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Torna-se relevante mencionar que um dos aspectos que preponderam nesta nossa discussão diz respeito à análise morfológica, na qual conceitos relacionados às classes gramaticais representam a palavra de ordem. Mas outro aspecto, também de singular importância, nos chama a atenção: o vocábulo “processo”. Seria pertinente de nossa parte considerá-lo como mudanças, transformações?
Certamente que não, haja vista que se trata realmente do processo pelo qual passam determinadas palavras no sentido de ocupar outras classes gramaticais, tendo em vista o contexto comunicativo em que se encontram inseridas. Assim, munidos de tais pressupostos, vejamos como isso se processa na prática:
# O não foi dado como resposta.
Não é preciso ir muito além para constatar que o “não” pertence à classe dos advérbios. Contudo, fazendo referência ao caso em questão, ele passa de tal classe a substantivo.
# Os persistentes sempre vencem.
Aqui, “persistentes”, ora representando a classe dos adjetivos, passa a representar outra: a dos substantivos.
# O eu deseja ser reencontrado.
Tornou-se substantivado o que em termos gerais se classifica como pronome pessoal do caso reto (eu).
# O jantar está servido.
Neste contexto, de verbo (expresso no infinitivo) passou a ser substantivo.
# Milhões foram gastos naquela obra.
De numeral se transformou numa palavra também substantivada.
# O porquê de tal atitude não se sabe.
Agora temos algo que integra a classe das conjunções funcionando como substantivo.
# Vários alôs foram proferidos.
Aqui, o que didaticamente atua como uma interjeição passou a ser substantivada.
Mas atenção a alguns detalhes de suma importância, os quais se apresentam expressos a seguir:
- Não devemos confundir substantivos acompanhados de artigos com palavras substantivadas, uma vez que nesse último caso o artigo tem a função de modificá-las e não de acompanhá-las, determinando-as. Verifiquemos, pois, um exemplo no qual o artigo apenas acompanha o substantivo: O aluno é estudioso.
- Quando substantivados, muitos vocábulos, na condição de átonos (sem autonomia fonética), tornam-se tônicos, observe: O quê da problemática foi desvendado recentemente.
- Palavras geralmente invariáveis, quando substantivadas, podem perfeitamente receber flexão: Os sete de todo o baralho foram descartados.
- O vocábulo substantivado pode ocupar funções sintáticas distintas, como, por exemplo, a de sujeito e a de complemento: O sim cedeu lugar ao não (sujeito)/ Não gosto de dizer um não a ninguém. (objeto direto)
Por Vânia Duarte
Graduada em Letras