Inteligência Artificial e GPT-3: avanços e desafios das tecnologias na educação
Inteligência Artificial e GPT-3: avanços e desafios das tecnologias na educação
Conheça mais sobre a Inteligência Artificial (IA), machine learning e o modelo GPT-3. Especialistas comentam os desafios da IA no campo da educação.
Em 23/01/2023 15h16
, atualizado em 26/01/2023 09h18
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A inteligência artificial (IA) tem cada vez mais ganhado espaço na vida humana. Novas tecnologias desse campo demonstram capacidades que anos atrás não eram possíveis.
Uma das ferramentas de IA que chama atenção pelo seu potencial é o Generative Pre-trained Transformer (GPT), um algoritmo capaz de gerar diversos tipos de informação e responder questões diferentes de muitas áreas.
O modelo GPT-3 é capaz de escrever textos que podem ser confundidos com produções textuais feitas por seres humanos.
O que é Inteligência Artificial?
A inteligência artificial pode ser definida como a capacidade de uma máquina realizar determinada tarefa considerada inteligente.
Isso quer dizer que para executar essa tarefa é necessário analisar uma informação e tomar uma decisão a respeito dessa informação, conceitua o professor Dr. Anderson Soares, coordenador do curso de Inteligência Artificial da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Dentro do universo da IA existe o machine learning. Nele ocorre um processo de aprendizado a partir de dados. O professor Anderson exemplifica: para ensinar à máquina o que é um cachorro, é preciso mostrar a ela uma diversidade de imagens que representam os cachorros.
O modelo GPT-3
Segundo Anderson Soares, uma das principais funções das ferramentas de inteligência artificial até então era classificar objetos. Com o modelo GPT-3, foi possível gerar e produzir informação a partir de um algoritmo.
O professor Dr. Paulo Boa Sorte, da Universidade Federal de Sergipe (UFS), explica o que é o GPT e como ele funciona no vídeo abaixo:
A empresa responsável pelo GPT é a OpenAI que tem como proprietário Elon Musk. Ela é uma organização de pesquisa em inteligência artificial dos Estados Unidos.
Existêm três versões do GPT. A primeira foi lançada em 2008, a segunda em 2019 e a terceira em 2020.
O GPT-3, versão mais recente, conta com a utilização de 175 bilhões de parâmetros em sua estrutura de programação. A segunda versão contava com 1,5 bilhão de parâmetros.
Esses parâmetros possui relação com as variáveis na programação, explica o professor Paulo. "Para a máquina aprender o que é uma maçã, por exemplo, ela precisa ser ensinada sobre todas as possibilidades, tais como a maçã vermelha e a maçã verde. Essas variáveis têm relação com os parâmetros de aprendizagem de máquina na inteligência artificial", conta o educador.
Para se ter uma ideia o cérebro humano possui a capacidade de realizar 100 trilhões de sinapses, o que representa um potencial 570 vezes superior ao modelo GPT-3.
Essas ferramentas tem avançado de forma exponencial. Especialistas apontam que em alguns anos podem chegar ao potencial do cérebro humano ou mesmo ultrapassá-lo.
Confira algumas funcionalidades do GPT-3:
Escrever textos completos sobre temas diversos;
Escrever poesias e músicas;
Criar interfaces;
Escrever e-mails;
Programar;
Traduzir textos;
Responder a questões como "por que os pães costumam ser fofos?"
O ChatGPT, lançado em novembro de 2022, "funciona como um robô que interage de forma bastante ágil sobre os mais diversos temas, soando mais humano", explica Paulo.
"O GPT-3 apresenta uma nova dimensão ao universo dos algoritmos de escrita, pois abrange uma variedade de gêneros textuais e vocabulários, graças a um banco de dados de escala ampliada. Além disso, o algoritmo traz a possibilidade de referenciação de citações, o que demanda, assim como em qualquer produção acadêmica, várias reflexões e enorme cautela" - Prof. Dr. Paulo Boa Sorte.
O desenvolvimento e o aprimoramento de tecnologias de inteligência artificial são fatores que atravessam a realidade humana, e consequentemente o campo da educação.
