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O que é redondilha?
Chama-se redondilha o recurso poético que estabele versos de cinco ou sete sílabas poéticas. Os versos que possuem cinco sílabas poéticas são chamados de redondilhas menores, já os que possuem sete sílabas são redondilhas maiores.
Esse recurso foi muito utilizado no Trovadorismo, para a produção de Cantigas Medievais e no Humanismo, influenciando muito a produção do teatro vicentino.
Veja alguns exemplos de redondilhas presentes na obra Os Lusíadas, de Luiz Vaz de Camões:
CVI
Trovas a üa cativa com quem andava de amores na Índia, chamada Bárbora
A/que/la/ ca/ti/va,
que/ me/ tem/ ca/ti/vo,
por/que/ ne/la/ vi/vo
já/ não/ quer/ que/ vi/va.
Eu nunca vi rosa
em suaves molhos,
que para meus olhos
fosse mais fermosa.
Nem no campo flores,
nem no céu estrelas,
me parecem belas
como os meus amores.
Rosto singular,
olhos sossegados,
pretos e cansados,
mas não de matar.
üa graça viva,
que neles lhe mora,
para ser senhora
de quem é cativa.
Pretos os cabelos,
onde o povo vão
perde opinião
que os louros são belos.
Pretidão de Amor,
tão doce a figura,
que a neve lhe jura
que trocara a cor.
Leda mansidão
que o siso acompanha;
bem parece estranha,
mas bárbora não.
Presença serena
que a tormenta amansa;
nela enfim descansa
toda a minha pena.
Esta é a cativa
que me tem cativo,
e, pois nela vivo,
é força que viva.
Nesse poema, Camões utiliza-se de versos compostos por cinco síladas, caracterizando-os como redondilhas menores.
- Veja a marcação das sete sílabas poéticas.
XXXVIII
Glosa a este moto alheio:
Sem/ vós/ e/ com/ meu/ cui/da/do
o/lhai/ com/ quem/, e/ sem/ quem/.
A/mor/, cu/ja/ pro/vi/dên/cia
foi/ sem/pre/ que/ não/ e/rra/sse,
por/que/ n'al/ma/ vos/ le/va/sse,
res/pei/tan/do o/ mal/ de au/sên/cia
quis/ que em/ vós/ me/ trans/for/ma/sse.
E vendo-me ir maltratado,
eu e meu cuidado sós,
proveio nisso, de atentado,
por não me ausentar de vós,
sem vós e com meu cuidado.
Mas est'alma que eu trazia
porque vós nela morais,
deixa-me cego, e sem guia;
que há por milhor companhia
ficar onde vós ficais.
Assi me vou de meu bem
onde quer a forte estrela,
sem alma, que em si vos tem,
co mal de viver sem ela:
olhai com quem, e sem que
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Nesse outro, o poeta utiliza-se de versos compostos por sete sílabas poéticas, caracterizando-os como redondilhas maiores.
FIQUE ATENTO! Sílabas poéticas ou métricas não são o mesmo que sílabas gramaticais. Para fazer a métrica do verso é necessário estar atento às seguintes regras:
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a contagem é realizada somente até a última sílaba tônica da última palavra de cada verso;
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a contagem é reiniciada em cada verso;
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não se considera as pontuações;
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se uma palavra terminar em uma vogal átona e a palavra seguinte for iniciada também por vogal átona, a junção dessas duas sílabas representará apenas uma sílaba métrica;
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os hiatos podem se transformar em ditongos ou vice e versa;
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quando uma sílaba terminar em M e a seguinte em uma vogal, pode ocorrer o desaparecimento da consoante.
Veja um exemplo da diferença entre Sílabas poéticas e Sílabas gramaticais nos versos de Camões:
Amor é fogo que arde sem se ver.
é ferida que dói e não se sente
Temos o primeiro verso com onze sílabas gramaticais, mas apenas dez sílabas poéticas, e o segundo verso com doze sílabas gramaticais, mas também dez sílabas poéticas, ou seja são versos decassílabos.
Por Mariana Rigonatto
Graduada em Letras