PUBLICIDADE
Já é mais do que sabido que as secas do Nordeste são periódicas e, enquanto fenômeno natural, não há como combatê-las. É um fenômeno natural e tem a sua história. No livro de Marco Antônio Villa, sobre a Morte e Vida no Sertão, deparamo-nos exatamente com o quadro da seca no Norte-Nordeste do Brasil e percebemos que esse problema é crônico e de longa data. A transposição do Rio São Francisco teve seu projeto estimulado várias vezes no passado e, atualmente, sob a legenda do PT, iniciaram as obras desse projeto faraônico.
Esse projeto para o semiárido está sendo gerido de forma autoritária e nada democrática, a sociedade não deu sua opinião sobre a sua realização. Assim como expressou Paulo Henrique Martinez: “Não se trata, aqui, de argumentar tecnicamente contra ou a favor do projeto. Trata-se de pensar as implicações políticas que ele comporta, reveladoras da cidadania em crise no país”.
Existem muitas opiniões e estudos contra e a favor desse projeto, e isso tem que ser mesmo estudado e debatido, mas o fato é que o Rio São Francisco e a irrigação do Nordeste com suas águas são um projeto que possui sua história desde o século XIX, não apenas para sanar a sede de milhares de flagelados, mas também como fonte de desenvolvimento econômico, o que, em outros projetos (como é o caso dos açudes e poços jorrantes) causou muita concentração fundiária, especulação imobiliária, desalojamento de pessoas em terras irrigáveis etc. Tudo em favor dos “coronéis” do sertão que foram um dos responsáveis pela verdadeira indústria da seca.
Segundo alguns autores, como no caso de João Suassuna, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco e estudioso das secas no semiárido, o que falta na região é vontade política, pois, segundo ele, “... os políticos, isso em regra geral, costumam fazer política com o sofrimento e a miséria do povo. As alternativas de produção existem e não são implementadas porque, na verdade, tem faltado aos administradores públicos a indispensável vontade política para definir ações estruturadoras no semiárido. E tem faltado porque concretizá-la significa contrariar interesses, muitas vezes situados na base de apoio parlamentar do governo. É exatamente aí onde está a nossa verdadeira seca”.
No entanto, a transposição do rio São Francisco evidencia, em escala nacional, a inoperância que dominou instâncias reguladoras da vida social e de governo no Brasil, ao não considerar a opinião da sociedade brasileira. Pessoas dentro do Legislativo e do Judiciário deveriam olhar essa questão com muito mais atenção, e não apenas torná-la uma questão política e econômica. As pessoas idôneas e comprometidas com a qualidade de vida e o interesse público (fora as questões ambientais que também são alvo de críticas) devem desempenhar com maior vigor e rigor seus papéis e atribuições. A sociedade brasileira deseja e espera isso de seus representantes em todas as suas esferas.
Por Amilson Barbosa
Colunista Brasil Escola