PUBLICIDADE
Não podemos falar sobre Manuel Bandeira sem antes recordarmos o que foi o Modernismo Brasileiro. Este período literário eclodiu com a Revolução Industrial (século XX), pois a mesma foi fruto de uma grande revolução: a Revolução de 30, onde Getúlio Vargas sobe ao poder e a burguesia industrial define um novo rumo para a economia do país, que foi a industrialização.
Com isso, a arte e a cultura também sofreram influências, fazendo com que seus seguidores abrissem caminhos para novas transformações sociais e lutassem por uma literatura genuinamente nacional, baseada na absoluta liberdade de criação.
Os autores que fizeram parte da era modernista tinham como objetivo resgatar as origens culturais, até então alicerçadas nos moldes importados.
Foi então que, em 1922, aconteceu a Semana de Arte Moderna, na qual vários artistas, como escritores, pintores, artistas plásticos, entre outros, expuseram suas criações, todas reunidas em torno de um só objetivo: o rompimento com os modelos conservadores antes difundidos.
Apesar de Manuel Bandeira não ter participado deste evento, contribuiu para a Revista Klaxon, uma das revistas baseadas em ideias revolucionárias perante a situação política que dominava o país naquela época, como também propagadora dos ideais modernistas em voga.
Foi também autor de várias poesias e de textos em prosa como Ritmo Absoluto, contribuindo também para vários jornais e traduzindo peças teatrais.
Analisaremos, pois, uma poesia do referido poeta enfatizando as características modernistas:
Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
Manuel Bandeira
Podemos perceber uma crítica acentuada no que se refere ao lirismo exagerado, tanto pregado pelos autores do Romantismo, pois os mesmos abusavam deste instinto melancólico como forma de fugir da realidade.
Critica também os parnasianos, que tanto se prenderam ao vernaculismo e às formas fixas de expressão, como os sonetos. Já o Modernismo valorizava a liberdade de expressão e o uso dos versos livres, inclusive no próprio poema há o predomínio dos mesmos.
E, por último, notamos uma aproximação entre a língua falada e escrita, exprimindo certo coloquialismo, que também era uma característica da estética em estudo.
Por Vânia Duarte
Graduada em Letras