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A década de 1930 no Brasil ficou marcada não apenas pelas turbulências políticas pelas quais o país passou, como a Revolução de 1930, a Revolução Constitucionalista de 1932 e o golpe do Estado Novo de 1937. Nessa mesma década também houve uma grande eferverscência cultural e intelectual herdada do Modernismo da década anterior – sobretudo expresso na Semana de Arte Moderna de 1922. Algumas dessas manifestações culturais e intelectuais imbuíram-se de ideologias políticas de caráter comunista, fascista ou nacionalista. Foi o caso de um movimento intitulado “Verde-amarelismo”, que originou o Integralismo e outro, menos conhecido, porém importante: o Movimento Bandeira, ou bandeirismo.
O Verde-amarelismo nasceu por volta de 1927 em resposta à Semana de 1922 e à proposta do “Manifesto Antropófago” redigido por Oswald de Andrade. Seus dois principais integrantes eram Plínio Salgado e Cassiano Ricardo, que objetivavam uma ruptura radical com a tradição europeia e que o Brasil pudesse modernizar-se de fato. Para tanto, viam no autoritarismo político a chave para que o Brasil pudesse realizar-se política e culturalmente com autenticidade.
A partir de 1930, inseridos na atmosfera produzida pela revolução que colocou Getúlio Vargas no poder, Cassiano Ricardo e Plínio Salgado seguiram cada qual o seu caminho. O grupo Verde-amarelista bifurcou-se em duas tendências, a Ação Integralista Brasileira e o Movimento Bandeira. Essa segunda tendência ficou menos conhecida que a primeira, haja vista que o integralismo possuía forte influência do fascismo e seus membros atacaram o Palácio da Guanabara (sede do governo federal à época) em 1938 e foram derrotados pelas forças da ditadura varguista.
O Movimento Bandeira era um movimento fortemente nacionalista, como o integralismo, e, de igual modo, defendia um Estado forte, porém rejeitava o molde fascista que o integralismo adotara. Nas palavras de seu idealizador, Cassiano Ricardo:
[…] O integralismo é contra a liberdade individual, como acontece nos países de regime totalitário; a “Bandeira” é pela valorização do brasileiro como indivíduo e como ser social; […] o integralismo é contra a democracia, porque é pela ditadura; a “Bandeira” é pela democracia e mais propriamente por uma democracia social nacionalista.” (Ricardo, Cassiano. O Brasil no original, p. 233)
O livro O Brasil no original, de C. Ricardo, foi publicado durante a leva (dos anos de 1936 e 1937) de grandes trabalhos que procuravam pensar o que definia a originalidade e a singularidade do Brasil, como Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, Sobrados e Mucambos, de Gilberto Freyre, e Conceito de civilização brasileira, de Afonso Arinos de Melo Franco. Para C. Ricardo, o bandeirismo buscava as fontes puras luso-brasileiras para a formação da nação nas antigas “Bandeiras” da época colonial, no bandeirantismo paulista. Era uma espécie de vanguarda da expansão geográfica e territorial em busca de uma democracia tipicamente brasileira.
Cassiano Ricardo foi o principal idealizador do Movimento Bandeira nos anos 1930 **
Segundo essa visão, os bandeirantes teriam “forjado o Brasil” e teriam aberto os autênticos caminhos para a construção da nação por meio de sua incursão no interior do país. A criação de uma democracia propriamente brasileira, de acordo com Cassiano Ricardo, deveria levar em conta a experiência dos bandeirantes e lutar por um Estado Bandeirante que erigisse uma democracia social e nacionalista.
As reflexões de Cassiano Ricardo continuariam em sua segunda obra sobre o tema, intitulada A marcha para o Oeste, publicada em 1940. Apesar da grande repercussão que teve na época, sobretudo por ser o seu autor um dos eminentes artistas brasileiros do século XX, as ideias políticas do Movimento Bandeira não penetraram tão profundamente no Estado brasileiro, haja vista que o controle que Getúlio Vargas exercia sobre as ideias e os intelectuais também era notório nessa mesma época.
* Créditos da imagem: Novo Milênio
** Créditos da imagem: Academia Brasileira de Letras
Por Me. Cláudio Fernandes