O professor Dr. Paulo Boa Sorte coordena o grupo de pesquisa TECLA (Tecnologias, Educação e Linguística Aplicada) na UFS.
Paulo relata que nas pesquisas desenvolvidas neste grupo, tem-se constatado que o GPT "nos faz repensar conceitos como criatividade, propriedade intelectual e autoria".
"Cabe perguntar, nesse sentido, a quem pertencem esses textos e em que contextos seríamos autorizados a utilizar modelos algorítmicos capazes de produzir textos literários, acadêmicos, manuais de funcionamento, dentre outros." - Prof. Dr. Paulo Boa Sorte
Segundo Paulo, várias discussões já vêm sendo geradas e é preciso de espaço para debate em sua perspectiva. "Precisamos, mais do que nunca, falar sobre plágio, direitos autorais e acesso a bens culturais", reforça.
Entre os pontos positivos do GPT-3, Paulo menciona a realização de tarefas específicas como é caso da tradução. Quanto aos pontos negativos, "o grande desafio envolve questões éticas, especialmente quando se fala em plágio e a disseminação de fake news. Como os dados são coletados do que está presente na rede, os algoritmos podem reproduzir conteúdos racistas, sexistas, LGBTfóbicos, antiéticos, e por aí vai", argumenta.
A implementação da IA no universo da educação ainda é tímida, clássica e conservadora, de acordo com Anderson Soares.
O professor Anderson considera que a era do ensino conteúdista já estava ameaçada com o advento das tecnologias digitais. Na sua perspectiva, o papel dos educadores serão redefinidos de acordo com a realidade, como um facilitador, um inspirador. Ele acredita que haverá uma mudança significativa da relação de professor-aluno.
"Como qualquer ferramenta, isso pode ser usado para o bem e para o mal. É necessário se preparar para a era em que o público em geral terá acesso a ferramentas de clonagem de voz, sintetização de fotos, vídeos artificiais. A sociedade deve ser mais educada e treinada quanto à desinformação e uso das tecnologias e a ter um pensamento crítico mais elaborado a respeito daquilo que chega até a elas."
Professor Dr. Anderson Soares.
Quanto às contribuições das tecnologias em IA no processo de ensino e aprendizagem, o professor Paulo Boa Sorte destaca:
"Para o professor, posso citar a automação de processos burocráticos como uma grande contribuição. Nós passaremos menos tempo cuidando de aspectos burocráticos da escola e poderemos nos dedicar ao que realmente importa, como a preparação das aulas, atenção aos alunos e suas possíveis dificuldades de aprendizagem."
Para o aluno, temos algumas tendências, como as realidades virtual, aumentada e mista (outro projeto que o meu grupo desenvolve com professores da rede estadual de Sergipe), computação em nuvem ou gamificação."
Prof. Dr. Paulo Boa Sorte
O pesquisador da UFS pondera que na realidade brasileira se tem dois grandes desafios na implementação da IA nas escolas.
O acesso aos recursos e materiais. Quanto a este primeiro, ele considera que já se tem avanços, pois há iniciativas do poder público em tecnologias, tais como os programas ProInfo e UCA (Um Computador por Aluno).
O outro desafio, que é mais difícil de superar na opinião de Paulo, é a formação de professores para trabalhar com essas tecnologias. "De nada adianta equipar as escolas e não oferecer uma formação para além da técnica. De nada adianta transferir para a tela aquilo que, facilmente, se pode fazer com papel e caneta. A maneira como conduzimos as atividades de ensino durante a pandemia é prova disso", diz o educador.
Paulo Boa Sorte afirma que é preciso ter em mente que as tecnologias de IA, como o GPT e o ChatGPT, são máquinas que "todos os dados entregues por elas são dados que já existem e foram lançados por nós nas redes. Isso significa que não há como a máquina pensar coisas novas, fazer perguntas ou realizar descobertas".
Nesse sentido, a IA não inova como as inicitiavas científicas protagonizadas por pesquisadoras e pesquisadores em universidades e institutos de pesquisa, defende o professor.
"Na educação, só avançaremos quando fizermos perguntas. Já diz o velho ditado: as perguntas é que movem o mundo, e acho que estamos muito distantes de ver a IA fazer isso", conclui Paulo.
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