13 de maio: entenda a relação dos Pretos Velhos com a medicina
13 de maio: entenda a relação dos Pretos Velhos com a medicina
Entenda mais sobre o uso das ervas medicinais nos cultos de matriz africana
Em 13/05/2024 08h08
, atualizado em 13/05/2024 08h08
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13 de maio é o Dia dos Pretos Velhos, entidades cultuada em religiões de matriz-africana. São figuras ancestrais que trazem as memórias de seres humanos escravizados que, apesar das mazelas da escravidão, viveram até alcançar uma idade avançada.
Trazem ensinamentos, conselhos e rituais para quem pede por ajuda. Com importância cultural, possuem muitas intersecções com a história brasileira, alguns destes pontos de encontro se dão na linguagem e na medicina.
Para explorar e compreender melhor a relação dos Pretos Velhos com a medicina, conversamos com Marcelo Máximo, um dos autores do livro: "As ervas medicinais na umbanda nos cultos de Preto Velho". Ele possui 3 doutorados, um deles em Ciência da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO).
Antes de entrar na relação propriamente dita dos Pretos Velhos com a medicina, começamos tentando entender, no ponto de vista do professor, quem são estas figuras. Ele nos explica que são personalidades bem marcantes nas religiões de matriz-africana.
De acordo com o professor, cada um olha para eles conforme a aproximação que têm. Mas, ele costuma dizer que são entidades muito respeitadas e veneradas, pois, representam espíritos ancestrais africanos que demonstram muita sabedoria, humildade, amor incondicional e auxílio.
Marcelo também diz que, além dos aconselhamentos e orientações, muitas pessoas os buscam atrás de cura.
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Ervas medicinais e os Pretos Velhos
Questionamos o professor se há pontos de encontro entre as tradições de cura dos Pretos Velhos e a Medicina Tradicional. Ele explicou que a medicina, a ciência de uma forma geral, têm se aproximado, cada vez mais, de métodos alternativos para acompanhar os tratamentos.
O professor cita como exemplo, grupos de oração, os palhaços da alegria, grupos musicais e diz que com as ervas, a relação não é diferente. Ele explica que as ervas possuem princípios ativos que são os mesmos que os utilizados em alguns medicamentos.
Marcelo também diz que pessoas que buscam tratamentos com os Pretos Velhos vão devido à fé que possuem. O pesquisador diz que, dentro da sua tradição, para cada pessoa que pede ajuda para um Preto Velho, há certas recomendações de ervas, de chás e orações específicas para se fazer. Ele diz:
“Essas ervas possuem toda uma logística, tem o horário da colheita, tem o preparo, tem o tipo de ervas”
Por fim, ele diz que o processo que traz as ervas para dentro desse espaço de cura é a fé. Ele afirma:
“Eu fico feliz em saber que, hoje, nós temos vários contextos médicos abrindo seus espaços e acolhendo com bons olhos essa questão do culto as ervas da umbanda e de outras religiões afro e indígenas”
13 de maio e as lições dos Pretos Velhos
Por fim, questionamos o professor os significados do dia 13 de maio. Também perguntamos quais ensinamentos, no ponto de vista do pesquisador, a cultura dos Pretos Velhos têm para os desafios da contemporaneidade.
Marcelo diz que é um dia para homenagear os negros que foram escravizados e que, de alguma forma, mantiveram uma conexão com quem vive no tempo presente, através da cultura e dos valores africanos. Ele diz que é uma data que remete a necessidade de luta constante, de resistência do povo negro contra a opressão histórica vivida até os dias atuais, por meio dos casos de racismo e intolerância religiosa.
Ele diz:
“É o momento de dar continuidade a uma trajetória que não começa agora, se nós temos vitórias dentro das questões raciais no Brasil, étnico-raciais no Brasil, é porque, lá atrás, outras pessoas lutaram, né?
Então, o 13 de maio é um dia que nos leva a refletir sobre as lutas que travamos no passado e a necessidade de lutas que ainda temos pela frente. É um momento da gente refletir sobre os corpos negros que já estiveram no chão, nos troncos e vislumbrar a possibilidade de pensar, hoje, os corpos negros em espaços que até então eles não eram pensados. É momento de resistência, de representação, é momento de pensar na luta”
Sobre os ensinamentos dos Pretos Velhos ele diz o que aprendeu nas experiências que teve com essas figuras:
“Eu penso, hoje, que os Pretos Velhos me ajudam a ser justo, me ajudam a viver minha fé, me ajudam a reconhecer no outro o ser humano o que ele é, eles me ajudam a perdoar, me ajudam a ver natureza com respeito, me ajudam a ser melhor a cada dia”