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Pol Pot foi o líder de um partido comunista no Camboja conhecido como Khmer Vermelho. Na liderança desse partido, ele conseguiu assumir o poder do país e, durante quatro anos, impor um regime ditatorial que dizimou pelo menos 1,5 milhão de pessoas em campos de trabalhos forçados. A ditadura instituída por Pol Pot foi uma das mais cruéis do século XX.
Juventude de Pol Pot
Pol Pot (seu nome verdadeiro era Saloth Sar) nasceu em 19 de maio de 1925 em uma vila de pescadores chamada Prek Sbauk, na então Indochina Francesa (atual Camboja). Ele pertencia a uma família abastada que possuía importantes conexões com a família real cambojana. Sua irmã, Saloth Roueng, foi concubina do rei cambojano Sisovath Monivong, e um de seus irmãos trabalhava como oficial de justiça na capital do Camboja.
Em 1934, a partir da influência de seus irmãos, Pol Pot mudou-se para a capital do Camboja, Phnom Penh, onde estudou durante um tempo, primeiro em um monastério budista e depois em uma escola católica. Por fim, a partir de sua conexão familiar com a corte cambojana, ele conseguiu uma bolsa de estudos para cursar radioeletrônica em Paris, na França.
Em Paris, Pol Pot teve contato com grupos estudantis de orientação marxista e ingressou em um grupo clandestino chamado Cercle Marxiste, que foi um círculo de marxistas cambojanos instalados em Paris. Ele foi obrigado a retornar ao Camboja em 1953 ao ser reprovado nos exames anuais de seu curso. Após seu retorno ao país natal, Pol Pot ingressou no Khmer Viet Minh, um grupo revolucionário de esquerda liderado por vietnamitas que defendia o fim do domínio francês sobre a Indochina.
Pol Pot à frente do Khmer Vermelho
Nos cinco anos que se seguiram à independência do Camboja, Pol Pot atuou clandestinamente em grupos revolucionários de esquerda enquanto esteve filiado ao Partido Revolucionário do Povo do Kampuchea. Na mesma época, ele tornou-se professor na capital cambojana onde ensinava literatura francesa e história.
Em 1960, Pol Pot assumiu a liderança do partido após a perseguição imposta pelo primeiro-ministro e príncipe, Norodom Sihanouk, aos líderes mais antigos dos grupos de esquerda presentes no Camboja. Isso permitiu que membros mais jovens do partido pudessem ascender aos cargos de liderança e levou Pol Pot à liderança do partido. Em 1966, o partido mudou seu nome para Partido Comunista de Kampuchea e ficou comumente conhecido como Khmer Vermelho.
Durante a década de 1960, Pol Pot passou a esconder-se no interior do Camboja com membros do Khmer Vermelho, e o partido assumiu, então, características do marxismo maoista (marxismo chinês baseado nos ensinamentos de Mao Tsé-Tung) e centrou-se no trabalhador rural como base da revolução.
A partir disso, Pol Pot buscou ajuda do Vietnã e da China (ambos países comunistas) para encabeçar uma luta contra o governo monárquico do Camboja. Ele não obteve o apoio que esperava, mas, mesmo assim, iniciou a luta contra o governo cambojano de Norodom Sihanouk em 1968.
A luta contra Sihanouk seguiu sem grandes resultados até 1970, quando um golpe de estado, liderado por um general chamado Lon Nol, destituiu Sihanouk do poder. O príncipe cambojado, que estava na China, permaneceu exilado do país e, então, apoiou secretamente o Khmer Vermelho na luta contra Lon Nol. Com isso, a força do Khmer Vermelho cresceu consideravelmente, e uma guerra civil foi iniciada no Camboja.
Genocídio cambojano
A guerra civil permitiu que o Khmer Vermelho assumisse o controle total do país em 1975, após a capital, Phnom Penh, ser conquistada pelos exércitos de Pol Pot. Com o país em suas mãos, o líder comunista iniciou um período de tirania e realizou alterações profundas no Camboja, como:
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Forçou toda a população da capital Phnom Penh a mudar-se para o interior do país;
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Instituiu o ano zero como marco para uma revolução cultural no Camboja;
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Aboliu qualquer religião do país;
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Proibiu que as diferentes etnias existentes no Camboja mantivessem seus costumes, proibindo-os, inclusive, de falar seus idiomas típicos;
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Instituiu intensa perseguição contra qualquer pessoa que manifestasse qualquer tipo de influência de cultura ocidental ou que fosse minimamente intelectualizado etc.
Enquanto esteve no poder no Camboja, de abril de 1975 até janeiro de 1979, Pol Pot impôs, além dessas medidas tiranas, outras, como instituir fazendas de trabalho forçado conhecidas como “campos de morte”, onde milhares de pessoas foram forçadas a trabalhar exaustivamente, em jornadas de trabalho que chegavam a 18 horas por dia.
Como o acesso da população à alimentação era extremamente limitado, e as violências físicas eram comuns e o trabalho era intenso, durante o período de poder de Pol Pot, pelo menos 1,5 milhão de pessoas foram levadas à morte nesses campos de trabalho forçado. Alguns historiadores sugerem que esse número pode ter alcançado a faixa de 2,5 milhões mortos.
Derrubada de Pol Pot
Pol Pot foi destituído do poder em 1979, quando o Camboja foi invadido pelo exército vietnamita. Essa invasão aconteceu em razão dos ataques ordenados pelo líder cambojano contra a população vietnamita que morava na fronteira do Vietnã com o Camboja. Pol Pot liderou uma resistência contra o Vietnã até 1985, época em que abandonou a liderança do Khmer Vermelho, mas manteve-se filiado ao partido.
Pol Pot viveu em isolamento no interior do Camboja até sua morte. Em 1997, ele foi acusado de ter mandado assassinar sua esposa e toda sua família por acreditar que ela negociava um acordo de paz com o governo cambojano. Pol Pot foi condenado à prisão perpétua pelos membros do Khmer Vermelho. O antigo tirano morreu em 15 de abril de 1998, supostamente após sofrer um ataque cardíaco.
O corpo de Pol Pot foi cremado, em razão disso, uma exumação para comprovar as causas de sua morte tornou-se impossível. Líderes do Khmer Vermelho, responsáveis por cometer crimes contra a humanidade entre 1975 e 1979, foram julgados pela ONU a pedido do governo cambojano e condenados à prisão perpétua.
* Créditos da imagem: Akturer e Shutterstock
Por Daniel Neves
Graduado em História