Afinal, quando não usar hífen? O hífen (-) é um sinal gráfico usado para unir palavras diferentes, formando uma palavra composta. Há casos em que não se deve usar o hífen, considerando a formação da palavra, seja pelo prefixo ou pelos elementos que formam uma locução. Não usamos hífen quando entre prefixo e segundo elemento houver letras diferentes (vogais ou consoantes); em palavras que inciam com o prefixo mal- (com algumas exceções), com prefixo átono e com palavras que assumiram valor de prefixo. Também não se usa o hífen em locuções com preposição, exceto em casos convencionados pelo uso.
Leia também: Hífen no novo acordo ortográfico — o que mudou?
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre quando não usar hífen
- 2 - Quando não devemos usar hífen?
- 3 - Lista de palavras sem hífen
- 4 - Hífen nas palavras compostas
- 5 - Exercícios resolvidos sobre quando não usar hífen
Resumo sobre quando não usar hífen
- O hífen não é usado nos seguintes casos:
- não há hífen quando as letras entre prefixo e segundo elementos são diferentes;
- não há hífen quando o prefixo é átono (sem acento tônico);
- não há hífen quando o prefixo for mal-, exceto quando aparece antes de vogal, H ou L;
- não há hífen quando “não” e “quase” têm valor de prefixo antes de uma palavra;
- não há hífen em locuções com preposição, exceto quando consagradas pelo uso ou em nomes de espécies animais ou vegetais.
- O hífen une palavras diferentes para formar palavras compostas, a depender do tipo de composição, ele pode não ser usado.
Quando não devemos usar hífen?
Para entender os casos em que o hífen não é usado, é necessário lembrar que as palavras compostas podem ser formadas a partir de afixos (prefixos e sufixos) ou pela junção de palavras para formar uma locução. Veja:
feliz → infeliz
semana → fim de semana
No primeiro caso, o prefixo in- foi adicionado à palavra “feliz” para formar uma nova palavra: “infeliz”. No segundo caso, três palavras diferentes (“fim”, “de” e “semana”) aparecem juntas para formar a locução “fim de semana”.
→ Casos de palavras com prefixo em que não se usa o hífen
Em geral, o hífen pode ser usado para separar o prefixo do elemento principal. Por exemplo, na palavra micro-ondas, o prefixo micro- se une à palavra “ondas” para formar uma nova palavra. Nesse caso, o hífen separa o prefixo do elemento principal. Porém, há casos em que não se deve usar hífen para separar o prefixo do segundo elemento. São estes:
-
Vogais diferentes entre prefixo e segundo elemento
Quando o prefixo termina com uma vogal diferente da vogal que inicia o segundo elemento, não é permitido o uso de hífen.
Exemplos:
prefixo + segundo elemento
autoanálise
extraordinário
poliamoroso
Isso também vale quando se trata de letras diferentes, mesmo que sejam consoantes.
Exemplos:
prefixo + segundo elemento
ambidestro
cisgênero
hiperfoco
Exceção:
Deve-se usar hífen quando o segundo elemento começa com H, independentemente do final do prefixo. Exemplo:
“super-homem”.
-
Segundo elemento começa com R ou S
Quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com R ou S, não é necessário usar hífen. Em vez disso, o R ou S é dobrado na palavra.
Exemplos:
prefixo + segundo elemento
antissocial
suprassumo
ultrarresistente
Exceção:
Deve-se usar hífen quando for necessário indicar, na escrita, que a leitura da palavra tem pronúncia separada entre prefixo e segundo elemento, como no encontro entre as consoantes B e R. Exemplo:
sub-região
(para indicar que a pronúncia entre B e R é separada, e não “bre”)
-
Prefixos átonos
Quando o prefixo for átono, ou seja, não tiver acento tônico, não deve ser usado hífen, como ocorre com os prefixos co-, pre-, pro-, pos- e re-. São casos específicos em que o prefixo não tem ênfase na pronúncia, por isso ele se une, sem hífen, ao segundo elemento.
Exemplos:
prefixo + segundo elemento
coautor
prever
proativo
pospor
reeditar
-
Prefixo mal-
Quando a palavra composta é iniciada pelo prefixo mal-, em geral não há hífen.
Exemplos:
prefixo + segundo elemento
malcriado
maldito
malvisto
Exceção:
Haverá hífen quando o segundo elemento começar com vogal, H ou L, para evidenciar, na leitura, que o prefixo é lido separadamente do segundo elemento.
Exemplos:
mal-educado
(para não juntar L e E, formando “le” na pronúncia)
mal-humorado
(para não juntar L e H, formando “lhu” na pronúncia)
-
Palavras com valor de prefixo
Quando uma palavra assume valor de prefixo para gerar uma palavra composta, o que geralmente ocorre com as palavras “não” e “quase”, não se usa hífen, mantendo as palavras separadas.
Exemplos:
prefixo + segundo elemento
Ela teve uma experiência de quase morte.
Os países fizeram um pacto de não agressão.
→ Casos de locuções em que não se usa o hífen
Em geral, locuções formadas com elementos de ligação, como preposições, não são hifenizadas, já que o elemento de ligação já cumpre a função que seria do hífen (conectar esses elementos). Exemplos:
primeiro elemento + preposição + segundo elemento
café com leite
fim de semana
pôr do sol
Exceções:
Há exceções para algumas locuções, como nomes de espécies de animais ou plantas (“bem-te-vi”, “copo-de-leite”) e locuções bem específicas, cuja grafia com hífen já é considerada consagrada pelo uso (“água-de-colônia”, “cor-de-rosa”). Também usamos hífen se houver apóstrofo no segundo elemento (“copo-d’água”).
