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Após a Segunda Guerra Mundial, o processo de bipolarização política e ideológica entre as nações do mundo construiu um cenário marcado por fortes tensões. Capitalistas e comunistas realizavam aparições públicas que, vez em quando, afirmavam a supremacia de seus regimes e o poderio militar de suas nações aliadas. Nesse último aspecto, a famosa corrida nuclear mostrou ao mundo que, pela primeira vez, a humanidade criara condições para determinar o fim do mundo.
A primeira trama deste jogo aconteceu em 1945, quando as tropas norte-americanas destruíram as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. Quatro anos mais tarde, os soviéticos responderam a tal feito com a organização de uma série de testes nucleares no Deserto do Cazaquistão. Logo em seguida, em 1952, os norte-americanos deram uma pavorosa resposta com o desenvolvimento da bomba de hidrogênio. Alguns anos depois, os soviéticos anunciaram o conhecimento dessa mesma tecnologia.
O domínio dessas armas fez com que a ameaça da Terceira Guerra Mundial fosse plausível para muitos civis, militares e governantes da época. Somente hoje, a liberação de arquivos daqueles tempos nos revela como a disputa nuclear interferiu nas ações dos governos espalhados pelo mundo. A esse respeito, historiadores revelaram há pouco tempo informações inéditas sobre as precauções adotadas pela Inglaterra caso um conflito nuclear acontecesse.
Por meio de um manual ultrassecreto, chamado “Livro de Guerra”, os funcionários do alto escalão recebiam treinamento regular sobre os procedimentos a serem tomados nessa situação extrema. Segundo a obra, composta por dezesseis capítulos, a Inglaterra seria dividida em doze regiões coordenadas por um governo local. Para que a administração não fosse atingida, uma série de bunkers foi construída para abrigar os principais dirigentes da nação.
Antevendo uma série de minúcias sobre a guerra nuclear, essa macabra obra realizava uma projeção sobre as estratégias de ataque que seriam organizadas pelas nações socialistas. Não se limitando a essas orientações, a rádio estatal BBC elaborou várias locuções que anunciariam a toda população que o país era alvo de um ataque nuclear. Além de pedir calma aos civis, a mesma mensagem orientava para que as famílias permanecessem em casa e estocassem alimentos.
Caso essas medidas de contenção não surtissem o efeito esperado, o governo britânico se voltaria para a execução da “Hora R”. Esse seria o momento em que os ingleses acionariam o seu arsenal nuclear contra as tropas inimigas em uma ação desesperada de conter a eminente derrota. Para se ter uma noção de como esse plano era levado a sério, fontes atestam que as orientações do “Livro de Guerra” foram treinadas e analisadas até a década de 1990.
Por Rainer Sousa
Graduado em História