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As transformações sofridas, a partir do século XII, na Europa Medieval deram início para a implantação de um novo sistema econômico não mais baseado nas relações servis e na produção subsistente. O capitalismo mercantil viveu um processo de idas e vindas onde o sistema econômico fechado instalado pelo feudalismo perdeu espaço para uma economia mais dinâmica e favorável ao desenvolvimento das cidades e a constante circulação de bens e pessoas.
Em algumas regiões, os senhores feudais começaram a integrar a produção agrícola de suas terras ao desenvolvimento urbano-comercial. As relações servis anteriormente utilizadas para organizar o trabalho agrícola foram abrandadas em relações livres de trabalho onde os camponeses trabalhavam em troca de um salário. Esse conjunto de trabalhadores assalariados era proveniente dos antigos servos e vilões, passando a serem designados como jornaleiros.
O crescimento dos centros urbanos fez com que muitos nobres e servos se sentissem atraídos por aquele novo ambiente. Muitos nobres deixaram de viver em suas terras para deixá-las a cargo de um administrador ou arrendar parte de seus territórios em troca de uma quantidade em dinheiro. Isso, no entanto, não significou a completa extinção da classe nobiliárquica ou da classe servil. Essas experiências de abertura não foram generalizadas a todo o continente europeu.
Em algumas partes do Velho Continente, principalmente na Europa Oriental, os senhores feudais passaram a impor tributações cada vez mais pesadas aos seus subordinados. Esse tipo de restrição acontecia como uma forma de conter a evasão da força de trabalho disponível que porventura quisesse viver nos nascentes centros urbanos. Além disso, esse enrijecimento também era uma exigência colocada em regiões onde a disponibilidade de terras férteis era menor.
O período de transformação combinada à prosperidade econômica pode ser bem observado entre os séculos XII e XV. No entanto, essa trajetória não viveu em sentido ascendente durante todo esse período. Especificamente no século XIV temos um conjunto de agitações que refreou o desenvolvimento do comércio e a expansão das cidades medievais.
Na primeira metade do século XIV, entre 1346 e 1353, uma epidemia de peste bubônica (na época chamada de peste negra) aniquilou aproximadamente um terço da população européia. Tantas mortes fizeram com que a produção agrícola tivesse uma queda abrupta seguida pela retração das atividades comerciais. Os remanescentes da epidemia exigiam melhores condições de vida e maiores parcelas da produção agrícola.
Em resposta à tensão instalada no campo, os senhores de terra impunham leis que impediam a saída deliberada dos servos das propriedades. Nas cidades, os artesãos também tiveram que se contentar com uma redução salarial por conta da diminuição das transações comerciais. O resultado desse antagonismo vivido durante o século XIV foi vislumbrado por meio de uma série de revoltas camponesas conhecidas como “jacqueries”.
A retração observada nesse período assinalado acabou fazendo com que o século seguinte se transformasse em uma fase de profunda reestruturação da ordem social, política e econômica da Europa. No século XV temos a busca por novos mercados consumidores através do processo de expansão marítima e a formação dos Estados Nacionais. A Europa passou a ampliar seus horizontes com a descoberta de novas terras por meio de Estados centralizados e comprometidos a essa nova realidade.
Por Rainer Sousa
Graduado em História