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O pintor paraibano Pedro Américo, nascido no município de Areia, em 1843, e morto em Florença, Itália, em 1905, foi um dos maiores gênios da pintura brasileira. Recebeu formação clássica e desenvolveu sua obra no contexto da grande leva do romantismo, na qual predominavam os temas heroicos e nacionais. Pedro Américo era muito arguto em suas composições pictóricas e esmerava-se em fazer pesquisas históricas para desenvolvê-las. Um dos exemplos mais notáveis foi o quadro “A Batalha do Avaí”, de 1877.
O quadro “A batalha do Avaí” retrata o acontecimento homônimo ocorrido nove anos antes de Pedro Américo o pintar, isto é, em 11 de dezembro de 1868. Essa foi uma das principais batalhas travadas na Guerra do Paraguai e estavam presentes ícones da história militar brasileira, como Duque de Caxias e o General Osório. O quadro vincula-se ao gênero dos “quadros guerreiros” ou “pinturas heroicas” e, por isso mesmo, tinha o propósito de enaltecer os heróis nacionais que estiveram na Guerra do Paraguai. Entretanto, Pedro Américo não elaborou sua obra sob o formato de um nacionalismo simplista; pelo contrário, introduziu na imensa tela de cinquenta metros quadrados uma interpretação que diluía as figuras heroicas em um todo quase apocalíptico.
A visão de Pedro Américo sobre a guerra e, em especial, sobre a batalha que deu título ao quadro não tomou partido da nação e dos militares. Trata-se de uma obra que procurou evidenciar o horror da violência perpetrado por todos os lados envolvidos, fossem brasileiros, paraguaios, argentinos ou uruguaios. O quadro sugere uma espécie de espiral sangrenta, na qual cada detalhe exprime alguma expressão de desespero, dor, ódio etc.
Outros detalhes, como a posição dos cavalos, a postura dos soldados e dos generais, não remetiam ao exato padrão heroico: imponência, superioridade, bravura etc. Ao contrário, os detalhes revelavam fraqueza, impotência, terror. Até mesmo o aspecto das vestimentas foi representado de forma heterodoxa, com sujeiras, rasgos, sangue e outros elementos. Diz-se que Duque de Caxias, quando viu o quadro em que era representado com trajes sujos, reprovou Pedro Américo.
Ademais, a espiral de violência, à qual nos referimos acima, poder ser percebida pelo movimento que faz a fumaça do armamento, que ascende do solo e forma um movimento circular no céu, como bem diz o pesquisador Jorge Coli:
“Avahy se quer, evidentemente, mais do que ilustração de uma batalha. A tela encarna a guerra, os homens desvairados na luta. Ela o faz por um caráter paroxístico. Ao invés de esvaziar, a obra satura a grande superfície de excessos furiosos, dos quais participa toda a natureza, num imenso redemoinho, cujo vórtice é uma estreita abertura para o horizonte. De uma maneira surpreendente, o fluxo desmedido termina por neutralizar o herói. Na peleja violenta, tudo se mistura, tudo é arrebatado pela mesma correnteza. Nada da grande tradição presente no século XIX, quando os quadros guerreiros se organizam para sublinhar os feitos dos protagonistas.” [1]
NOTA:
[1] COLI, Jorge. O sentido da Batalha: Avahy, de Pedro Américo. Proj. História, São Paulo (n°. 24), jun. 2002, p. 116.
Por Me. Cláudio Fernandes