PUBLICIDADE
Você já ouviu falar em variações linguísticas? Expressão comum entre os estudiosos da língua portuguesa, finalmente o conceito de diversidade linguística tem alcançado cada vez mais projeção entre os falantes do idioma. Discutir os diversos falares tem como principal função desmistificar o preconceito linguístico, que desconsidera a formação cultural e social do indivíduo, bem como suas idiossincrasias.
Contribuindo para esse importante debate, estudiosos do Brasil inteiro, em um esforço conjunto, mapearam os diversos falares e sotaques de nosso povo. Desse estudo nasceu o ALIB, sigla para Atlas Linguístico do Brasil. No Atlas, podemos encontrar diversos registros da oralidade, marcas prosódicas dos falares de cada estado brasileiro e também aspectos fonéticos relacionados com os diferentes sotaques. Somente um país tão culturalmente rico como o Brasil poderia fornecer subsídios para uma pesquisa linguística que reuniu e analisou diversos elementos linguísticos presentes na oralidade e na escrita de seu povo.
Apesar de sermos todos falantes da língua portuguesa, no Brasil não podemos falar em unidade cultural, vide as enormes diferenças históricas, sociais e culturais encontradas em nosso território. Essas diferenças influem diretamente na fala, que pode apresentar variações significativas de estado para estado. As variações dizem respeito, sobretudo, às expressões idiomáticas, cuja etimologia fica guardada entre os falantes de uma determinada região ou comunidade, e aos sotaques, que permitem uma verdadeira incursão pela fonética e fonologia do português.
Não devemos dissociar a língua de seus falantes, pois as idiossincrasias devem ser consideradas e respeitadas
Como exemplos de variações da língua, podemos citar o uso do pronome pessoal do caso reto “tu”. Enquanto em alguns estados ele é o preferido dos falantes, em outros, cai em desuso, sendo substituído pelo outro pronome pessoal correspondente, o “você”. As diferenças vão além do vocabulário: os fonemas, que são os sons das letras, também podem variar bastante. É o que acontece com a consoante “R”: pesquisadores rodaram o Brasil e descobriram que existem pelo menos quatro “erres” pronunciados de maneiras diferentes: o “R” retroflexo, encontrado na região Centro-Oeste, sul da Bahia e em algumas cidades de São Paulo e do Paraná; o “R” tepe, aquele que apresenta uma certa vibração, que é encontrado no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, na capital paulista e em outras cidades desse estado; o “R” carioca, muito peculiar dos nascidos no estado do Rio de Janeiro, e o “R” gutural, que apresenta um som mais suave, encontrado em Belo Horizonte e nas capitais do Norte e do Nordeste.
Outros fonemas também apresentaram variações. É o caso do “S”, que pode ser chiado - ocorrência encontrada no Rio de Janeiro, Belém e em Florianópolis - ou não. O “S” sem chiado é a ocorrência mais habitual entre os falantes da língua portuguesa. Além dessas curiosidades, o Atlas Linguístico do Brasil possui uma função social inestimável: derruba velhos preconceitos sobre sotaques e, sobretudo, ajuda a desmistificar a ideia equivocada de que possa existir o “falar correto” e o “falar errado”. Dissociar a língua de seu falante é um dos erros que propiciam a perpetuação do preconceito linguístico, que desconsidera o fato de o usuário do idioma ser um sujeito histórico e social, imbuído de inúmeras particularidades que influenciam na sua maneira de falar.
Por Luana Castro
Graduada em Letras