PUBLICIDADE
Os gêneros textuais, ao contrário dos tipos textuais, não podem ser numerados. Estão intrinsecamente associados aos atos de fala e escrita, e como são variadas as situações comunicacionais, também são variados os gêneros. Ainda que não possamos definir um número exato de gêneros textuais, é possível reconhecê-los, já que cada um deles apresenta tipos estáveis de enunciados, estruturas e conteúdos temáticos que possibilitam sua identificação.
É interessante observar que, dentro de um mesmo texto, podem conviver diferentes gêneros textuais: a essa convivência damos o nome de intergenericidade ou intertextualidade intergêneros. A intergenericidade acontece quando um determinado gênero toma emprestado características que não são, por convenção, suas. Essa mistura ou hibridização acontece em virtude do propósito comunicacional, seja com o objetivo de melhorar a comunicação com o interlocutor ou leitor, seja com propósitos artísticos e literários. Vamos observar alguns exemplos de intergenericidade?
O anúncio publicitário acima toma emprestado alguns elementos da poesia concreta para cumprir seu objetivo comunicacional
► O anúncio publicitário é o gênero textual predominante na imagem acima. Dizemos que é predominante (por isso, não o único) porque existem elementos próprios do gênero poema — mais especificamente, elementos da poesia concreta. A linguagem utilizada foge dos padrões da linguagem que é comumente utilizada na publicidade, na qual predomina a objetividade das mensagens de conteúdo claramente persuasivo. Como é um anúncio publicitário por excelência, não abandona a intenção de convencer ou persuadir o leitor, mas busca na linguagem literária subsídios para tornar a mensagem mais interessante.
A companheira
A lua parte com quem partiu e fica com quem ficou. E, pacientemente consoladoramente, aguarda os suicidas no fundo do poço.
Mario Quintana
Os máscaras
O Homem Invisível via-se obrigado a botar máscara. Era uma face enganadora, alheia, sinistra, melancólica...
O Poeta, para entrar em contato com os outros homens, põe-se a fazer poemas.
Mario Quintana
► Você sabe o que é a prosa poética? Trata-se de mais um exemplo de intergenericidade. O poeta Mario Quintana soube como poucos aproveitar-se dessa possibilidade poética, substituindo versos por linhas longas, características próprias da prosa. No livro Sapato Florido, publicado pela primeira vez em 1948, Quintana apresenta uma nova poesia, subvertendo os cânones literários ao fazer poemas sem versos e sem rimas, mostrando assim que as barreiras entre os gêneros poesia e prosa não são intransponíveis.
A carta Escrevo-te estas mal traçadas linhas meu amor Talvez tu não a leias, mas quem sabe até darás Tanto tempo faz, que li no teu olhar Ao me apaixonar por ti não reparei |
Tanto tempo faz, que li no teu olhar Ao me apaixonar por ti não reparei Escrevo-te estas mal traçadas linhas Escrevo-te estas mal traçadas linhas Escrevo-te estas mal traçadas linhas (Benil Santos/Raul Sampaio) |
► A canção A carta, famosa nas vozes dos cantores Renato Russo e Erasmo Carlos, não é somente uma carta. O primeiro propósito de seus compositores, Benil Santos e Raul Sampaio, certamente era musical, mas, de maneira perspicaz, eles aliaram elementos próprios do gênero textual carta ao gênero textual música, oferecendo-nos assim um belo exemplo de intergenericidade.
A intergenericidade comprova que são tênues as barreiras entre os gêneros textuais. Por esse motivo, não podemos afirmar que exista um gênero puro. Compreender esse processo de hibridização de textos é importante, especialmente no caso dos textos escritos, pois isso permitirá que o leitor interprete adequadamente todas as suas informações.
Por Luana Castro
Graduada em Letras