Veja também: Como fica o plural dos substantivos compostos?
Lista de palavras sem hífen
Veja mais alguns exemplos de palavras sem hífen:
- autoestrada
- interdisciplinar
- proatividade
- semianalfabeto
- ultrassônico
- reavaliar
- infraestrutura
- contrarregra
- maldizer
- geoatividade
- microssistema
- maltratado
- antebraço
- suprarrenal
- quase verdade
- submarino
- coordenar
- não violência
- contrapor
- preestabelecido
- sala de estar
Hífen nas palavras compostas
Em geral, as regras de uso do hífen estão presentes nas seguintes situações:
- Quando há as mesmas letras entre o prefixo e o segundo elemento.
Exemplos: infra-assinado, super-resistente.
- Quando o segundo elemento começa com H.
Exemplo: sub-humano.
- Quando é preciso indicar pronúncia separada.
Exemplo: ab-rogar.
- Quando há prefixos específicos, principalmente com valor tônico, como ex-, pré-, pró-, recém- etc.
Exemplos: ex-namorado, pré-vestibular, pró-reitoria, recém-casados.
- Quando o prefixo mal- aparece antes de vogal, H ou L.
Exemplo: mal-olhado.
- Quando há composição por aglutinação ou justaposição sem elemento de ligação.
Exemplos: girassol, guarda-chuva.
- Quando a grafia consagrada exige hífen em locuções.
Exemplo: arco-da-velha.
- Quando a locução for nome de espécies de vegetais ou animais.
Exemplo: joão-de-barro.
- Quando há apóstrofo no segundo elemento da locução.
Exemplo: caixa-d’água.
Saiba mais: Quando não usar a crase: exemplos, regras e algumas exceções
Exercícios resolvidos sobre quando não usar hífen
Questão 1 (CCV-UFC, 2016)

FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala. Rio de Janeiro: Editora Record, 1998. p. 18 a 31.
Com base no texto 01 da Língua Portuguesa I, responda à questão.
O texto 01, escrito antes da Reforma Ortográfica (Decreto Nº 6.583, de 29 de setembro de 2008), não adota as normas ortográficas hoje vigentes, o que mostra a grafia da palavra:
A) semi-rural (linha 03), que hoje deveria ser grafada semirrural.
B) latifundiária (linha 06), que hoje deveria ser grafada latifundiaria.
C) consideráveis (linha 14), que hoje deveria ser grafada consideraveis.
D) medíocre (linha 23), que hoje deveria ser grafada mediocre.
E) indústria (linha 28), que hoje deveria ser grafada industria.
Resposta:
Alternativa A. Quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com R ou S, deve-se dobrar a consoante, unindo o prefixo ao segundo elemento sem hífen. Nesse caso, “semirrural”.
Questão 2. (IF-PE, 2017, adaptada)
“O BONZINHO SE DÁ MAL”: GENEROSIDADE E MANIPULAÇÃO
(1) Você tenta levar sua vida direitinho. Busca ser cordial e ter empatia com o semelhante. Trata o outro bem, pois acha que é assim que qualquer criatura merece ser tratada. Com quem gosta mais, vai além. Se lhe sobra, compartilha. Quando vê o erro, o instinto de proteção passa na frente e você tenta alertar. Se cabem dois, por que ir sozinho? Isso te alegra, então eu fico contente.
[...]
(3) Ser verdadeiramente generoso é uma virtude que contempla um pequeno punhado de pessoas. Em geral, emprestamos em vez de doar. E não fazemos isso por uma debilidade de caráter: a vida se mantém a partir de trocas, tudo só existe em relação.
(4) Quando tentamos oferecer algo gratuitamente, inconscientemente esperamos alguma contrapartida: reconhecimento, carinho, atenção, prestígio, escuta, aprovação. Às vezes, buscamos apenas sermos percebidos e validados naquilo que somos, mas não cremos ser. É bem comum. Nisso, tornam-se admiráveis os que ajudam desconhecidos, sem se importarem com os problemas dos que estão próximos – a quem poderão cobrar pela generosidade?
[...]
TORRES, João Rafael. “O bonzinho se dá mal”: generosidade e manipulação. Disponível em: https://www.metropoles.com/colunas-blogs/psique/o-bonzinho-se-da-mal-generosidade-e-manipulacao. Acesso: 08 out. 2017 (adaptado).
No 4º parágrafo do texto, há o emprego da palavra contrapartida. Esse termo possui um prefixo que exige o uso do hífen em alguns casos, segundo o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Assinale a alternativa que contém a grafia CORRETA de palavras com o prefixo contra-.
A) Contrarregra e contra-ataque.
B) Contra-senso e contracheque.
C) Contraceptivo e contra-mão.
D) Contraponto e contra-filé.
E) Contrabaixo e contra-indicação.
Resposta:
Alternativa A. Em “contrarregra”, não há hífen, pois o segundo elemento começa com R, então dobra-se essa letra, unindo prefixo e segundo elemento sem uso do hífen. Em “contra-ataque” há hífen, pois o prefixo termina com a mesma vogal com que começa o segundo elemento: A.
Fontes
AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo: Parábola, 2021.
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 38ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2020.
CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 7ª ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2016.