PUBLICIDADE
O fracasso vivido na Terceira e na Quarta Cruzada marcou uma grave crise no projeto que defendia a hegemonia cristã na Terra Santa. Mesmo com a derrota, o papa Inocêncio III realizou diversas pregações em favor de outras mobilizações militares contra os que ameaçavam a hegemonia cristã pelo mundo. Em seu mandato, incentivou a cruzada contra os albigenses, a organização de outra formação militar cristã na Espanha e uma nova cruzada pelo Oriente, em 1215, no IV Concílio de Latrão.
Morrendo em 1216, o papa não presenciou o desenvolvimento da Quinta Cruzada. O responsável por tal feito acabou sendo seu sucessor, Honório III, que enviou diversas cartas aos nobres e monarcas da Europa em favor de um novo conflito. O novo apelo acabou gerando poucas adesões, se destacando apenas pela formação de exércitos liderados por barões franceses e alemães. Formado o exército, os novos cruzados reuniram-se na Itália, em 1217.
Em abril de 1218, os cruzados se encontravam na região de São João D’Acre, de onde partiriam para o conflito direto com os muçulmanos. Nesse instante, as lideranças militares reunidas decidiram atar o Egito, ponto estratégico e fundamental para que a reconquista de Jerusalém se tornasse em um próximo passo viável no projeto dos exércitos cristãos. No mês seguinte à chegada, os cruzados partiram para o Egito.
O primeiro ataque foi imposto contra Damietta, uma cidade que poderia oferecer acesso ao Cairo, o grande objetivo militar dos exércitos que ali se encontravam. Após os primeiros confrontos, os cristãos se animaram com a idade avançada de Al-Kamil, sultão que controlava o Egito, e a chegada de novas tropas que seriam lideradas pela figura do cardeal Pelágio, um representante espiritual direto do papa no campo de batalha.
Nas primeiras batalhas que marcaram a conquista de Damietta, vemos que os exércitos cristãos bateram com eficácia as tropas do sultão, que acabaram preferindo reforçar a sua defesa e, assim, retardar ao máximo o avanço cristão. Apesar dos esforços, a traição de um dos emires que apoiavam Al-Kamil e a consequente fuga do sultão para o Cairo incentivaram os exércitos cristãos em novos ataques que determinariam a conquista de todo o território egípcio.
Observando a situação desfavorável, os egípcios ofereceram uma boa parte do território de Jerusalém para que o conflito chegasse ao fim. Entretanto, o cardeal Pelágio recusou a oferta esperando que a chegada de novos reforços pudesse estender a conquista cristã por outros territórios não antes almejados. Apesar das inúmeras baixas, o avanço poderia oferecer uma saída para o Nilo que acelerasse a conquista da capital. Entretanto, a seca do Rio Nilo impediu que a vitória fosse consumada.
Apesar dessa contingência, os cristãos acabaram conquistando uma cidade cercada pela fome e pela miséria. Assim que a estratégica cidade de Damietta estivesse nas mãos, tudo levava a crer que a cruzada seria um sucesso. No entanto, a conquista da cidade acabou não sendo destinada a nenhum dos barões, e o avanço até ao Cairo acabou sendo retardado em virtude da ausência de uma grande autoridade militar que pudesse resolver as questões práticas que o cardeal Pelágio não conseguia resolver.
Mediante a indecisão dos exércitos cristãos, os árabes conseguiram se reorganizar a fim de impedir o avanço dos exércitos cristãos. No momento em que os conflitos começaram, os árabes se valeram da abertura de vários canais que inundaram o caminho dos exércitos cristãos durante a cheia do Rio Nilo. Ironicamente, o curso de água que sustentava a riqueza daquela região foi o mesmo responsável por desorganizar a formação militar dos cristãos.
Desnorteados e quase sem nenhum tipo de mantimento, os exércitos europeus resolveram bater em retirada e promover uma negociação com o sultão Al-Kamil. Mediante as negociações acabou sendo definida a saída pacífica dos cristãos de todo o território egípcio e a assinatura de uma trégua de oito anos. Por fim, a derrota na Quinta Cruzada, em 1221, acabou sendo decepcionante, já que os árabes chegaram a oferecer Jerusalém, o grande objetivo da investida, para que o Egito fosse salvo.
Por Rainer Sousa
Mestre em História