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O genocídio cambojano foi promovido durante os anos em que o Khmer Vermelho esteve no poder no Camboja. Entre 1975 e 1979, o governo liderado por Pol Pot impôs uma utopia agrária que forçou o esvaziamento das cidades e levou à criação de fazendas comunitárias onde a população cambojana era obrigada a trabalhar em condições precárias. Durante os anos do governo de Pol Pot, minorias étnicas sofreram forte perseguição e milhares de pessoas foram mortas.
Governo de Pol Pot
Desde 1960, Pol Pot (seu nome verdadeiro era Saloth Sar) liderava o Partido Comunista de Kampuchea, também conhecido como Khmer Vermelho. Ele inspirava-se em um modelo de comunismo chinês (conhecido como comunismo maoísta) e defendia a ideia de que o trabalhador camponês seria a base da revolução no Camboja.
A partir de 1970, esse país passou por duas grandes turbulências, e a primeira delas foi a guerra civil, iniciada após o golpe militar liderado por Lon Nol que destituiu Norodom Sihanouk do poder. A segunda grande turbulência desse período aconteceu durante os bombardeios massivos que o Camboja sofreu dos Estados Unidos, como um desdobramento da Guerra do Vietnã.
Esses bombardeios norte-americanos, principalmente, foram utilizados pelo Khmer Vermelho como argumento para mobilizar a população em prol de sua causa. Assim, esse partido fortaleceu-se e, após anos de luta, venceu a guerra civil ao tomar a capital Phnom Penh em 1975. A partir do momento em que subiu ao poder, Pol Pot, impôs sua utopia agrária no Camboja.
Essa utopia praticada pelo governo forçou o esvaziamento das cidades, assim como o fechamento de hospitais, monastérios, escolas, indústrias, bibliotecas etc. Além disso, a liberdade de expressão passou a não existir, uma vez que jornais foram fechados em todo o país e famílias inteiras foram desfeitas, com seus membros enviados para diferentes partes do território cambojano.
Genocídio cambojano
Com a instituição das fazendas coletivas de trabalho forçado, milhares de pessoas foram transferidas das cidades para esses locais. Uma vez lá instaladas, essas pessoas eram obrigadas a trabalhar em uma carga diária pesadíssima. Muitas dessas pessoas morreram nesses locais em decorrência do excesso de trabalho, maus-tratos, falta de alimentação ou doenças contraídas em razão das péssimas condições de vida.
O Camboja foi colocado por Pol Pot em um intenso isolamento a partir do fechamento das fronteiras e das embaixadas estrangeiras. Além disso, qualquer tipo de influência estrangeira passou a ser perseguida. Assim, pessoas que demonstrassem sinais de ter recebido educação francesa ou usassem óculos, por exemplo, eram consideradas inimigas pelo Khmer Vermelho e prontamente presas e executadas.
Internamente, no próprio partido, houve intensa perseguição contra membros considerados “suspeitos”. Eram perseguidos os membros suspeitos de simpatizar com os comunistas vietnamitas do Viet Minh Khmer. Mesmo antes de assumir o poder, cerca de 900 integrantes do Khmer Vermelho já haviam sido presos pelo comitê central do Camboja.
Além dos campos de trabalhos forçados e da perseguição interna a membros do partido, Pol Pot impôs uma intensa perseguição a inúmeras minorias étnicas e religiosas existentes no país. Todas as minorias existentes no Camboja formavam cerca de 15% da população, no entanto, o governo cambojano passou a negar a existência delas e declarou que elas representavam apenas 1% da população do país|1|.
As minorias que mais sofreram perseguição no Camboja foram os vietnamitas, os chineses e os cham. Estima-se que cerca de 10 mil vietnamitas, 200 mil chineses e 90 mil cham tenham morrido vítimas da perseguição promovida pelo governo de Pol Pot. Outras minorias perseguidas foram tailandeses, laosianos e kolas. Além disso, o governo expulsou cerca de 100 mil vietnamitas do país.
Principalmente no caso dos cham, a perseguição foi intensa. Eles eram adeptos do islamismo e foram proibidos de poder praticar sua religião, bem como de falar seu dialeto e vestir seus trajes típicos. A perseguição do governo cambojano aos cham levou ao esvaziamento de mais de 100 vilas habitadas por eles.
Ao longo de quatro anos, a violência conduzida pelo governo de Pol Pot no Camboja, seja nos campos de trabalhos forçados ou não, levou a um número assustador de mortos, que variava de 1,5 milhão até 2,5 milhões de acordo com as diferentes estatísticas. A tirania de Pol Pot só teve fim em 1979, quando a invasão do país pelo exército vietnamita forçou a derrubada do seu governo. A partir disso, ele viveu em isolamento junto de guerrilheiros do Khmer Vermelho nas matas do Camboja. Pol Pot morreu em 1998, supostamente vitimado por um ataque cardíaco.
|1| KIERNAN, Ben. The Cambodian Genocide, 1975-1979. Disponível aqui.
*Créditos da imagem: Akturer e Shutterstock
Por Daniel Neves
Graduado em História