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A Guerra Civil russa, ocorrida entre 1918 e 1921, representou a vitória das forças bolcheviques sobre seus oponentes e o início da construção do Estado soviético. Mas as ações bélicas não ocorreram apenas entre as forças do Exército Vermelho, liderado pelos bolcheviques, contra o grupo de generais e outros oficiais czaristas, organizadas em torno do Exército Branco. Houve também na Ucrânia uma terceira força, composta principalmente pelas forças militares lideradas pelo anarquista Nestor Makhno, que ficou conhecida como exército negro em virtude da cor de suas bandeiras.
Nestor Makhno havia organizado essas forças militares após a formação dos sovietes da aldeia de Guliai-Pole, onde ele habitava antes de ser preso pela polícia do czar, em decorrência de suas ações contra o regime czarista. A adesão dos camponeses era realizada de forma voluntária e se dava em torno do Comitê Revolucionário de Guliai-Pole e também da cidade de Ekatarinoslav. Posteriormente, esses grupos também ficaram conhecidos como exército makhnovista, em face da liderança de Nestor Makhno.
A história do exército makhnovista esteve ligada também à sua ação conjunta ao exército vermelho, comandado pelo partido bolchevique. Essa ação conjunta foi necessária para enfrentar um inimigo comum à revolução, representado pelo exército branco. Mas foi também permeada de divergências. Uma delas dizia respeito à forma de estímulo à participação nos exércitos. Para os bolcheviques, a entrada no exército vermelho deveria se dar através do alistamento compulsório, o que para Makhno era apontado como uma forma autoritária de formação militar. A adesão ao exército makhnovista deveria se dar de forma voluntária, o que estimularia uma dedicação maior à causa revolucionária.
Mas Makhno não pretendia formar um exército descentralizado. Ele defendia a formação de um Estado-maior com o intuito de unificar de forma federada os vários grupos formados localmente. Porém, adotava-se internamente o princípio da eletividade para se ocupar os cargos hierárquicos. Essa forma de organização representava um antagonismo com o exército vermelho, que não previa a eleição de seus oficiais. Essa divergência apontava também diferenças na forma de entender a participação de camponeses e operários no processo revolucionário.
Apesar das divergências, houve unidade de ação em alguns momentos. Em 1919, os dois exércitos lutaram juntos contra as tropas comandadas pelo general Denikin, uma das principais lideranças da contrarrevolução no lado ocidental. Mesmo durante as batalhas contra as tropas de Denikin, o governo bolchevique colocou o exército makhnovista na ilegalidade e passou a persegui-lo com o exército vermelho. O motivo teria sido o convite feito pelas tropas de Makhno diretamente aos soldados do exército vermelho para a participação de um Congresso Camponês em Guliai-Pole. Essa ação teria incomodado o comando hierárquico do exército vermelho, levando o governo bolchevique a decretar a ilegalidade do exército anarquista. Sob o comando de Trotsky, foi ordenada a retirada do exército negro da Ucrânia, uma ordem que não foi obedecida.
Essa situação durou alguns meses até uma nova investida das tropas do exército branco, agora comandadas pelo barão Wrangel, em 1920. A necessidade de enfrentar o inimigo comum levou bolcheviques e makhnovistas a se unirem novamente. A ação do exército makhnovista foi de extrema importância para impedir que as tropas do general Wrangel chegassem até Moscou. Na primavera de 1920, o exército branco era derrotado no Sul do antigo Império Russo.
O desfecho da relação entre tropas com as bandeiras negras e vermelhas ocorreria logo após a vitória, quando sobre o pretexto de se debater conjuntamente ações militares, foi convocado um congresso na Crimeia. Quando ocorria o encontro, as tropas de Makhno foram atacadas e a grande maioria de seus membros foi fuzilada. Nestor Makhno conseguiu resistir ainda por nove meses, sendo que após este período teve que fugir para a Romênia, para não ser pego pelo exército vermelho.
Por Tales Pinto
Graduado em História