Solisluna.


Por Luana Castro
Graduada em Letras

Escritor do artigo
Escrito por: Luana Castro Alves Perez Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

PEREZ, Luana Castro Alves. "Cinco poemas de amor de Vinicius de Moraes"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/cinco-poemas-amor-vinicius-moraes.htm. Acesso em 19 de abril de 2025.

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Lista de exercícios


Exercício 1

Sobre a poesia de Vinícius de Moraes estão corretas:

I. Sua obra poética costuma ser dividida em duas fases: a primeira é conhecida como “transcendental”, com o predomínio de uma temática mística, e a segunda é conhecida como “materialista”, na qual se percebe um movimento de aproximação do mundo material.

II. Em sua poesia predominam questões de natureza política e social, tais como a liberdade, a justiça, a miséria, a ganância, a traição e o idealismo.

III. O poeta explorou com sensualismo os temas do amor e da mulher por meio do verso livre, aderindo então as propostas dos modernistas de 1922.

IV. Além da poesia sensual, Vinícius interessou-se também pela poesia social. Utilizando uma linguagem simples e direta, o poeta manifestou sua solidariedade às classes oprimidas em poemas como “O operário em construção”.

V. A linguagem empregada em seus poemas afasta-se da linha surrealista, aproximando-se de uma linguagem direta, exata, caracterizada pela economia da linguagem em uma tentativa de geometrizá-la.

a) II e V.

b) III, IV e V.

c) I, II e IV.

d) I, III e IV.

e) I, II e V.

Exercício 2

(Ufscar - 2002)

Soneto de fidelidade
(Vinicius de Moraes)

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Nos dois primeiros quartetos do soneto de Vinicius de Moraes, delineia-se a ideia de que o poeta

a) não acredita no amor como entrega total entre duas pessoas.

b) acredita que, mesmo amando muito uma pessoa, é possível apaixonar-se por outra e trocar de amor.

c) entende que somente a morte é capaz de findar com o amor de duas pessoas.

d) concebe o amor como um sentimento intenso a ser compartilhado, tanto na alegria quanto na tristeza.

e) vê, na angústia causada pela ideia da morte, o impedimento para as pessoas se entregarem ao amor.

Exercício 3

(PUC Rio)

A mulher que passa

Meu Deus, eu quero a mulher que passa.
Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!

Oh! Como és linda, mulher que passas
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!

Teus sentimentos são poesia
Teus sofrimentos, melancolia.

Teus pêlos leves são relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania.

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!

Como te adoro, mulher que passas
Que vens e passas, que me sacias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Por que me faltas, se te procuro?
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas
E me encontrava se te perdias?

Por que não voltas, mulher que passas?
Por que não enches a minha vida?
Por que não voltas, mulher querida
Sempre perdida, nunca encontrada?
Por que não voltas à minha vida
Para o que sofro não ser desgraça?

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Eu quero-a agora, sem mais demora
A minha amada mulher que passa!

No santo nome do teu martírio
Do teu martírio que nunca cessa
Meu Deus, eu quero, quero depressa
A minha amada mulher que passa!

Que fica e passa, que pacifica
Que é tanto pura como devassa
Que boia leve como a cortiça
E tem raízes como a fumaça.

(Vinicius de Moraes. Antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, pp.88-89).

A figura da mulher como musa, fonte de inspiração do poeta, é um traço de permanência na literatura brasileira. Seguem-se abaixo trechos de poemas escritos por diferentes autores, em distintos períodos literários, sobre o sentimento que a musa inspiradora provoca no poeta. Aponte a única opção cuja imagem da mulher se distancia por completo da observada no poema de Vinícius de Moraes:

a) "Anjo no nome, Angélica na cara! / Isso é ser flor, e Anjo juntamente: / Ser Angélica flor, e Anjo florente, / Em quem, senão em vós, se uniformara " (Gregório de Matos).

b) "Ai Nise amada! se este meu tormento, / Se estes meus sentidíssimos gemidos / Lá no teu peito, lá nos teus ouvidos / Achar pudessem brando acolhimento" (Cláudio Manuel da Costa).

c) "Se uma lágrima as pálpebras me inunda, / Se um suspiro nos seios treme ainda / É pela virgem que sonhei... que nunca / Aos lábios me encostou a face linda!" (Álvares de Azevedo).

d) "A primeira vez que vi Teresa / Achei que ela tinha pernas estúpidas / Achei também que a cara parecia uma perna" (Manuel Bandeira).

e) "E à noite, ai! como em mal sofreado anseio, / Por ela, a ainda velada, a misteriosa / Mulher, que nem conheço, aflito chamo!" (Alberto de Oliveira).

Exercício 4

SONETO DE SEPARAÇÃO

De repente do riso fez-se o pranto 
Silencioso e branco como a bruma 
E das bocas unidas fez-se a espuma 
E das mãos espalmadas fez-se o espanto. 

De repente da calma fez-se o vento 
Que dos olhos desfez a última chama 
E da paixão fez-se o pressentimento 
E do momento imóvel fez-se o drama. 

De repente, não mais que de repente 
Fez-se de triste o que se fez amante 
E de sozinho o que se fez contente. 

Fez-se do amigo próximo o distante 
Fez-se da vida uma aventura errante 
De repente, não mais que de repente.

Sobre o poema de Vinícius de Moraes, é correto afirmar, exceto:

a) O poema Soneto de separação possui forma fixa e regular, formado por quatro estrofes, quatorze versos, dois quartetos e dois tercetos. Vinícius está entre os poetas que consagraram o soneto no Brasil.

b) O recurso da antítese em “fez-se” e “desfez-se” revela, sob certo aspecto, a inconstância na vida amorosa de Vinícius, que ao longo da vida casou-se várias vezes.

c) O soneto é composto por um jogo antitético: riso x pranto,  calma x vento; triste x contente e próximo x distante, o que confere certo dinamismo ao soneto.

d) No soneto, o poeta utiliza vocábulos do cotidiano, pouco comuns nesse tipo de composição. Pode-se observar também que o erotismo é recriado a partir de uma forma clássica e de uma linguagem direta.